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quinta-feira, 21 de março de 2013

CFM vai apoiar o direito de a mulher abortar até a 12ª semana de gestação


CFM vai apoiar o direito de a mulher abortar até a 12ª semana de gestação

Colegiado vai enviar documento ao Senado sugerindo descriminalização até 3º mês. Proposta avança em relação ao projeto em discussão e libera necessidade de autorização médica

21 de março de 2013 | 2h 03



Lígia Formenti - O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O Conselho Federal de Medicina (CFM) decidiu romper o silêncio e defender a liberação do aborto até a 12.ª semana de gestação. O colegiado vai enviar à comissão do Senado que cuida da reforma do Código Penal um documento sugerindo que a interrupção da gravidez até o terceiro mês seja permitida, a exemplo do que já ocorre nos casos de risco à saúde da gestante ou quando a gravidez é resultante de estupro.

Roberto D’Ávila: ‘Seria ótimo que as decisões fossem adotadas de acordo com o que a sociedade quer’ - ABR
ABR
Roberto D’Ávila: ‘Seria ótimo que as decisões fossem adotadas de acordo com o que a sociedade quer’
O gesto tem um claro significado político. "Queremos deflagrar uma nova discussão sobre o assunto e esperamos que outros setores da sociedade se juntem a nós", afirmou o presidente do CFM, Roberto D'Ávila. A entidade nunca havia se manifestado sobre o aborto.
A movimentação em torno do tema vem perdendo força nos últimos anos, fruto sobretudo de um compromisso feito pela presidente Dilma Rousseff com setores religiosos, ainda durante a campanha eleitoral. Diante da polêmica e das pressões sofridas de grupos contrários à legalização do aborto, a então candidata amenizou o discurso e se comprometeu a não adotar nenhuma medida para incentivar novas regras durante seu governo.
O comportamento da secretária de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci, é um exemplo do quanto o compromisso vem sendo seguido à risca. Conhecida por ser favorável ao aborto, em sua primeira entrevista depois da posse ela avisou: sua posição pessoal sobre o assunto não vinha mais ao caso. "O que importa é a posição do governo", disse ela, na época.
A decisão da entidade foi formalizada ontem, dia em que Dilma Rousseff se encontrou com o papa Francisco, em Roma.
Por enquanto, não há sinais de que uma nova onda de manifestos favoráveis possa mudar a estratégia do governo. O Ministério da Saúde disse que a discussão do tema cabe ao Congresso. A ministra Eleonora, por sua vez, afirmou que não se manifestaria.
"Não podemos deixar que esse assunto vire um tabu. O País precisa avançar", afirmou D'Ávila. Ele argumenta que mulheres sempre recorreram ao aborto, sendo ele crime ou não. Para o conselho, a situação atual cria duas realidades: mulheres com melhores condições econômicas buscam locais seguros para fazer a interrupção da gravidez. As que não têm recursos recorrem a locais inseguros. "Basta ver o alto índice de morte de mulheres por complicações. Não precisa ser assim." O aborto é a quinta causa de morte entre mulheres - são 200 mil por ano.
O CFM sustenta que a mulher tem autonomia para decidir. "E essas escolhas têm de ser respeitadas." A proposta do CFM avança em relação ao texto da comissão do Senado, que também permitia o aborto até a 12.ª semana, mas desde que houvesse aprovação médica. "Seria uma burocracia desnecessária. Sem falar de que poderia começar a ocorrer fraude com tais laudos", avaliou.
Legislação

D'Avila é enfático ao dizer que o CFM não é favorável ao aborto. "O que defendemos é o direito de a mulher decidir." A divulgação do manifesto, diz, não mudará em nada a forma como o conselho trata acusações de médicos que realizaram aborto ilegal. "Não estamos autorizando os profissionais a fazer a interrupção da gravidez nos casos que não estão previstos em lei. Queremos é que a lei seja alterada." O presidente do CFM reconhece haver resistência a essa alteração.
"Vivemos em um Estado laico. Seria ótimo que as decisões fossem adotadas de acordo com o que a sociedade quer e não com o que alguns grupos permitem."

