Cirurgia não trouxe felicidade, diz Lea T. após troca de sexo
Modelo falou com exclusividade para o Fantástico como se sente após a operação de mudança de sexo.
Dois anos atrás, a modelo internacional Lea T., filha do jogador de futebol Toninho Cerezo, falou ao Fantástico sobre a dor de ser uma transexual, ou seja, de ter nascido em um corpo de homem, mas se sentir uma mulher.
Fantástico: existe um lado bom em ser transexual?
Lea: “Não. Eu não vejo um lado bom em ser transexual. Sou penalizada em tudo”, disse ela na época.
Lea: “Não. Eu não vejo um lado bom em ser transexual. Sou penalizada em tudo”, disse ela na época.
Depois dessa entrevista, Lea T. fez a cirurgia de troca de sexo. Será que ela está feliz? A modelo falou com exclusividade para o Fantástico
Ceribelli: A Lea T. fez a cirurgia de troca de sexo em março de 2012, mas só agora, quase um ano depois, ela se sente à vontade para falar sobre o assunto. Por quê?
Lea: Porque a cirurgia é uma cirurgia complicada, não é uma cirurgia simples. É uma coisa muito íntima. Estou meio sensível, estou meio voada em algumas coisas, tentando entender algumas coisas. Mas eu acho que agora eu to começando a conseguir falar a respeito dessa cirurgia, a respeito dessa pequena e grande mudança que eu fiz.
Ceribelli: A cirurgia ocorreu tudo bem?
Lea: Hoje já ta tudo certinho. Mas é uma cirurgia demorada. Não é cirurgia que você acorda. Não é um peito. È muito diferente de tudo isso. Você não consegue andar, você tem que ficar deitada numa cama. É muito complicado.
Ceribelli: Quanto tempo você ficou no hospital?
Lea: Eu fiquei no hospital um mês e meio.
Ceribelli: Em algum momento você falou: ah, eu não devia ter feito isso?
Lea: Eu fiquei um mês, sentindo dor, pensando nisso. Eu não aconselho essa cirurgia pra ninguém.
Não é só por causa da dor física de sua recuperação que ela parece um pouco "arrependida" do que fez. Depois de conseguir com a cirurgia, o corpo feminino que tanto desejava, Lea percebe que emocionalmente, nem tudo mudou.
Lea: Eu achava que a minha felicidade era embasada na cirurgia. Mas, não foi. Não é isso.
Ceribelli: Você não ficou mais feliz depois da cirurgia?
Lea: Eu fiquei mais à vontade. É diferente. A felicidade não é não é um pênis, uma vagina que traz felicidade a ninguém.
Ceribelli: Me lembro da nossa entrevista, bem antes de você fazer a cirurgia, você dizia que não se sentia uma mulher completa sendo uma mulher no corpo de homem. Depois da cirurgia, hoje você já diz: eu sou uma mulher completa?
Lea : Não, não!
Ceribelli: Você hoje é 100% mulher?
Lea: Não. Eu nunca vou ser cem por 100% mulher.
Ceribelli: Você continua com o seu lado masculino?
Lea: Eu continuo.eu tenho minha parte masculina. Eu calço 42. Eu tenho uma mão enorme, eu tenho o ombro largo. Eu tenho umas coisas masculinas no corpo.
Ceribelli: Mas você não via antes da cirurgia. Por que você falava: não, eu sou uma mulher num corpo de homem?
Lea: Eu queria reprimir, eu reprimia muito. Quando, do momento que eu fiz a minha cirurgia e que eu fiquei um mês deitada na cama, eu entendi que isso tudo é uma bobeira.
Ceribelli: e quando você se olhou no espelho e não era o mesmo corpo?
Lea: Era o mesmo corpo. Mudou só um detalhe.
Ceribelli: Lea, você é mais mulher ou mais homem?
Lea: Eu sou eu. Eu diria que eu sou eu.
Lea sabe que, mesmo depois de operada, o preconceito ainda não vai parar. Mas se sente preparada pra isso.
Lea: Vai ter sempre a pessoa que vai te jogar na cara que você é homem. Ou que vê você andando na rua e fala que você é um homem. E depois que você sofre de uma cirurgia dessas, se você não tiver pronta, se você não tiver...é como uma facada no coração.
Ceribelli- E os homens hoje? Eles já te vêem como uma mulher?
Lea: Depende. Depende do momento. Pra o que eles querem. Em relação a uma relação sexual, ai você é uma mulher. Mas em relação a ter uma historia com você, ai você é uma transexual. Você é um homem.
Ceribelli:Mas dá pra mentir?
Lea: No meu caso absolutamente não. Todo mundo sabe, mas para uma transexual. Eu conheço algumas que são casadas há anos e o marido nunca soube.
Ceribelli- O medo que muitas transexuais têm é de perder o prazer na relação sexual depois da cirurgia. Este era um medo seu?
Lea: Eu estava tão focada em fazer esta cirurgia que eu nem pensava nisso.
Ceribelli: Afetou o prazer sexual?
Lea: Não. É a coisa que eu fiquei mais impressionada. É a coisa que mais me chocou. Realmente eu não acreditava.
Com senso de humor, Lea conta que ainda está aprendendo alguns "detalhes" da rotina de vida de uma mulher. Ir a um banheiro público por exemplo.
Lea: Eu tinha medo de não conseguir segurar com a perna pra não encostar no vaso.Todas conseguem e eu vou conseguir. Eu vou agachar. Não deu outra. Eu cai. Sujou o vestido todo. Eu ficava impressionada que vocês conseguem fazer xixi agachada com salto.
Novos desejos também estão surgindo na vida de Lea.
Ceribelli: Você quer ser mãe?
Lea: Eu gostaria. Eu acho que é uma das coisas que eu posso te dizer que eu notei em mim, que é feminino. Muito feminino. Que é esta coisa da maternidade. Dessa coisa de querer ser mãe. Talvez muito mais que ter um príncipe encantado. Acho muito mais importante.
Ceribelli- Se você fosse adotar hoje você adotaria um homem ou uma mulher?
Lea: Indiferente.
Toninho Cerezo apóia escolha de Lea T e dá conselhos à filha
“A Lea é minha terceira filha, né. Estou contente. Vejo as coisas com naturalidade. No momento, quando explodiu tudo foi um alvoroço. Porque, queiram ou não, a Lea levantou uma bandeira. Levantou uma bandeira e, você sabe, o Cerezo é um jogador, vive num ambiente de machões”, comenta Cerezo.
Ele conta como reagiu quando soube que a filha faria a operação de mudança de sexo: “Quando eu fiquei sabendo e me falaram, eu acho até que a própria família ficou surpresa com a minha reação, porque, além de tudo, é minha filha e eu quero mais é que todos possam ser felizes, porque eu sou um cara muito feliz”.
No final da entrevista, Toninho Cerezo deu um conselho para Lea.
“É mocinha, só tenha cuidado você é uma mulher inteligente. Você é uma modelo, imagina, você é uma modelo que desfila em Paris. Olha a sua importância e a sua importância para várias, várias e várias mulheres e pessoas que se sentem acuadas, que se sentem com vontade de explodir ou procurar essa felicidade que você está procurando e não têm coragem. Você que vive as dificuldades de fazer uma cirurgia como você fez, de lutar nesse mundo cheio de preconceitos. E saber que, realmente, você vai encontrar muita gente que vai pisar no seu pé, vai pisar no seu calo, mas você pode passar por cima. Com uma, duas, três palavras de doçura você vai superar tudo”.
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CEBID - Centro de Estudos em Biodireito
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