Acesse o nosso site: www.cebid.com.br

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Suprema corte da UE abre as portas para patentes de células-tronco

18/12/2014 08h12 - Atualizado em 18/12/2014 08h12

Suprema corte da UE abre as portas para patentes de células-tronco

Empresa dos EUA pode patentear processos com células de óvulos humanos.
Caso ocorreu nesta quinta-feira (18).


Um organismo incapaz de se desenvolver em um ser humano não é um embrião humano e pode ser patenteado, disse a suprema corte da União Europeia nesta quinta-feira (18), abrindo as portas para algumas patentes de células-tronco na UE.
A corte fez seu julgamento na sequência de um caso apresentado pela empresa norte-americana International Stem Cell Corporation na Grã-Bretanha sobre se poderia patentear processos envolvendo o uso de células de óvulos humanos.
"O mero fato de que um óvulo humano geneticamente ativado inicie o processo de desenvolvimento não é suficiente para que seja considerado como um embrião humano", disse a Corte Europeia de Justiça.
A corte disse que deixava aos juízes britânicos para determinarem se os organismos usados pela Isco cumpriam esse critério.





----------------------------------------------------------------------------
CEBID - Centro de Estudos em Biodireito

Justiça autoriza registro de nascimento com duas mães, um pai e seis avós


Decisão inédita no RS favoreceu casal homossexual que pediu ajuda a amigo para gerar um filho
POR FLÁVIO ILHA E RENATO GRANDELLE

13/09/2014 6:00



Bernadete, advogada da família, com a sentença para a certidão Foto: GABRIEL HAESBAERT
Bernadete, advogada da família, com a sentença para a certidão - GABRIEL HAESBAERT

PORTO ALEGRE E RIO - O juiz Rafael Cunha, da 4ª Vara Cível do Fórum de Santa Maria (RS), autorizou anteontem o registro de nascimento de uma menina com duas mães, um pai e seis avós. A decisão, inédita na Justiça brasileira, foi cumprida ontem no 1º Cartório de Registro Civil da cidade, que precisou adaptar o sistema de registro para que o documento pudesse contar com nove nomes. A certidão será entregue às mães e ao pai na semana que vem.
Casadas legalmente há dois meses, depois de viverem em união estável por quatro anos, Fernanda Batagli Kropenski, de 26 anos, e Mariani Guedes Santiago, de 27, pediram ajuda ao amigo Luis Guilherme Barbosa para gerarem um filho. Como condição para aceitar o pedido, Barbosa quis constar como pai na certidão de nascimento de Maria Antônia, que nasceu de parto normal no último dia 27 de agosto. A fecundação se deu pelo processo clássico. Fernanda foi quem deu à luz, mas ambas constam como mães na certidão.
O juiz considerou a decisão “simbólica” e disse que privilegiou a “proteção e o afeto” da criança no que chamou de “ninho multicomposto”.

— É importante salientar que essa menina terá, desde o seu nascimento, o registro de uma família multiparental diferente do que é comum. Tudo o que é novo causa um certo espanto, mas a decisão é absolutamente natural e foi tomada sem controvérsias — afirmou.
A sentença foi dada no mesmo dia em que um Centro de Tradições Gaúchas (CTG) acabou incendiado em Santana do Livramento (RS) como represália à realização de um casamento coletivo com a presença de um casal gay. No caso da certidão multiparental, o pedido foi feito em 26 de agosto, um dia antes do nascimento da menina, e recebeu parecer favorável do Ministério Público em tempo recorde. A decisão também foi rápida, como forma de garantir existência civil à criança.