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segunda-feira, 18 de março de 2013

Palestinos nascem de sêmen 'contrabandeado' de prisões


5/03/2013 08h30 - Atualizado em 15/03/2013 10h27

Palestinos nascem de sêmen 'contrabandeado' de prisões

Esquema permite a mulheres de condenados por crimes de segurança ficarem grávidas de seus maridos, apesar de Israel não permitir visitas íntimas.

Da BBC

A palestina Dallal Ziben mostra o filho nascido em agosto (Foto: BBC)
A palestina Dallal Ziben mostra o filho nascido
em agosto (Foto: BBC)
O pequeno Muhannad nasceu em agosto em Nablus, mas seu pai, Ammar Ziben, não foi ao hospital para conhecê-lo.
Ammar foi condenado a 32 penas de prisão perpétua pela Justiça israelense por seu envolvimento em um ataque a bomba em Jerusalém, em 1997. Para ficar grávida, sua mulher, Dallal conta que usou o sêmen do marido, que foi contrabandeado para fora da prisão.
'Muhannad é um presente de Deus, mas minha felicidade não está completa sem meu marido ao meu lado', disse Dallal à BBC logo após o nascimento de seu filho.
O caso recebeu ampla atenção da mídia local no ano passado. E, desde então, a BBC já conversou com dois médicos na Cisjordânia que dizem ter ajudado cerca de 10 mulheres palestinas a engravidar usando sêmen contrabandeado de prisões israelenses.
'Honestamente, não quero saber como eles fazem isso (o contrabando)', diz Salem Abu Khaizaran, um desses médicos. 'Prefiro também não entrar no tema político. Estou fazendo isso por razões humanitárias, para ajudar essas mulheres. Todo mundo dá muita atenção aos presos, mas as suas mulheres também sofrem bastante.'
Procedimento
Khaizaran diz que, quando querem engravidar, as mulheres dos palestinos presos levam o sêmen do marido para sua clínica em diversos tipos de recipientes, desde pequenas garrafas até copos de plástico.

Segundo ele, em condições ideais, os espermatozoides podem sobreviver por até 48 horas antes de serem congelados para a realização do tratamento de fertilização in vitro.
Normalmente, ele diz que as mulheres conseguem cumprir esse prazo, mas às vezes o sêmen não chega em boas condições e o médico as instrui a fazer uma nova coleta.
A clínica de Khaizaran prefere não oferecer o tratamento a mulheres que já têm muitos filhos ou cujos maridos foram condenados a sentenças curtas.
Antes de realizar o procedimento, o médico pede para consultar dois familiares de cada um dos cônjuges que possam testemunhar sobre a origem do sêmen.
As mulheres também são aconselhadas a espalhar a notícia sobre o que estão prestes a fazer para seus parentes, amigos e vizinhos, para evitar fofocas e boatos de que elas teriam traído os maridos.
'Se toda a vizinhança sabe que o marido de uma palestina está na prisão há 10 ou 15 anos, ela pode ter problemas ao aparecer na rua grávida', diz Khaizaran.
Segurança
Há 4.500 palestinos em prisões israelenses. O Serviço de Prisões de Israel, porém, se diz cético sobre as notícias de contrabando de sêmen de suas cadeias.

'Não podemos garantir que não aconteceu. Mas é difícil de acreditar que tenha sido possível (tal contrabando) por causa das fortes medidas de segurança tomadas no geral e durante os encontros dos prisioneiros com seus familiares', disse, por meio de um comunicado, a porta-voz desse órgão, Sivan Weizman.
Ao contrário de outros detentos, os palestinos presos por 'crimes contra a segurança' (como atentados) não têm direito a visitas íntimas.
Weizman explica que não há contato físico entre esses presos e suas famílias, exceto nos últimos 10 minutos da visita, durante os quais os filhos dos prisioneiros podem ter acesso aos pais se tiverem até oito anos de idade.
O Serviço de Prisões de Israel não soube dizer se palestinos presos por outros tipos de crime já haviam recebido visitas íntimas.
'Prisioneiros israelenses têm muitos direitos. Eles podem sair da prisão para passar um tempo em casa e podem ficar com suas mulheres', diz o Ministro para Prisões da Autoridade Palestina, Issa Qaraqa.
Ele lembra o caso de Yigal Amir, extremista israelense condenado à prisão perpétua por assassinar o primeiro-ministro de Israel Yitzhak Rabin, em 1995. Amir foi autorizado a se casar e receber visitas íntimas, que resultaram no nascimento de seu filho em 2007.
Para Khaizaran, os palestinos deveriam ter os mesmos direitos dos israelenses e até que isso aconteça, provavelmente vão continuar a contrabandear sêmen para fora da prisão para suas esposas
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quarta-feira, 13 de março de 2013

