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quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Marcelo Tas conta como sua filha Luiza se tornou seu filho Luc

Marcelo Tas conta como sua filha Luiza se tornou seu filho Luc


Pela primeira vez, o apresentador e colunista da CRESCER conta sobre essa mudança na sua família. E Luc revela como foi se descobrir bissexual aos 15 anos, transexual aos 22 e agora, aos 25, estar casado com Nicholas, também transexual e hoje um homem feliz em um relacionamento homossexual

Por Daniela Tófoli - atualizada em 29/09/2014 10h42

Tas e o filho, Luc (Foto: Nicholas Athayde-Rizzaro)
































Estávamos finalizando a CRESCER de maio aqui na redação quando Tas, que é nosso colunista há quase cinco anos, nos pediu: "Por favor, vocês podem trocar o nome da Luiza por Luc no fim da minha coluna? Ele, agora, é oficialmente homem". A mudança foi feita imediatamente, mas resolvi também fazer um pedido a ele: quando achasse que era a hora certa, será que poderia nos dar uma entrevista, enquanto pai, contando como foi todo esse processo na família dele?

Tas respondeu que, no tempo apropriado, falaria. Os meses se passaram. No fim de agosto, a oportunidade surgiu. Luc, que é advogado e mora em Washington, nos Estados Unidos, viria ao Brasil a trabalho e ambos poderiam conversar conosco. De coração aberto, filho e pai falaram sem medo sobre as descobertas, as transformações, os desafios, a reação da família e o amor que permeia toda essa história. A seguir, um aperitivo das entrevistas cheias de cumplicidade e orgulho de cada um. O bate-papo na íntegra você confere na edição de outubro de CRESCER, que está nas bancas.
LUC ATHAYDE-RIZZARO

CRESCER: Você se assumiu aos 15 anos. Como foi esse processo de se descobrir e de contar aos outros?
LUC: Com 15 anos eu contei aos meus pais que eu era bissexual, ou seja, falei para eles sobre a minha orientação sexual. O que ocorreu muito tempo depois, há mais ou menos três anos, foi eu falar para eles que eu também sou transexual (ou simplesmente “trans”), ou seja, que eu me identifico com um gênero diferente daquele que me designaram quando eu nasci (basicamente, os médicos falaram que eu era uma menina, e eles estavam errados). A orientação sexual de uma pessoa e a identidade de gênero são coisas totalmente distintas, e não possuem qualquer relação de causa e efeito. Assim, por exemplo, há pessoas cis (ou seja, pessoas que não são trans) que são heterossexuais, gays, bissexuais, etc., e há pessoas trans que são gays, bi, hétero, e por aí vai.

Respondendo à sua pergunta, ambos os processos pelos quais eu passei – seja sobre minha identidade enquanto pessoa trans seja enquanto bissexual – foram processos longos de autodescobrimento, e que no final eram sobre minha realização como pessoa, minha autonomia e minha felicidade. Eu (como muita gente, diga-se de passagem) não me encaixo nessa narrativa do “sempre soube”. Foi algo gradual, muitas vezes difícil de aceitar, especialmente sobre eu ser trans, mas que no final me fez uma pessoa muito mais completa.
E como foi a reação do seu pai, da sua mãe?
Olha, eu sou muito sortudo. A realidade é que minha família sempre me apoiou em tudo. Eu contei que era bi quando ainda era muito novo, e eles nem piscaram. Quanto a eu ser trans, acredito que foi um pouco mais difícil, tanto para mim como para eles. Muitos pais têm a impressão de que estão “perdendo” um filho ou uma filha quando eles falam que se identificam com um gênero diferente ou têm um nome diferente do que os pais deram. Acho que, em muitos casos, demora um pouco para se acostumar e para entender que a sua criança é a mesma, que nada mudou. Que ela só está mais feliz. No meu caso, para os meus pais, foi bem rápido até, mesmo eu estando longe. Hoje em dia eles sempre usam os pronomes certos para se referir a mim (ele/dele, etc.) e o meu nome (Luc).

TAS

CRESCER: Que memórias você tem do Luc na infância?
TAS: De uma criança divertida, de energia inesgotável e raciocínio rápido. Brinco de dizer que ficou assim porque foi gerado em Nova York, onde morei por dois anos com a mãe dele, a figurinista de TV e cinema Claudia Kopke, com direito a uma parada no Japão antes da gente voltar ao Brasil onde ele nasceu no ano seguinte, em fevereiro de 1989. Luc tem uma característica marcante: parece tímido mas depois que solta a língua encanta a todos em torno dele, vive cercado de gente, até hoje é assim.

Ao falarmos sobre esta entrevista, você disse que "na verdade, Luc sempre esteve lá como sempre o vi, o conheci e o amei incondicionalmente". Quando ele contou sobre as escolhas dele, você não foi pego de surpresa, então?
Uma novidade desse tamanho sempre é surpreendente. Antes de tudo, devemos admitir que independente da orientação – hetero, homo, trans, bi... – a sexualidade é um assunto que desafia e intriga os seres humanos desde que o mundo é mundo. Por outro lado, creio que eu faça parte talvez de uma primeira safra de pais que souberam acolher e tratar com mais naturalidade a questão de forma transparente. A minha geração participou ativamente da transição da ditadura para a democracia no Brasil, que também significava mais liberdade de comportamento. Antes disso, é importante lembrar, qualquer forma de orientação sexual fora do padrão aqui no Brasil era tratada com ignorância e violência. Na verdade, em muitos lugares do país ainda é.

Vale deixar claro também que a orientação sexual e a questão de gênero são assuntos absolutamente diferentes. Reconheço na atual geração um comportamento muito tranquilo e natural no que se refere a ambos os assuntos. Mesmo quando me sinto surpreendido por fatos novos demais para mim, procuro cuidar para nunca deixá-los virar um preconceito que me paralise. O desafio fundamental para pais, mães e filhos, independente do que aconteça ao longo da convivência, é o afeto e a sinceridade estarem em dia. Aí todo o resto se resolve.





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CEBID - Centro de Estudos em Biodireito

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