Cunha disse que o atentado ao CTG não influenciou sua decisão, mas salientou que a sentença é um reforço à ideia de respeito às diferentes concepções de família e de casamento, que são garantidas pela Constituição.
— Isso é importantíssimo para reforçar o respeito às diferenças, especialmente neste momento de intolerâncias de todas as espécies — defendeu.
As duas mães e o pai, assustados com a repercussão do caso, não quiseram falar com a imprensa. A advogada da família, Bernadete Schleder dos Santos, disse que os três estão “muito felizes” com a decisão, apesar das dificuldades técnicas para registrar Maria Antônia.
— O cartório necessitou adaptar seu sistema de registro junto ao Tribunal de Justiça para comportar tantos nomes numa certidão, mas os problemas terminaram aí. A sensação é de contentamento — disse.
Bernadete foi ao cartório na manhã de ontem com a sentença judicial e requereu o registro da criança, que deve ficar pronto até a próxima segunda-feira. Entre o pedido à Justiça e a sentença, passaram-se pouco mais de duas semanas. Segundo a advogada, a decisão favorável foi facilitada porque não há litígio entre as três partes.
— É um exemplo de entendimento e tolerância — comparou.

RESOLUÇÃO FAVORECEU REGISTROS

Desde maio de 2013, uma resolução do Conselho Federal de Medicina admite a utilização de técnicas de fecundação “in vitro” por casais homoafetivos, o que tem aumentado a existência de crianças registradas em nome de dois pais ou duas mães.
Mas a presidente da Comissão da Diversidade Sexual da OAB-RS, Maria Berenice Dias, disse que o registro com três responsáveis legais é inédito na jurisprudência brasileira. A jurista comemorou a decisão e disse que a sentença expressa “a complexidade da vida”.
— As famílias tradicionais, representadas por um pai e uma mãe, estão deixando de ser o retrato usual da nossa sociedade para dar lugar a composições menos convencionais. Nesse sentido, a sentença é histórica porque o amor não tem que ter limites. Quanto mais pessoas tiverem vínculos afetivos, melhor para uma criança — disse Maria Berenice.

‘DISCURSO MORALISTA’ CONTRA DECISÃO

Presidente Nacional do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFam), Rodrigo da Cunha Pereira avalia que novas estruturas parentais estão surgindo e que, por isso mesmo, “devemos estar de acordo com essa realidade”.
— Há um discurso moralista de que este seria o fim da família — comentou Pereira. — Foi o mesmo que disseram em 1977, quando o divórcio foi introduzido no país. A família não é uma estrutura natural, e sim cultural. Por isso, vários arranjos são possíveis. Sei que este caso abre um debate ético, mas não há por que ter medo disso.












---------------------------------------------------------------------------------------
CEBID - Centro de Estudos em Biodireito

Japão realiza primeiro implante de células humanas reprogramadas


Japão realiza primeiro implante de células humanas reprogramadas

Em Tóquio


  • Um tecido de retina criado a partir de células-tronco pluripotentes induzidas, em Tóquio
    Um tecido de retina criado a partir de células-tronco pluripotentes induzidas, em Tóquio
Uma equipe de pesquisadores japoneses realizou nesta sexta-feira a primeira intervenção cirúrgica mundial com células reprogramadas iPS para tratar uma doença ocular que pode causar cegueira.
Esta cirurgia com células iPS, também conhecidas como células-tronco pluripotentes induzidas, faz parte dos primeiros testes clínicos globais em seres humanos com esta técnica de medicina regenerativa.
A paciente é uma mulher de 70 anos, explicou a equipe médica da Fundação para a Investigação Biomédica e Inovação (Ibri) de Kobe (oeste), associada a Masayo Takahashi, diretora do Instituto Público Riken.
O objetivo desta primeira operação é verificar sua segurança e tentar melhorar o estado de saúde da paciente.
O Ministério da Saúde japonês aprovou há um ano o projeto-piloto proposto por Ibri e Riken.
A cirurgia desta sexta-feira consiste em tratar uma variante da degeneração macular associada à idade (DMLA), que é a principal causa da cegueira em pessoas com mais de 55 anos nos países industrializados.
Para conseguir isso, os cientistas criaram células da retina da paciente a partir de células iPS e as implementaram.
As iPS são criadas a partir de células adultas do paciente reduzidas a um estado quase embrionário para gerar quatro genes (normalmente inativos nas células adultas).
Esta manipulação genética tem por objetivo recuperar a imaturidade e a capacidade de se diferenciar em todos os tipos celulares, dependendo do ambiente em que se encontram.
Em 2012, o pesquisador japonês Shinya Yamanaka e o britânico John Gurdon receberam o Prêmio Nobel de Medicina pela criação de um método que permite reprogramar células adultas em células-tronco.
O uso de células iPS não gera questões éticas, ao contrário das células-tronco obtidas de embriões humanos.












