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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Casal de idosos decide morrerjunto em suicídio assistidoMedo da solidão caso um dos dois morra motivou decisão. Prática é legal na Bélgica

Casal de idosos decide morrerjunto em suicídio assistidoMedo da solidão caso um dos dois morra motivou decisão. Prática é legal na Bélgica

POR O GLOBO, COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
27/09/2014 12:14



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 Suicídio assistido será em fevereiro do ano que vem, com injeção letal - / Alexandro Auler


BRUXELAS – Com medo da solidão, um casal belga de idosos tomou uma difícil decisão: eles irão morrer juntos. Identificados apenas pelo primeiro nome, Francis, de 89 anos, e sua esposa, Anne, de 86, pretendem cometer suicídio assistido no dia 3 de fevereiro do ano que vem, data em que comemoram 64 anos de casados. A decisão tem apoio dos filhos, que compreendem a vontade dos pais e ajudaram na busca por um médico que aceitasse fazer o procedimento. A eutanásia é legalizada na Bélgica desde 2002.
O caso chama atenção porque nenhum dos dois sofre de doença em estado terminal. O que impulsiona a vontade pela eutanásia é o medo de ficar sozinho caso um dos dois morra antes. Contudo, ambos já sentem os sinais da idade. Francis recebe tratamento para um câncer de próstata há 20 anos e constantemente é medicado com morfina, enquanto Anne é parcialmente cega e quase totalmente surda.
O medo da solidão é tão grande que os dois vão sempre ao mercado juntos, temendo que o outro não retorne para casa. Entre as opções para os próximos anos, a eutanásia foi o melhor caminho escolhido por uma série de fatores. O casal descartou a opção de homecare, pois teme perder as forças para decidir pelo suicídio assistido, assim como não poderiam ser internados em uma casa de repouso, pois os custos são maiores que as pensões que recebem.
- Nós queremos ir juntos porque nós dois tememos pelo futuro – disse Francis, ao jornal britânico “Daily Mail”. - É simples assim: temos medo que vem pela frente. Medo de ficar sozinho e, acima de tudo, medo das consequências da solidão.
Segundo Francis, a eutanásia foi o método escolhido porque eles não teriam coragem para cometer suicídio:
-É preciso coragem para se atirar de um prédio, é preciso coragem para se enforcar, é preciso coragem para se jogar em um canal. Mas um médico te dar uma injeção e você dormir calmamente? Para isso não é preciso coragem.
O filho do casal, John Paul, considera a decisão dos pais a “melhor solução”. Segundo ele, os dois conversavam sobre planos de morrer juntos como se estivessem planejando uma viagem de férias. Tanto ele, como a irmã, foram os responsáveis por encontrar um médico dispostos a realizar o procedimento após a recusa do profissional que atende a família.
- Se um dos dois morresse, o que restasse ficaria muito triste e estaria totalmente dependente de nós. Seria impossível virmos todos os dias para cuidar do nosso pai ou da nossa mãe – disse John Paul.
A eutanásia dupla não será a primeira na Bélgica, país que realiza uma média de cinco mortes por dia com injeção letal. Em 2012, os gêmeos surdos Marc e Eddy Verbessem, de 45 anos, receberam o direito de morrer após descobrirem que ficariam cegos. Este mês, Van Den Bleeken, condenado a prisão perpétua por estupro e assassinato, também teve concedido o direito à eutanásia.
Casos como o do casal de idosos levanta discussões sobre os limites da eutanásia e o suicídio assistido. Pela lei, o pedido deve ser feito pelo paciente, de forma consciente, e ele deve sofrer sobre “constante e insuportável dor física ou psicológica” resultante de acidente ou doença incurável.

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Cometário:

"A Eutanásia na Bélgica, ao que parece, deixa de ser uma questão de construção biográfica para ser uma questão de solução para problemas. Não há dinheiro para uma casa de saúde ou os filhos não poderão cuidar dos pais, pratica-se a eutanásia. Também, ao que parece, não se procede a uma diferenciação do que sejam dores físicas/psicológicas e depressão ou mesmo medo da solidão. Ao meu ver, a eleição por um modelo utilitarista é evidente.
O filme “Uma Primavera Com Minha Mãe” traz uma discussão interessante sobre a eleição de um modelo a seguir: se a opção por cuidados paliativos ou o suicídio assistido. Trata-se de uma velhinha, que tem um único filho e um relacionamento conturbado com o mesmo. Ele está doente e a situação se agrava. É independente e tem absoluta consciência da sua doença e dos prognósticos.
No caso, ela escolhe morrer, apesar de a médica assegurar que os cuidados paliativos são um meio eficaz de alívio de dores.  Vale à pena ver esse filme! Uma realidade difícil.
Fica o questionamento: será que bons centros de cuidados paliativos elidiriam pedidos de eutanásia e suicídio assistido? Sugiro leituras sobre cuidados paliativos."
Maria de Fátima Freire de Sá
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CEBID - Centro de Estudos em Biodireito

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