Médico responderá por erro que levou paciente a morte por meningite


Médico responderá por erro que levou paciente a morte por meningite

Publicado em 06/03/2013 às 12:11
Fonte: Tribunal de Justiça - SC
  A 3ª Câmara de Direito Civil do TJ confirmou sentença da comarca de Imaruí e condenou um médico ao pagamento de 100 salários mínimos e de pensão alimentícia ao filho de uma paciente, por erro no diagnóstico. Em 2004, ela foi internada com dores no braço e na coluna; diante do quadro agravado, recebeu diagnóstico de problemas psiquiátricos, e morreu de meningite bacteriana dias depois.

  O profissional recorreu e disse que a mulher não tinha sinais clínicos de doença grave; ressaltou que informara a ela e aos familiares que o hospital não dispunha de exames de laboratório e de raio X nos finais de semana. Ao deixar o plantão, transferiu a paciente a outro médico e, quando retornou ao hospital, havia sido feito um diagnóstico de surto psicótico, o que motivou a transferência da paciente para a casa de saúde Rio Maina.

  Assim, alegou ter havido dificuldades no diagnóstico da doença da paciente, que foi transferida ainda para o Hospital São José, onde foi detectada a meningite. O relator, desembargador Fernando Carioni, não acolheu os argumentos do médico. Para ele, foi verificada a negligência do profissional em apurar cada um dos sintomas da paciente, quando manteve-se apático no exame clínico, especialmente pela falta de estrutura do hospital para realizar o diagnóstico.

  “É indubitável que houve inércia da equipe médica para providenciar a transferência da doente para um local com mais recursos. Para agravar a situação, quando o apelante retornou ao hospital no dia seguinte, levou a cabo a transferência da paciente para um hospital psiquiátrico, sendo que ela nunca havia apresentado nenhuma manifestação de perturbação mental, de acordo com o relato das testemunhas”, concluiu o relator.

  Apesar de apenas um médico ter recorrido, a condenação alcança solidariamente o hospital e outro médico que atendeu à paciente. A indenização deverá observar o valor do salário mínimo na data do efetivo pagamento. A decisão foi unânime, e cabe recurso a tribunais superiores (Apelação Cível n. 2012.070045-1).


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sexta-feira, 8 de março de 2013

I Colóquio de Direito Civil da PUC Minas








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'Eliminação' de HIV em bebê não abre caminho para cura em adultos

 
04/03/2013 11h12 - Atualizado em 04/03/2013 15h02

'Eliminação' de HIV em bebê não abre caminho para cura em adultos

Caso inédito de 'cura funcional' de criança infectada foi mostrado nos EUA.
Procedimento pode levar a nova forma de tratamento de bebês, diz médico.

Do G1, em São Paulo


O caso de um bebê americano que, após ter a infecção por HIV detectada, foi tratado com uma combinação de medicamentos e teve o vírus reduzido a níveis indetectáveis por exames comuns, o que foi considerado uma “cura funcional”, não cria, em princípio, nova perspectiva de eliminação do vírus em adultos, segundo explica o médico Adilson Westheimer, infectologista do Hospital Heliópolis e da Faculdade de Medicina do ABC, ambos na Grande São Paulo.

“Esse não é o caminho para a cura em adultos. O que foi apresentado pode trazer um direcionamento para cura em recém-nascidos”, explica Westheimer, que considera o anúncio deste domingo (3), nos EUA, "uma excelente notícia". Como se trata de apenas um caso, ainda há muito a ser estudado para entender se essa abordagem pode ser repetida com os mesmos efeitos em outros indivíduos.