------------------------------------------------------------------------
CEBID - Centro de Estudos em Biodireito

Tradição indígena faz pais tirarem a vida de crianças com deficiência física

Edição do dia 07/12/2014
07/12/2014 22h47 - Atualizado em 08/12/2014 12h29

Tradição indígena faz pais tirarem a vida de crianças com deficiência física

A prática acontece em pelos menos 13 etnias indígenas do Brasil.
Uma tradição comum antes mesmo de o homem branco chegar ao país


Um assunto da maior importância: o direito à vida. Você acha certo matar crianças recém-nascidos por causa de alguma deficiência física?
Pois saiba que isso acontece no Brasil e não é crime. A Constituição, nossa lei maior, assegura a grupos indígenas o direito à prática do infanticídio, o assassinato de bebês que nascem com algum problema grave de saúde.
Para os índios, isso é um gesto de amor, uma forma de proteger o recém-nascido, mas tem gente que discorda.
Um projeto de lei que pretende erradicar o infanticídio já foi aprovado em duas comissões na Câmara Federal e agora vai para votação no plenário.
Do outro lado, os antropólogos defendem a não interferência na cultura dos índios. Os repórteres do Fantástico foram investigar essa questão sobre a qual pouco se fala. E descobriram que a morte desses recém-nascidos mudou para pior o mapa da violência no Brasil.
A cidade mais violenta do Brasil fica no interior do estado de Roraima. Chama-se Caracaraí e tem só 19 mil habitantes.
De acordo com o último Mapa da Violência, do Ministério da Justiça, em um ano, 42 pessoas foram assassinadas por lá. Entre elas, 37 índios, todos recém-nascidos, mortos pelas próprias mães, pouco depois do primeiro choro.
A partir de uma porteira, o Fantástico entrou na terra dos ianomâmis, uma área de 9,6 milhões de hectares, maior do que Portugal. Lá, vivem 25 mil índios em 300 aldeias numa floresta inteiramente preservada.
O filho de uma mulher ianomâmi vai fazer parte da próxima estatística de crianças mortas logo após o nascimento. Há duas semanas, ela começou a sentir as dores do parto, entrou na floresta sozinha e horas depois saiu de lá sem a barriga de grávida e sem a criança.
Os agentes de saúde que trabalham lá disseram, sem gravar, que naquela noite aconteceu mais um homicídio infantil, o infanticídio.
O infanticídio indígena é um ato sem testemunha. As mulheres vão sozinhas para a floresta. Lá, depois do parto, examinam a criança. Se ela tiver alguma deficiência, a mãe volta sozinha para a aldeia.
A prática acontece em pelos menos 13 etnias indígenas do Brasil, principalmente nas tribos isoladas, como os suruwahas, ianomâmis e kamaiurás. Cada etnia tem uma crença que leva a mãe a matar o bebê recém-nascido.
Criança com deficiência física, gêmeos, filho de mãe solteira ou fruto de adultério podem ser vistos como amaldiçoados dependendo da tribo e acabam sendo envenenados, enterrados ou abandonados na selva. Uma tradição comum antes mesmo de o homem branco chegar por lá, mas que fica geralmente escondida no meio da floresta.
O tema infanticídio ressurge agora por ter se destacado no Mapa da Violência 2014, elaborado com os dados de dois anos atrás.
O autor do levantamento feito para o Ministério da Justiça, o pesquisador Júlio Jacobo, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, não tinha ideia da prática.
“E aí, então, comecei a pesquisar efetivamente com as certidões de óbito. Registravam que crianças de cor ou raça indígena, de 0 a 6 dias de idade. E começamos a ver que realmente era uma cultura indígena meio não falada, meio oculta”, diz o pesquisador.
O secretário de Segurança Pública de Roraima, Amadeu Soares, explica por que o seu estado aparece, pela primeira vez, entre os mais violentos do Brasil.
Fantástico: Por que no ano de 2012 teve essa evolução, esse número tão grande? 

