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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Edição genética evolui e cientistas já discutem os limites da alteração do DNA de embriões

Carl Zimmer

  • Reprodução
Este mês, cientistas se reuniram na Academia Nacional de Ciências em Washington para conversar sobre o CRISPR, um novo método de edição genética. Nos últimos anos, a técnica se tornou tão importante e acessível que muitos especialistas começam a exigir limites para seus usos potenciais — especialmente a alteração de embriões humanos com mudanças que podem ser herdadas pelas futuras gerações.
Entre os cientistas que descreveram os avanços recentes estava um dos pioneiros do CRISPR, George Church da Faculdade de Medicina de Harvard. Em meio a sua apresentação, repleta de detalhes de bioquímica e genética, Church soltou uma bomba.
Em um experimento típico, os cientistas utilizam o CRISPR para alterar um único gene; porém, em um trabalho recente com células de porcos, Church e seus colegas utilizaram o CRISPR para alterar 62 genes de uma vez. Os pesquisadores esperam que isso venha a possibilitar o uso de órgãos de porcos para o transplante em seres humanos.
Mas o experimento também levanta uma questão mais profunda: os cientistas poderão algum dia alterar traços humanos importantes por meio da manipulação de tantos genes de uma vez?
"Isso é obviamente impressionante", afirmou Ron Weiss, biólogo sintético do MIT, que não participou do novo estudo. Mas a despeito do grande número de genes envolvidos, Weiss e outros especialistas destacam que o novo processo não significa que conseguimos superar a evolução de uma hora para a outra. O CRISPR não permite que os cientistas manipulem genes em grande escala — pelo menos por enquanto.
O experimento de Church teve sua origem na falta de órgãos para transplante. Milhares de pessoas morrem a cada ano a espera de corações, pulmões e fígados.
"É uma situação cruel, que alguém precise de um transplante de coração e seja obrigado a depender da morte de outra pessoa para ter a chance de levar uma vida saudável", afirmou David A. Dunn, especialista em transplantes da Universidade Estadual de Nova York, em Oswego.
Nos anos 90, os pesquisadores exploravam a possibilidade de utilizar órgãos de porcos em seres humanos, uma técnica conhecida como xenotransplante. Os cientistas desejavam eliminar vírus e outros patógenos presentes nos órgãos dos porcos para que eles não danificassem os hospedeiros humanos.
Mas o trabalho foi interrompido em 1998, quando Jay Fishman e seus colegas descobriram um risco bizarro. Existem genes virais escondidos no DNA dos porcos.
Eles são conhecidos como retrovírus endógenos – os humanos também têm sua parcela de DNA viral. A versão suína dos retrovírus endógenos é capaz de produzir vírus completos que infectam outras células suínas. Quando os pesquisadores misturaram células humanas e suínas em uma placa de petri, descobriram que os vírus suínos também infectavam as células humanas.
Parecia impossível acabar com os retrovírus endógenos suínos. "Eles são parte do genoma desses animais", afirmou Fishman, diretor associado do centro de transplantes do Hospital Geral de Massachusetts.
Fishman e outros pesquisadores estavam em busca de formas de superar esse entrave, mas não tiveram sucesso. Em 2013, perguntaram a Church se ele poderia alterar os genes dos retrovírus endógenos suínos, tornando-os inócuos nas células suínas e, portanto, também nas humanas.
Church concordou em tentar, embora achasse que aquilo não seria possível. Outras tentativas de desabilitar os retrovírus endógenos suínos haviam falhado, alterando de forma tão profunda o DNA que as células acabavam morrendo. Mas, afinal, o CRISPR se revelou a ferramenta perfeita para a tarefa.
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CEBID - Centro de Estudos em Biodireito

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