"O importante é o paciente sob tratamento continuar se tratando. Foi uma descoberta importante porque a criança recém-nascida foi tratada com três remédios, quando normalmente se usa apenas um. O tratamento precoce e o uso de mais remédios pode ter ajudado", afirma o infectologista do Instituto Emílio Ribas, Caio Rosenthal. "Foi uma ótima notícia. Sempre que se fala em cura cientificamente evidenciada, é sempre muito bom para a medicina", acrescentou.

Combinação

O bebê foi tratado com uma combinação de remédios que fez com que o vírus praticamente desaparecesse de seu corpo. Em adultos, o HIV também pode ter sua presença reduzida com medicamentos, mas, quando estes são suspensos, o vírus volta a proliferar porque fica em latência em várias partes do corpo, como gânglios linfáticos, células do sistema intestinal  e do sistema nervoso central, entre outros.

Em recém-nascidos, os pontos onde o vírus pode ficar latente ainda estão em desenvolvimento, por isso ele não consegue se instalar da mesma forma que em adultos, nota Westheimer. O caso apresentado nos EUA tem outra especificidade: a mãe não sabia que tinha o HIV, por isso o bebê foi infectado.

Mães que fazem pré-natal, caso tenha o vírus detectado, já começam a tomar medicação, assim como o bebê, quando nasce.  “Se for feita a profilaxia com medicamentos, a chance de transmissão é praticamente zero”, aponta o médico do Hospital Heliópolis.

No Brasil, a maioria das mulheres faz o pré-natal. Um eventual método de tratamento resultante do caso apresentado nos EUA poderia ser útil em lugares onde há muitos casos de crianças que nascem sem que as mães saibam que têm o HIV, como em alguns países africanos, onde a incidência da Aids é mais alta.
Entenda o caso
Pesquisadores dos Estados Unidos apresentaram o que, segundo eles, é o primeiro caso documentado de “cura funcional” de uma criança infectada pelo HIV.

A cura funcional ocorre quando a presença do vírus é tão mínima que ele se mantém indetectável pelos testes clínicos padrões e discernível apenas por métodos ultrassensíveis.

Ela é diferente da cura “por esterilização” (que pressupõe uma erradicação completa de todos os traços virais do corpo), mas significa que o paciente pode se manter saudável sem precisar tomar remédios por toda a vida.

A virologista Deborah Persaud, da Johns Hopkins (Foto: AP Photo/Johns Hopkins Medicine) 
A virologista Deborah Persaud, coordenadora do estudo. (Foto: AP Photo/Johns Hopkins Medicine)

O estudo foi realizado por cientistas do Centro da Criança Johns Hopkins, da Universidade do Mississippi e da Universidade de Massachusetts, e apresentado em um congresso médico em Atlanta.

A descoberta, segundo eles, pode ajudar a abrir caminho para eliminar a infecção pelo vírus em outras crianças.

Tratamento precoce

O bebê acompanhado pela pesquisa nasceu de uma mãe infectada pelo HIV. Ele começou a receber um tratamento com antirretrovirais, os remédios usados contra esse problema, 30 horas após o nascimento.
O procedimento usado pelos médicos foi diferente do que é aplicado atualmente nesse tipo de caso. Normalmente, recém-nascidos de alto risco -- filhos de mães com infecções pouco controladas ou que descobrem o HIV na hora do parto – recebem os antirretrovirais apenas em doses profiláticas até as seis semanas de vida. As doses terapêuticas só começam se e quando a infecção é diagnosticada.

No caso da criança do estudo, que foi tratada a partir das primeiras 30 horas de vida, exames mostraram a diminuição progressiva da presença viral no sangue, até que atingiu níveis indetectáveis 29 dias após o nascimento.

O tratamento continuou até os 18 meses de idade. Dez meses depois de parar de tomar os remédios, a criança passou por repetidos exames. Nenhum deles detectou a presença de HIV no sangue.
Exames que detectam anticorpos específicos do HIV, que são a indicação clínica da infecção pelo vírus, também tiveram resultado negativo.

