Casal de idosos decide morrerjunto em suicídio assistidoMedo da solidão caso um dos dois morra motivou decisão. Prática é legal na Bélgica
POR O GLOBO, COM AGÊNCIAS
INTERNACIONAIS
27/09/2014 12:14
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Suicídio assistido será em fevereiro do ano
que vem, com injeção letal - / Alexandro Auler
BRUXELAS – Com medo da solidão,
um casal belga de idosos tomou uma difícil decisão: eles irão morrer juntos.
Identificados apenas pelo primeiro nome, Francis, de 89 anos, e sua esposa,
Anne, de 86, pretendem cometer suicídio assistido no dia 3 de fevereiro do ano
que vem, data em que comemoram 64 anos de casados. A decisão tem apoio dos
filhos, que compreendem a vontade dos pais e ajudaram na busca por um médico
que aceitasse fazer o procedimento. A eutanásia é legalizada na Bélgica desde
2002.
O caso chama atenção porque
nenhum dos dois sofre de doença em estado terminal. O que impulsiona a vontade
pela eutanásia é o medo de ficar sozinho caso um dos dois morra antes. Contudo,
ambos já sentem os sinais da idade. Francis recebe tratamento para um câncer de
próstata há 20 anos e constantemente é medicado com morfina, enquanto Anne é
parcialmente cega e quase totalmente surda.
O medo da solidão é tão grande
que os dois vão sempre ao mercado juntos, temendo que o outro não retorne para
casa. Entre as opções para os próximos anos, a eutanásia foi o melhor caminho
escolhido por uma série de fatores. O casal descartou a opção de homecare, pois
teme perder as forças para decidir pelo suicídio assistido, assim como não
poderiam ser internados em uma casa de repouso, pois os custos são maiores que
as pensões que recebem.
- Nós queremos ir juntos porque
nós dois tememos pelo futuro – disse Francis, ao jornal britânico “Daily Mail”.
- É simples assim: temos medo que vem pela frente. Medo de ficar sozinho e,
acima de tudo, medo das consequências da solidão.
Segundo Francis, a eutanásia foi
o método escolhido porque eles não teriam coragem para cometer suicídio:
-É preciso coragem para se atirar
de um prédio, é preciso coragem para se enforcar, é preciso coragem para se
jogar em um canal. Mas um médico te dar uma injeção e você dormir calmamente?
Para isso não é preciso coragem.
O filho do casal, John Paul,
considera a decisão dos pais a “melhor solução”. Segundo ele, os dois
conversavam sobre planos de morrer juntos como se estivessem planejando uma
viagem de férias. Tanto ele, como a irmã, foram os responsáveis por encontrar
um médico dispostos a realizar o procedimento após a recusa do profissional que
atende a família.
- Se um dos dois morresse, o que
restasse ficaria muito triste e estaria totalmente dependente de nós. Seria
impossível virmos todos os dias para cuidar do nosso pai ou da nossa mãe –
disse John Paul.
A eutanásia dupla não será a
primeira na Bélgica, país que realiza uma média de cinco mortes por dia com
injeção letal. Em 2012, os gêmeos surdos Marc e Eddy Verbessem, de 45 anos,
receberam o direito de morrer após descobrirem que ficariam cegos. Este mês,
Van Den Bleeken, condenado a prisão perpétua por estupro e assassinato, também
teve concedido o direito à eutanásia.
Casos como o do casal de idosos
levanta discussões sobre os limites da eutanásia e o suicídio assistido. Pela
lei, o pedido deve ser feito pelo paciente, de forma consciente, e ele deve
sofrer sobre “constante e insuportável dor física ou psicológica” resultante de
acidente ou doença incurável.
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Cometário:
Cometário:
"A Eutanásia na Bélgica, ao que parece, deixa de ser uma questão de construção biográfica para ser uma questão de solução para problemas. Não há dinheiro para uma casa de saúde ou os filhos não poderão cuidar dos pais, pratica-se a eutanásia. Também, ao que parece, não se procede a uma diferenciação do que sejam dores físicas/psicológicas e depressão ou mesmo medo da solidão. Ao meu ver, a eleição por um modelo utilitarista é evidente.
O filme “Uma Primavera Com Minha Mãe” traz uma discussão interessante sobre a eleição de um modelo a seguir: se a opção por cuidados paliativos ou o suicídio assistido. Trata-se de uma velhinha, que tem um único filho e um relacionamento conturbado com o mesmo. Ele está doente e a situação se agrava. É independente e tem absoluta consciência da sua doença e dos prognósticos.
No caso, ela escolhe morrer, apesar de a médica assegurar que os cuidados paliativos são um meio eficaz de alívio de dores. Vale à pena ver esse filme! Uma realidade difícil.
Fica o questionamento: será que bons centros de cuidados paliativos elidiriam pedidos de eutanásia e suicídio assistido? Sugiro leituras sobre cuidados paliativos."
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CEBID - Centro de Estudos em Biodireito
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