09/10/2014 09h52 -
Atualizado em 09/10/2014 09h57
Laboratório erra 2 vezes, e laudo diz que idosa tem calcificação na
próstata
5ª
Turma Cível de Brasília arbitrou indenização de R$ 10 mil por dano moral.
Mulher tem 84 anos e passa por tratamento contra câncer no rim esquerdo.
Mulher tem 84 anos e passa por tratamento contra câncer no rim esquerdo.
Raquel MoraisDo G1 DF
Laudo emitido por
laboratório do DF dizendo que idosa estava com calcificação na próstata; nomes
foram omitidos porque família não quis revelar identidade da paciente (Foto:
Reprodução)
A 5ª Turma Cível condenou o Centro
Radiológico de Brasília a pagar R$ 10 mil a uma idosa cujos exames de imagem
apontavam calcificação na próstata, além da existência de baço e vesícula
biliar – órgãos que ela já extraiu. A mulher, de 84 anos, se submeteu aos
testes durante tratamento contra um câncer no rim esquerdo. Na ação, o
laboratório diz que trocou por duas vezes os resultados com os de outros
pacientes e alega que houve "mero aborrecimento cotidiano".
O objetivo da família não era a
indenização, mas sim uma correção do que ocorreu. Ela ficou sem monitoramento
de confiança naquele período. O interesse na ação é justamente para desnudar
essa realidade. Quantas centenas de pessoas podem estar recebendo laudos
incompatíveis com a sua situação e têm agravamento do seu quadro?"
Marcio Cruz Nunes de
Carvalho,
advogado da idosa
advogado da idosa
Os erros ocorreram no ano passado. A idosa
extraiu parte do órgão em março e, desde então e seguindo orientação médica,
deveria passar por tomografia do tórax e radiografia do abdome a cada seis
meses, durante cinco anos, para o controle da doença. O primeiro resultado
apontou que ela apresentava calcificação na próstata, órgão exclusivamente
masculino.
A família questionou a informação, e a
mulher passou por um novo teste. O segundo laudo dizia que ela apresentava baço
e vesícula biliar em condições normais, embora ela tivesse retirado ambos os
órgãos aos 11 anos e 69 anos, respectivamente. A filha da idosa, que preferiu
não se identificar, conta que voltou a questionar o centro radiológico na
terceira vez em que a mãe passou por exame e foi indagada sobre qual resultado
gostaria de encontrar n o laudo.
O G1 tentou contato por
telefone e e-mail com o advogado da empresa durante esta quarta-feira (8), mas
não obteve retorno. A família diz que decidiu entrar na Justiça mesmo contra a
vontade da paciente por considerar o comportamento do laboratório inadequado.
Responsável pela defesa da mulher, Marcio
Cruz Nunes de Carvalho afirma que, mesmo parecendo mais coerente, o terceiro
laudo não inspira confiança na cliente. "Nós entendemos que simplesmente
entregaram um laudo compatível, para resolver a situação. Daí vem uma situação
de extrema negligência, talvez até dolo eventual", explica.
Na 1ª instância, o juiz da 10ª Vara Cível
de Brasília entendeu que as trocas de resultado e os erros não prejudicaram a
paciente, já que ela tinha consciência de não ter os três órgãos, e considerou
improcedente o pedido de danos morais. Carvalho recorreu da decisão,
argumentando que a precisão nos laudos é essencial para o tratamento adequado e
que a necessidade de aplicação de contraste venoso repetidas vezes compromete
ainda mais a "precária função renal" da mulher.
"O objetivo da família não era a
indenização, mas sim uma correção do que ocorreu. Ela ficou sem monitoramento
de confiança naquele período. O interesse na ação é justamente para desnudar
essa realidade. Quantas centenas de pessoas podem estar recebendo laudos
incompatíveis com a sua situação e têm agravamento do seu quadro?",
questionou o advogado.
A Turma reformou a sentença inicial por
entender que houve dano moral na má prestação do serviço e na falta de cautela
"necessária que o caso pedia". A decisão é unânime, e não cabe mais
recurso no órgão.
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CEBID - Centro de Estudos em Biodireito
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