Mecanismo

Para a virologista Deborah Persaud, coordenadora da pesquisa, a rápida administração do tratamento provavelmente levou a criança à cura porque deteve a formação de reservatórios difíceis de serem tratados – células inativas responsáveis por reiniciar a infecção na maioria dos pacientes com HIV, semanas depois de parar o tratamento.

Segundo os pesquisadores, este caso particular pode mudar o tratamento padrão de recém-nascidos de alto risco. No entanto, eles recomendam cautela e dizem que não têm dados suficientes para recomendar mudanças imediatas, antes que outros estudos sejam feitos.

O único caso de cura por esterilização foi reportado até hoje, com um homem HIV positivo tratado com um transplante de medula óssea para leucemia. A medula veio de um doador com uma rara característica genética que deixa algumas pessoas resistentes ao HIV, e o benefício foi transferido para o receptor. Esse complexo tratamento, no entanto, não é factível de ser aplicado nos 33 milhões de pessoas ao redor do mundo infectadas pelo HIV.

Os pesquisadores também afirmam que, apesar da esperança que esse novo estudo pode trazer a recém-nascidos infectados, a prevenção da transmissão do vírus de mãe para filho deve continuar a abordagem principal.

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Transexual pode se descobrir já na primeira infância, dizem especialistas

 
03/03/2013 08h00 - Atualizado em 03/03/2013 08h00

Transexual pode se descobrir já na primeira infância, dizem especialistas

Criança deve ter avaliação psicológica, e pais precisam dialogar com escola.
Caso de garoto de 6 anos que se vê como menina ganhou destaque.

Luna D'Alama Do G1, em São Paulo
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A identificação com o sexo oposto e o eventual desejo de uma pessoa em assumir uma nova identidade de gênero começa geralmente na primeira infância, entre os 4 e 6 anos de idade, segundo o psicólogo clínico e psicanalista Rafael Cossi, autor do livro "Corpo em obra", lançado em 2011 após análise de seis biografias de transexuais.
Na última semana, o G1 publicou a história do menino americano Coy Mathis, de 6 anos, que se identifica como menina e é aceito pelos pais, mas tem tido problemas na escola ao querer usar o banheiro feminino. Segundo a família, Coy age assim e brinca com bonecas desde que tinha 1 ano e meio.

Coy brinca em sua casa em Fountain, Colorado, na segunda-feira (25) (Foto: Brennan Linsley/AP)      
Coy brinca em sua casa na cidade de Fountain, Colorado, na segunda-feira (25) (Foto: Brennan Linsley/AP)
"Nessa idade, ainda não dá para falar se a criança será um transexual no futuro. Isso porque não se sabe até que ponto ela só está brincando de se comportar como alguém do outro sexo ou se esse já é um indício de transexualidade", diz.

Transexual é a pessoa que tem um transtorno mental e de comportamento sobre sua identidade de gênero, ou seja, nasce biologicamente com determinado sexo, mas se vê pertencente a outro e cogita fazer tratamentos hormonais e cirurgia para mudar o corpo físico. Ao contrário do que já acreditaram psicanalistas no passado, esse não é um caso de psicose, com alucinações e delírios, defende Cossi.

Brincadeira de criança ou não

De acordo com o psiquiatra Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório de Transtornos de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC) em São Paulo, casos como esse sempre existiram, e é importante diferenciar uma simples brincadeira de um comportamento constante.
Nessa idade (até os 6 anos), ainda não dá para falar se a criança será um transexual no futuro"
  Rafael Cossi, psicólogo clínico e psicanalista.
"É muito comum crianças inverterem os papéis, e quando é algo pontual não há maiores problemas. Mas, se isso se tornar um hábito frequente, diário, o menino querer mudar de nome, usar presilha e brinco, é indicado que os pais e o filho passem por uma avaliação profissional antes de qualquer coisa, para ver se essa é uma questão familiar que a criança está tentando resolver dessa forma ou se já é um transtorno de gênero", afirma.

O médico diz que cada caso precisa de um acompanhamento diferente e individualizado. Se houver realmente um transtorno, ser violento com a criança e censurá-la pode piorar muito a situação.