Amadeu Soares: Porque foi o ano que a Secretaria Especial começou a fazer o trabalho de registro desses infanticídios.

E foi assim que Caracaraí, no interior de Roraima, se transformou no município mais violento do Brasil. São 210 homicídios para cada 100 mil habitantes. A média nacional é 29 homicídios para cada 100 mil habitantes.
Pituko Waiãpi é um sobrevivente. Ele nasceu há 37 anos numa aldeia waiapi, localizada no interior do Amapá. Tinha paralisia infantil e estava condenado ao sacrifício. 
“A minha família não aceitava por causa da deficiência. Então, a Funai me tirou de lá”, conta.
O garoto cresceu entre os homens brancos e, aos sete anos, foi levado de volta para a tribo.
“Uma assistente social não entendia do costume da aldeia. Ela não sabia que ele não podia mais voltar e o mandou de volta”, conta Silvia Waiãpi, irmã de Pituko.
O garoto vivia carregado pela mãe, pai ou irmão mais velho.
“E aí um dia minha mãe cansou de me carregar e deu para o meu pai. Quando foi na hora de atravessar o rio, meu pai começou a ameaçar que eu não servia para nada, que eu merecia ser morto. A minha mãe escutou isso e gritou que não era para ele fazer isso comigo”, conta Pituko.
“A minha mãe o deu para um dentista e a única palavra que ele sabia falar em português era: ‘Embora. Embora. Embora’”, diz a irmã.
Ele só voltou a ver os pais quando tinha 21 anos.
“A minha mãe sentou do meu lado e disse: ‘Meu filho, tu lembra daquele tempo que aconteceu?’. Eu falei: ‘Lembro’. Aí ela perguntou: ‘Você tem raiva dele?’. ‘Eu, não. Eu gosto do meu pai’. Isso é cultura de vocês. Quem sabe vocês estavam fazendo o certo e eu não estava sofrendo mais”, conta Pituko.
“Como é que é carregar um deficiente físico nas costas sem cadeiras de rodas? No meio do mato?”, comenta a irmã de Pituko.
A irmã de Pituko explica: para o seu povo, o infanticídio não é um ato cruel.
“Era um ato de amor. Amor e desespero. Porque você não quer que um filho seu continue sofrendo. Você quer que ele sobreviva, mas não se não há como?”, diz ela.
“Não se pode atribuir a isso qualquer elemento de crueldade. Se uma pessoa começa já no nascimento conter deformações físicas ou incapacidades muito grandes, você vai ter sempre em si um marginal”, avalia o antropólogo João Pacheco.
Na visão do antropólogo, este garoto é um exemplo do que seria um marginal na comunidade indígena. Ele sofre de um problema neurológico.
“Essa criança nasceu, segundo informações, sem nenhum sinal de qualquer tipo de deficiência. Eles não rejeitaram ela, mas ao mesmo tempo ela não fica como as outras crianças. Fica mais escondidinha”, explica Tiago Pereira, enfermeiro da Secretaria de Saúde Indígena.
Por não ter percebido a deficiência, a mãe deu de mamar ao filho.
Esta é uma cena da maior importância na vida de um pequeno ianomâmi. Quando a mãe amamenta o filho, é como se tivesse dando a ele a certidão de nascimento, é que ele está sendo aceito por ela e pela comunidade.
Os índios acreditam que só durante esse ritual o bebê se torna um ser vivo e, graças a essa primeira mamada, Kanhu Rakai, filha de Tawarit, está viva hoje.
“Se tivesse anotado de pequeno, poderia estar enterrado”, afirma Tawarit Makaulaka Kamaiurá, pai de Kanhu Rakai.
Quando nasceu, a família, que faz parte da etnia kamayurá, não notou que Kanhu Rakai desenvolveria qualquer problema.
“Ela nasceu normal. Depois de cinco anos, ela começou a ir enfraquecendo mais”, conta Tawarit.
Kanhu Rakai tinha distrofia muscular progressiva, uma doença degenerativa que dificulta cada dia mais os movimentos da garota, e os pais se sentiam pressionados pela comunidade para matar a criança.
“A aldeia não manda. Pode mandar, mas só que quem decide, eu e ela, é a gente que decide”, diz Tawarit.
E eles decidiram se mudar para Brasília.
“Para mim, enterrar as crianças é feio, é muito feio”, afirma Tawarit.
A solução para impedir a morte de bebês indígenas não é simples. Quem vive próximo ao problema, sabe disso. João Catalano é o coordenador geral da Frente de Proteção dos Índios Ianomâmis, da Funai.
“A gente tem que entender o ambiente em que eles estão inseridos. Aqui a gente está falando da maior floresta tropical do mundo. A maior parte das regiões só chega de avião”, diz Catalano. 
