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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Ativistas resgatam cães de laboratório de testes em São Roque (SP)

Fonte: www1.folha.uol.com.br
18/10/2013 - 02h36

Ativistas resgatam cães de laboratório de testes em São Roque (SP)

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MARTHA ALVES
DE SÃO PAULO

Atualizado às 11h43.
Um grupo de ao menos cem ativistas invadiu e resgatou cães da raça beagle do Instituto Royal, no Jardim Cardoso, em São Roque (a 66 km de São Paulo), por volta das 2h desta sexta-feira. Os ativistas protestam contra o uso de cães da raça em testes feitos pelo instituto que trabalha para farmacêuticas.
O instituto foi procurado, porém até o momento ninguém se manifestou a respeito.No ano passado, o instituto Royal disse que segue todos os protocolos nacionais e internacionais voltados para pesquisas com animais em laboratórios. A empresa também negou que houvesse maus-tratos aos animais (leia mais abaixo).
Os ativistas arrombaram gaiolas e resgataram cerca de 200 cachorros da raça beagle, que foram levados em carros a clínicas veterinárias particulares da região. Segundo a ativista Giuliana Stefanini, seis destes cachorros tinham tumores e estavam mutilados. " O que mais chocou o grupo foi um beagle sem os olhos", disse Giuliana.
No laboratório, os manifestantes também encontraram vários fetos de ratos e um cachorro congelado em nitrogênio líquido.

Ativistas resgatam cães em São Roque (SP)


Avener Prado/Folhapress




Sala é encontrada com objetos revirados no Instituto Royal, em São Roque (SP)
O protesto começou por volta das 16h de ontem (17) com cerca de 35 pessoas. Segundo a Guarda Civil Municipal, no período da noite o número de manifestantes começou a aumentar. Por volta das 2h, a GCM contabilizava ao menos 150 pessoas no local, divididas em grupos em frente as duas entradas da clínica.
Os manifestantes alegam que tentaram na tarde de ontem uma reunião com o instituto, que desmarcou em cima da hora. O grupo foi para a frente do laboratório protestar e disse ter ouvido gemidos de animais.
Editoria de arte/Folhapress
Antes da invasão do instituto, alguns ativistas foram à delegacia de São Roque para tentar registrar um boletim de ocorrência de maus tratos contra os animais, mas o delegado não estava no local. Segundo Giuliana, outro grupo foi à casa do juiz de São Roque, que atendeu aos ativistas e chamou a polícia.
Os manifestantes reclamaram que também pediram ajuda a Guardas Municipais e policiais militares, que estavam em frente ao instituto, mas eles não fizeram nada.
Segundo a Guarda Civil Municipal de São Roque, nenhum ativista foi preso. A Polícia Civil de Sorocaba deve fazer a perícia no prédio do instituto nesta sexta-feira.
Em agosto do ano passado, manifestantes de diversas ONGs de proteção aos animais foram a São Roque (SP) protestar contra o instituto. O grupo, formado por cerca de 200 pessoas, fez uma passeata e foi até o portão da empresa, onde quatro seguranças estacionaram o carro em frente ao portão de entrada para evitar arrombamentos.
PESQUISAS
Os cães são usados em pesquisas de medicamentos que serão lançados. O objetivo é verificar a existência de possíveis reações adversas, como vômito, diarreia, perda de coordenação e até convulsões.
Em muitas das pesquisas, os cães acabam sacrificados antes mesmo de completarem um ano, para que se possa avaliar os efeitos dos remédios nos órgãos dos bichos.
Quando isso não é necessário, os cães são colocados para adoção, diz a empresa.
O Instituto Royal, alvo da manifestação, passou a ser investigado pelo Ministério Público de São Paulo, que recebeu denúncias de maus-tratos aos animais.
"Recebemos a denúncia de que esses animais são acondicionados em condições irregulares", afirma Wilson Velasco Jr., promotor do Meio Ambiente em São Roque.
QUESTÃO POLÊMICA
O uso de cães em pesquisas é permitido e regulado por normas internacionais.
Protetores de animais, no entanto, questionam as normas. "As indústrias sequestram a vida dos animais, que nunca mais terão um comportamento normal", diz Vanice Teixeira Orlandi, presidente da União Internacional Protetora dos Animais.
Segundo o vice-diretor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, Francisco Javier Hernandez Blazquez, os cães da raça beagle são os mais utilizados para experimentos no exterior, pois são animais de médio porte e já criados para a pesquisa.
No Brasil, ratos e camundongos são os bichos mais usados em pesquisas feitas em laboratórios.
"Todo e qualquer experimento realizado por docentes e pesquisadores em animais deve passar por uma comissão de ética para analisar se o animal sofrerá e qual a finalidade do projeto", diz.
O protesto, organizado pelo Facebook, já tem cerca de 300 pessoas confirmadas. Um comboio sairá de São Paulo às 9h, do Masp, na avenida Paulista, região central.
OUTRO LADO
Na época, o instituto Royal disse que segue todos os protocolos nacionais e internacionais voltados para pesquisas com animais em laboratórios.
Eles afirmaram que são uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) e que recebem verba de instituições públicas de fomento à pesquisa. O protocolo dos testes é aprovado por essas instituições antes de os estudos começarem.
O instituto disse também que os testes só são feitos nos cães depois de serem realizados em roedores. Por isso, os efeitos adversos apresentados nos beagles não são agudos.
Eles afirmaram que sempre que a reação ao medicamento é constatada, um dos nove veterinários do local intervém.