"A escola também não deve reprimir, mas chamar os pais, explicar o que está acontecendo e aproveitar essa oportunidade para educar também com as diferenças. E não é porque uma criança vê outra fazendo algo que vai querer imitá-la, elas não são macaquinhos", destaca Saadeh.

Na opinião do psicólogo Rafael Cossi, os pais têm que acompanhar o que está acontecendo e não adianta julgar, proibir, punir ou bater.

"Se houvesse uma mentalidade mais aberta e liberal dos pais, a escola aceitaria melhor. O medo do colégio é de como isso repercute para as famílias e a possibilidade de perder alunos de uma hora para a outra", diz.

Cena do filme francês 'Tomboy', de 2011 (Foto: YouTube/Reprodução) 
   Cena do filme 'Tomboy', em que Laure (acima) se apresenta como Mikhael (Foto:YouTube/Reprodução)

Segundo Cossi, o preconceito da escola não é apenas contra transexuais e homossexuais, mas contra deficientes, pessoas com síndromes e tudo o que foge ao que é caracterizado "normal" – desde uma falta de uniforme até um cadarço ou cabelo colorido.

"Já os pais costumam dizer que ficam preocupados não tanto com o fato de o filho ser diferente, mas como será a vida dele em sociedade, se os colegas vão tirar sarro, pois existe muita discriminação", afirma.

Cossi cita o filme francês "Tomboy", de 2011, que conta a história da menina Laure, de 10 anos, que muda de cidade e se apresenta aos novos amigos como Mikhael. Até então, o fato de ela se vestir e se comportar como um menino não parecia incomodar a mãe, mas, quando ela fica sabendo que a criança "mudou" de nome, rejeita a situação.

"O filme é muito bom, é um relato, e não faz questão de dar nenhuma pista sobre qual vai ser o futuro da menina. Isso fica em aberto", aponta.

A escola não deve reprimir, mas chamar os pais, explicar o que está acontecendo e aproveitar essa oportunidade para educar também com as diferenças" Alexandre Saadeh, psiquiatra do HC-SP
Corpo x gênero

O psiquiatra do HC Alexandre Saadeh explica que há um componente biológico muito importante na questão da identidade de gênero.

"Hoje em dia, sabe-se que existe um cérebro feminino e um masculino, determinado no útero da mãe por hormônios masculinos circulantes. E isso interfere no desenvolvimento cerebral para uma linhagem feminina ou masculina. A cultura e o ambiente também têm importância, mas a determinação é biológica", acredita o médico.

Segundo o psicólogo Rafael Cossi, a ideia de dimorfismo corporal entre homens e mulheres, ou seja, indivíduos da mesma espécie com características físicas (não sexuais) claramente diferentes, só ganhou força com os avanços da biologia no século 19.

"Até então, prevalecia a ideia de isomorfismo, em que o corpo feminino era visto apenas como uma versão do masculino. A vagina era considerada um pênis invertido e o calor era o diferencial dos corpos, pois a temperatura do homem era mais alta que a da mulher", afirma.

O psicólogo cita o livro "Inventando o Sexo – Corpo e gênero dos gregos a Freud", em que o historiador e sexólogo americano Thomas Laqueur estuda como o corpo foi encarado em vários momentos históricos. Cossi também destaca que desejo sexual, gênero e identidade sexual são conceitos bem distintos.

"Uma coisa é o desejo, a orientação, a prática sexual. Outra é o gênero, como a pessoa se vê, seus gostos e comportamentos – algo cultural, social, que varia com o tempo. Essa é a ideia do que um homem ou uma mulher faz, como pensa, como se veste, quais traços o definem. Já a identidade sexual envolve uma noção de inconsciente, inclui o fator psíquico, de como o sexo se constrói na mente e reconhece o que é homem e o que é mulher", esclarece.

É por isso que, segundo o psicólogo, existem transexuais lésbicas ou gays, ou seja, pessoas que se transformam fisicamente com cirurgia e hormônios, mas não necessariamente se atraem pelo sexo oposto.
"Nossa mentalidade ainda é muito heterossexual", ressalta.