O secretário de Segurança Pública de Roraima aponta outra limitação para agir: “A Funai acompanha, estuda e analisa todas essas questões culturais dos povos indígenas. E o estado tem essa limitação de apenas fazer o registro e o atendimento no caso de óbito”.
Várias vezes, enquanto esta reportagem estava sendo feita, tentamos falar com a direção da Funai, a Fundação Nacional do Índio. Ela não quis falar com o Fantástico sobre esse assunto.
E o que diz a lei brasileira sobre o infanticídio indígena? O artigo 5º da Constituição garante a todos o direito à vida.
O jurista José Afonso da Silva, especialista em direito constitucional, faz uma ressalva sobre as exceções dentro da Constituição.
“Ela reconhece a cultura indígena, os costumes indígenas, as tradições indígenas”, observa o jurista.
Então, diante da Constituição do Brasil, não há nada condenável no ato da mãe índia que mata o filho bebê.
O deputado federal Henrique Afonso, do PV do Acre, apresentou um projeto de lei indicando como o estado pode trabalhar para intervir na questão. “Esse projeto, o objetivo é erradicar o infanticídio no Brasil”, diz Henrique Afonso.
Ele prevê, por exemplo, a criação de um Conselho Tutelar Indígena, que teria autonomia para determinar qual medida deve ser adotada em cada caso. 
O projeto ainda não foi colocado em votação no Congresso, mas já é criticado. 
“Não há como executar essa lei a não ser com violência, que é desaconselhável. E a própria Constituição repudiaria isso”, comenta o jurista José Afonso da Silva.
“Eu não posso imaginar que esse seja um projeto realmente humanitário. Então, nesse sentido, os antropólogos têm se manifestado sempre contra”, diz o antropólogo João Pacheco.
Para os antropólogos, a solução seria o diálogo.
Uma saída bem sucedida encontrada pelo técnico de enfermagem da Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Charles Sheiffer. Conversando, ele conseguiu impedir a morte de um bebê indígena.
“Eu estava no posto de saúde mais ou menos 5h20 e, de repente, eu escutei uma batida na porta do posto. A mãe mandou um dos filhos dela me chamar para poder mostrar essa criança. Cheguei lá e a criança estava na grama já com placenta e tudo. E fiquei com essa criança mais ou menos uns três dias”, conta Sheiffer.
O pai já tinha outros três filhos. E acreditava que não tinha condição de criar mais um bebê.
“Até que o pai se convenceu da minha atitude. E a mãe também queria a criança. De toda forma, ela queria. E aí quando ela deu a primeira mamada... Pronto! A criança estava livre”, lembra Sheiffer.
Silvia se formou em fisioterapia, é tenente no Exército e reclama da falta de estrutura e saúde dada a esses povos.
“Falta de medicação, falta de enfermeiros, técnicos, porque os poucos que têm estão sobrecarregados. Então, dizer que o índio está fazendo o infanticídio é muito fácil. Mas se tivesse estrutura, eu duvido que isso aconteceria. Eu falo isso porque meu irmão, o Pituko, é tetraplégico, ele não teria nenhuma condição de sobrevivência dentro da aldeia, mas aqui ele hoje é um pintor. Ele só mexe a cabeça e o pescoço, e ele pinta, e ele escreve apenas com a boca”, conta Silvia.
Hoje Pituko é um orgulho para a sua aldeia. Agora, os waiãpis descobriram que existe outro caminho para crianças que nascem com deficiência.
“Eu quebrei os preconceitos sobre pessoas com paralisia infantil. Eu tenho uma sobrinha que tem dois filhos que são deficientes”, diz Pituko.
“E hoje meu pai entende isso. Hoje, nós vemos isso no olhar dele. Um olhar de amor. Um olhar de carinho. E quando nós vamos, ele chora, porque fazia muito tempo que ele não nos via. E ele diz em português: saudade”, conta Silvia.
A mesma saudade que Muwaji tem do seu povo. Ela é de uma tribo isolada do Amazonas, a suruwaha.
Quando deu a luz ao seu filho, estava sozinha no meio da floresta. Percebeu que a criança não abria as mãos e tinha as pernas cruzadas e duras. Muwaji começou a criar a filha mas o irmão insistia que ela devia matar a bebê.
“Meu irmão falou: ‘Dá o veneno. Eles vão matar’. ‘Não quero matar’”, conta Muwaji.
Para salvar a criança, Muwaji fugiu da sua tribo. Vive com a filha de oito anos em Brasília e nunca mais viu a família.
“Meu coração é triste, chora. Depois é alegre de novo”, diz.
Ela não vê meios de voltar para sua tribo e apenas canta quando quer se sentir próxima a seu povo.



