Cientistas criam células-tronco humanas por meio de clonagem
Pesquisadores usaram técnica semelhante à da utilizada na ovelha Dolly.
Linha de pesquisa buscava resultado há mais de 15 anos.
Depois de mais de 15 anos de fracassos de cientistas de todo o mundo, além de um caso de fraude, cientistas finalmente criaram células-tronco humanas com a mesma técnica que produziu a ovelha clonada Dolly, em 1996. A equipe liderada por Shoukhrat Mitalipov, da Universidade de Ciência e Saúde do Oregon, nos EUA, publicou artigo a respeito na revista "Cell", nesta quarta-feira (15)
Como informa a agência Reuters, para chegar ao resultado, os pesquisadores transplantaram material genético de células adultas em óvulos cujo DNA havia sido removido. Eles cultivaram células de seis embriões criados, em dois casos, a partir de DNA de amostras das peles de uma criança com uma doença genética, e, nos outros quatro casos, de fetos saudáveis.
Em cada um dos casos, o DNA foi inserido em óvulos não fertilizados doados e, após a aplicação de uma sequência de técnicas, foi verificada a replicação das células.
O procedimento, segundo a "Cell", abre uma nova frente para a medicina com células-tronco, que tem sido prejudicada por desafios técnicos, bem como questões éticas.
Até agora, as fontes mais naturais de células-tronco humanas eram embriões humanos, cuja utilização em pesquisa cria dilemas éticos. Para determinados setores, um óvulo fecundado deve ser tratado como um ser humano e, por isso, não pode ser descartado. A técnica divulgada nesta quarta-feira usa óvulos humanos não fertilizados, e, assim, não se enquadraria nessa discussão.
Eliminar a necessidade de embriões humanos pode aumentar as tentativas de utilização de células-tronco e suas descendentes para substituir células danificadas ou destruídas por problemas cardíacos, mal de Parkinson, esclerose múltipla, lesões na medula e outras doenças devastadoras.
Clonagem
A técnica, no entanto, também poderia ressuscitar os temores da clonagem reprodutiva, ou produzir cópias genéticas de indivíduos vivos (ou mortos). Mesmo antes de o estudo ser publicado, um grupo britânico chamado Human Genetics Alert protestou contra a pesquisa.
"Os cientistas, finalmente, entregaram o bebê que pretensos clonadores humanos têm estado à espera: um método confiável para criar embriões humanos clonados", disse o dr. David King, diretor do grupo. "Isso torna imperativo que nós criemos uma proibição legal internacional sobre a clonagem humana, antes que mais pesquisas como essa apareçam. É irresponsável ao extremo a publicação desta pesquisa."
Entre os cientistas, no entanto, o fato de a técnica ter funcionado está sendo saudado como um avanço, como afirmou o biólogo especializado em células-tronco George Daley, do Harvard Stem Cell Institute. "Isso representa uma conquista inigualável. Eles tiveram sucesso onde muitas outras equipes fracassaram, inclusive a minha."
Fraude
Entre os que fracassaram na utilização da técnica está o biólogo Hwang Woo-suk, da Universidade Nacional de Seul, na Coreia do Sul.
Em 2005, Hwang e sua equipe foram manchete em todo o mundo quando anunciaram, na revista "Science", que haviam criado células-tronco embrionárias humanas por meio de transferência nuclear, a mesma técnica que os cientistas de Oregon usaram. A alegação de Hwang acabou sendo desmentida, tornando-se um dos casos mais famosos de fraude científica na última década.
Se o feito da equipe de Oregon se mantiver e puder ser replicado por cientistas em outros laboratórios, o método oferecerá uma terceira, e potencialmente superior, forma de se produzir células-tronco embrionárias.
A pesquisa com células-tronco decolou em 1998, quando cientistas liderados por Jamie Thomson, da norte-americana University of Wisconsin, anunciaram que conseguiram cultivar células a partir de embriões humanos de alguns dias obtidos em clínicas de fertilização, chamadas de blastocistos.
Como os blastocistos eram destruídos quando as células-tronco eram removidas, grupos que acreditam que a vida começa na concepção promoveram intensos protestos. Em 2001, o presidente norte-americano George W. Bush proibiu financiamento público federal nos EUA para pesquisa que criaria mais blastocistos.
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CEBID - Centro de Estudos em Biodireito
Com a questão de não ser mais preciso a destruição do óvulo fertilizado para a extração de células tronco não haveria mais problemas em ferir a vida ou a dignidade da pessoa humana (ao meu ver, ainda que se defenda outros conceitos de vida, é preciso respeitar a concepção daqueles que acreditam que a vida começa com a fertilização, ao menos até que o direito tenha uma resposta concreta para a questão - lembrando que o nascimento do direito é moldado pela ética, mas sua aplicação após constituído não deve ser vinculada a ela).
ResponderExcluirEntretanto, a clonagem humana é uma verdadeira preocupação, dificilmente a mera proibição impediria que ela acontecesse, existem muitos modos de se auferir dinheiro com o processo (ressuscitar mortos, tráfico de clones para fins sexuais ou trabalho escravo, caça por diversão, entre outros). A clonagem traria muitos problemas de ordem jurídica sem respostas prontas:
-Seria o clone, por si só, um atentado à dignidade da pessoa humana? Ao meu ver não, mas o levantamento disso em uma sociedade levantaria um debate infindável que o direito demoraria a sanar.
-O clone teria direitos? Qual seria a natureza jurídica do clone? Seria o caso do filme "O Sexto Dia", no qual o clone não era considerado ser humano, portanto não tinha qualquer direito. Isso poderia dificultar o combate à venda de clones e traria toda uma nova luta a favor de reconhecimento de direito. Vale lembrar que com a proibição da clonagem, a própria existência do clone seria algo ilícito, além de um absurdo e uma aberração aos olhos de muitos - o que nos leva de volta ao primeiro problema. Fora o grande preconceito que iria acontecer por parte dos grupos mais eticamente conservadores (que poderia até ser justificado por uma possível falta de reconhecimento da vida e da dignidade no clone).
O fato é que a clonagem não pode ser freada, então a pergunta é, deve o direito incentivar estudos que nos levariam a ela?
Além das razões éticas, acredito que os problemas jurídico são suficientes para responder não. Até mesmo a pesquisa com células tronco de embriões fertilizados parece acarretar menos problemas tanto éticos quanto jurídicos.