Transexual Brunna Valin (Foto: Arquivo pessoal)                                                                                                                     

A transexual Brunna Valin, de 38 anos, se sente como mulher desde os 7 (Foto: Arquivo pessoal)

'Sofria muito por ser diferente'

A transexual Brunna Valin, de 38 anos, conta que desde os 7 anos já sabia muito bem que não gostava de meninas. Aos 11 anos, vieram as brigas no colégio, as surras dos meninos, até que ela deixou a escola na 7ª série do ensino fundamental.

"Eu sofria muito por ser diferente. Com 12 anos, já me apresentava como Brunna e me vestia de menina, com saia, sapato de salto, batom, brinco. Queria ser igual à Roberta Close, era um espelho", lembra.
Em casa, dentro de uma família religiosa, em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, a transexual também encontrou rejeição. Após apanhar algumas vezes, deixou os pais aos 14 anos e foi morar com a avó, depois com uma prima, até ficar sozinha.

"Tenho mais sete irmãos – dois homens e cinco mulheres. Só um irmão me aceita muito bem. No começo, para eles eu era gay, não entendiam essa questão de gênero. Meu pai morreu há três anos, ainda não aprovando", revela.

Brunna mora há dois anos na capital paulista, onde trabalha como orientadora sócio-educativa no Centro de Referência da Diversidade da ONG Grupo pela Vida, e visita a família apenas uma ou duas vezes por ano.
"No fim de 2012, fui lá passar o Ano Novo e contei que vou fazer a mudança de sexo. Percebi a rejeição no olhar, na fala deles. Ficaram perguntando se já consegui trocar de nome, se já está no RG. Enfrento isso todo dia, pois a sociedade nos vê como diferentes", diz.
Com 12 anos, já me apresentava como Brunna e me vestia de menina, com saia, sapato de salto, batom, brinco. Queria ser igual à Roberta Close, era um espelho"
Brunna Valin,
transexual
A transexual, que foi profissional do sexo dos 14 aos 36 anos, voltou a estudar e agora está prestes a concluir o ensino fundamental. Este ano, pretende começar o médio e, depois, quer fazer faculdade de psicologia. No currículo, ela também acumula cursos de formação de costureira, cabeleireira e cozinheira
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Além disso, Brunna tem passado por um acompanhamento com vários profissionais no Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids, da Secretaria de Estado da Saúde. A meta é se submeter à cirurgia de mudança de sexo em 2014 – da qual não tem medo de se arrepender.

"Tomo hormônio desde os 15 anos, e hoje aplico uma injeção mensal à base de progesterona. Em maio do ano passado, coloquei silicone nos seios e agora estou tirando os pelos do corpo com laser. Já fiz no rosto e vou para os braços. Em agosto, também quero pôr prótese nos glúteos, porque as características femininas estão no corpo inteiro, não é só fazer uma vagina. Hoje nem gosto de olhar muito, aquilo não é meu", diz.
Dois anos de preparação

Antes de toda cirurgia para mudança de sexo, o Sistema Único de Saúde (SUS) exige que a pessoa, com mais de 21 anos, faça pelo menos dois anos de acompanhamento psicológico ou psiquiátrico, no qual seja diagnosticada com distúrbio de identidade de gênero.

No ambulatório de São Paulo, criado em 2009 e considerado o primeiro do tipo no país a atender exclusivamente travestis e transexuais, há atualmente 1.500 pessoas cadastradas. Desse total, 65% (975) se consideram transexuais – 915 são homens biologicamente que se sentem como mulheres e 60 são o contrário. Os outros 35% são travestis que desejam tomar hormônios e mudar a aparência, mas não pretendem fazer a operação.

Esses dois anos de acompanhamento que oferecemos com psicoterapeuta, psiquiatra e endocrinologista servem para a pessoa ter certeza sobre a cirurgia" Angela Peres, diretora técnica do ambulatório para travestis e transexuais de SP
"Esses dois anos de acompanhamento que oferecemos com psicoterapeuta, psiquiatra e endocrinologista servem para a pessoa ter certeza sobre a cirurgia. Aí fazemos o encaminhamento ao HC. Nesse período, alguns desistem. Outros vão para a Tailândia, mudam de sexo e se arrependem, porque lá não existe todo esse protocolo daqui", diz a diretora técnica substituta do ambulatório, Angela Peres.