A etapa da pesquisa em cães é a última antes de o medicamento passar a ser testado em voluntários humanos, de acordo com o Royal, que afirmou que os testes realizados nos cães não podem ser substituídos por técnicas in vitro (sem o uso de animais).
A empresa também negou que houvesse maus-tratos aos animais.

Beagles usados em teste


Danilo Verpa - 17.ago.12/Folhapress




Cão da raça beagle mantido no Instituto Royal, que usa animais em testes de remédio Leia mais


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CEBID - Centro de Estudos em Biodireito

2 comentários:

  1. É sabido que, no Brasil, todo e qualquer experimento realizado em animais deve passar por uma comissão de ética para analizar se o sofrimento causado ao animal é proporcional e justificado para a finalidade da pesquisa. Isso se dá em respeito aos princípios que regem a Bioética – princípio da beneficência e da justiça. Estes são princípios que residem no campo da zetética e que, portanto admitem valoração e ponderação. Segundo o instituto Royal todos estes protocolos nacionais e internacionais, inclusive, voltados para pesquisa com animais foram seguidos. O problema que devemos discutir é então no campo de aplicação do Direito, onde somente normas jurídicas são aceitas. Os princípios do Biodireito nasceram dos princípios da Bioética, mas por estarem no campo da dogmática não aceitam mais valoração. Portanto, não nos cabe mais discutir se são éticas ou não, certas ou não os protocolos aplicados as pesquisas com animais. Relevante aqui é discutir a responsabilidade da empresa que não agiu com precaução, de maneira a evitar os danos que foram causados aos animais. De acordo com um dos princípio do Biodireito, o da Responsabilidade objetiva, a Royal tinha o dever de sendo previsível o dano, ou pelo menos possivel, agir para que ele não ocorresse, sob pena de sofrer sanções do Estado.

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  2. Em nosso país os cães são qualificados como parte do patrimônio daquele que o detém, neste caso, estes cães pertenciam à empresa. O instituto possuía autorização para usar os animais nas pesquisas e pelo que parece seguiam a regulamentação específica para tal. A questão apresentada traz a discussão de um conflito de valores; a importância destas pesquisas para o progresso da ciência atrita-se com a concepção do que seria, uma vida apropriada para estes animais. Estes ativistas levados por um possível desejo de justiça furtaram os cães, com o intuito de salvá-los da morte, entretanto dezenas de cachorros morrem nas ruas todos os dias, centenas de animais chamados "para corte" são sacrificados para o consumo humano e os ratos do instituto, pelo visto, não chamaram a atenção daqueles que o invadiram, qual o motivo de resgatar estes cachorros, se muitos outros animais continuam sendo usados, para saciar determinada necessidade humana? Parece-me que, para os ativistas a função destes cachorros seria a de ter um lar, mas a transferência de uma função para outra, não seria a manutenção de sua subserviência em relação àquele que os possui? A sujeição da existência destes beagles continuaria, eles apenas passariam a exercer a função que seria comum, para um animal de estimação. Certamente, deduzo que os mesmo estejam em uma situação melhor, porém creio que muitos outros questionamentos sobre o assunto devem ser levantados, a questão com este instituto é apenas um exemplo, o judiciário necessita adequar-se para atender estes demandas, manter a postura patrimonialista não seria o mais sensato, diante dos fatos, porém afirmar que estes animais possuem direitos e dignidade própria, seria afirmar que durante séculos nossa espécie vêm violando os mesmos. Algumas industrias já se manifestaram sobre as pesquisas, afirmando que estas ainda são necessárias, talvez, a revisão dos protocolos que regulam tais pesquisas, seja a saída para o impasse.

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