----------------------------------------------------------------------------
CEBID - Centro de Estudos em Biodireito

Preso a cama de hospital, homem luta para que sexualidade de deficientes deixe de ser tabu

10/12/2014 16h51 - Atualizado em 10/12/2014 16h51

Preso a cama de hospital, homem luta para que sexualidade de deficientes deixe de ser tabu

Norberto Butler, vítima de pólio, quer que tema seja reconhecido na Argentina, país que debate regularizar o cargo de acompanhante sexual.




Norberto Butler luta pelo reconhecimento da sexualidade dos deficientes (Foto: Norberto Butler/BBC)Norberto Butler luta pelo reconhecimento da sexualidade dos deficientes (Foto: Norberto Butler/BBC)
Um argentino paralisado desde o fim da década de 1950 está lutando pelo fim do tabu relacionado à sexualidade de deficientes no país, em meio a um debate nacional sobre a regularização de acompanhantes sexuais para essas pessoas.
Norberto Butler, de 57 anos, passou a maior parte da vida em um hospital, vítima de uma epidemia do vírus da poliomielite que atingiu a Argentina no final daquela década. Desde então, ele vive em uma cama.
Depois de anos de luta, Butler conseguiu que a casa-hospital onde vive o transferisse para um quarto individual, o que, segundo ele, significa o primeiro passo para que as pessoas portadoras de deficiência explorem a própria sexualidade.
"Conheço centenas de pessoas com deficiências que não resolvem essa questão (do sexo), que não têm relações de nenhum tipo", disse Butler à BBC Mundo.
"Sei da mortificação que muitos sofrem, e este assunto é uma prioridade absoluta, porque se sente no corpo o ardor de não poder canalizar isso, ter relações com uma garota."