Segundo ela, o local conta com uma equipe de 30 profissionais – entre clínicos gerais, endocrinologista, psiquiatra, psicólogos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, urologista, ginecologista, proctologista, assistentes sociais e recepcionistas – e atende brasileiros de vários estados, como Minas Gerais, Bahia e Acre.

Cirurgia, felicidade ou arrependimento

Em 14 anos, o HC de São Paulo já operou 50 pacientes para mudança de sexo, a maioria homem que se sente mulher, segundo o chefe de urologia pediátrica e disfunção sexual do hospital, Francisco Dénes.
"Nunca vi um caso de alguém que tenha se arrependido. Isso ocorre quando o paciente é mal orientado", ressalta.

Para trocar do sexo masculino para o feminino, em geral são feitos tratamento hormonal e uma única cirurgia de 4 horas. Já o inverso exige duas ou mais operações de cerca de 3 horas. Apesar de o primeiro caso, em que há a desconstrução do pênis e dos testículos para a formação de uma vagina, parecer mais tranquilo, o urologista diz que pode exigir retoques, ter mais problemas anatômicos, risco de infecção, abertura dos pontos ou necrose (morte do tecido).

Eu achava que a minha felicidade era embasada na cirurgia. Fiquei mais à vontade, mas um pênis e uma vagina não trazem felicidade para ninguém. Nunca vou ser 100% mulher. Calço 42, minha mão é enorme, meu ombro é largo"  Lea T, transexual.
O pós-operatório envolve o uso de curativos, sonda e pelo menos sete a dez dias de repouso no hospital. Se não houver problema, a pessoa pode voltar logo às atividade normais. E nos dois anos seguintes, pelo menos, deve fazer acompanhamento médico.

Em entrevista ao Fantástico, em janeiro, a transexual Lea T, filha do ex-jogador de futebol Toninho Cerezo, disse que se arrepende de ter feito a troca de sexo em março do ano passado e que não aconselha o procedimento para ninguém. Ela foi operada na Tailândia e passou um mês e meio no hospital sentindo dores.

"Eu achava que a minha felicidade era embasada na cirurgia. Fiquei mais à vontade, mas um pênis e uma vagina não trazem felicidade para ninguém. Nunca vou ser 100% mulher. Calço 42, minha mão é enorme, meu ombro é largo. Quando fiquei deitada na cama, entendi que isso tudo é uma bobeira. É um detalhe importante para a sociedade", disse na época.

Segundo o psicólogo Rafael Cossi, ver a cirurgia como forma de "normalização" social, para se adequar ao pensamento heterossexual, é uma das maiores críticas à mudança de sexo. Ele cita o site sexchangeregret.com, em que um grupo de transexuais arrependidos após a operação contesta a ideia de que a troca de sexo é o fim para todos os males.

"Muitas pessoas não ficam em paz consigo mesmas, não têm benefícios nem se veem de uma forma mais tranquila. Algumas desenvolvem problemas que não tinham antes, como alcoolismo ou dependência de drogas. Isso porque a cirurgia não altera só a imagem corporal para pertencer a outro sexo, mas tem várias complicações, pelo fato de o indivíduo passar a apresentar outro status na vida, um novo nome e ser visto de maneira diferente pela sociedade", explica.

Mas, por outro lado, tem gente que é muito beneficiada com a cirurgia, diz o psicólogo.
"É caso a caso. Para a (ex-BBB) Ariadna, por exemplo, pelo que ela deu de entrevista, foi algo muito bom", ressalta.

Desde 2008, o SUS já fez 2.451 cirurgias de mudança de sexo de homem para mulher, único grupo de pacientes atendido atualmente, pelo fato de o Ministério da Saúde considerar que são casos mais comuns (três homens para uma mulher), mais bem padronizados e aprovados pelos conselhos de medicina.
 

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