Acompanhante
A sexualidade de portadores de deficiência começa, muito lentamente, a deixar de ser tabu na Argentina e se transforma em motivo de discussões nos meios de comunicação e também em conferências.
Em uma reunião recente na Assembleia Legislativa de Buenos Aires, especialistas, profissionais do sexo e ativistas pediram a regulamentação do cargo de "acompanhante sexual" e, se o pedido for atendido, a Argentina será o primeiro país da América Latina a reconhecer esse trabalho.
"É uma pessoa que, depois de passar por um processo de capacitação, poderá acompanhar homens ou mulheres adultos com deficiência, de forma sexual, afetiva e erótica", disse à BBC Mundo Silvina Peirano, professora de deficiência mental e social e criadora do Sex Assistent, um serviço de formação de assistentes sexuais, assessoramento e acompanhamento criado há anos em Barcelona.
A função não é apenas manter relações sexuais com a pessoa que contrata o serviço. Os acompanhantes também podem prestar assistência a casais de deficientes que querem ter relações acomodando seus corpos e facilitando o contato físico, ajudando a colocar um preservativo, por exemplo.
"Não estamos dizendo que todas as pessoas com deficiência devam ter uma assistência sexual, mas que ela pode ser uma opção enriquecedora e válida para algumas", afirmou Silvina.
Há países em que a figura da assistente sexual está regulada pelo governo e é considerada uma terapia, caso da Suíça.
Cautela
Talvez pelo fato de o assunto estar sendo discutido apenas agora na Argentina, ainda não há muitas críticas para a proposta de reconhecimento do acompanhamento sexual para deficientes.
Mas, em outros países, a ideia foi recebida com cautela pelos que se opõem ao trabalho sexual, em geral, ou pelos religiosos que promovem a abstinência. A proposta também recebeu críticas dos próprios portadores de deficiência.
Mik Scarlet é um reconhecido autor britânico que há anos milita para acabar como tabu da sexualidade dos deficientes na Grã-Bretanha.
Em uma entrevista no ano passado ao jornal "The Guardian" a respeito do debate sobre a contratação de acompanhantes, Scarlet afirmou que promover este tipo de serviço é como "se o mundo falasse que as pessoas deficientes são tão pouco atraentes que a única forma de elas manterem relações sexuais é pagando".
"Não quero um mundo onde seja mais fácil para as pessoas deficientes visitar profissionais sexuais, quero um mundo que veja os deficientes como seres sexuais e como casais válidos", disse.
Norberto Butler também encara com cautela a proposta, mas vê a assistência sexual como um direito que poderia "preencher um espacinho" para os deficientes que não puderam desenvolver a própria sexualidade. Também acha, porém, que o projeto deve vir acompanhado de outras políticas de inserção profissional e social.
O objetivo, para Butler, é que os deficientes tenham as mesmas oportunidades e possam conhecer um potencial parceiro em qualquer outro âmbito que não seja o do hospital ou do acompanhante.
Apoio
A proposta de regular a função de acompanhante sexual para portadores de deficiência é uma iniciativa apoiada por um grupo de profissionais do sexo argentino que afirma que isso já acontece no país.
"Este tema sempre esteve oculto", disse Georgina Orellano, secretária-geral da Associação de Mulheres Meretrizes da Argentina (AMMAR). "Há dois anos e, principalmente neste último ano, começaram a chegar à organização (...) e-mails de pais e mães, (perguntando) se algumas de nossas companheiras atendiam pessoas com deficiência, buscando ajuda para seus filhos com autismo, síndrome de Down ou deficiência física."
"Há companheiras que trabalham regularmente com eles e os tinham em sua lista de clientes. Assim, demos os telefones (delas) para os pais de deficientes maiores de idade", disse Georgina à BBC Mundo.
Na Argentina não é crime a troca consentida de sexo por dinheiro entre indivíduos maiores de idade.
Atualmente, existem dois projetos de lei que tentam regular o trabalho sexual no país, permitir a criação de cooperativas e dar direitos e garantias às profissionais.
Assexuados
A sexualidade de portadores de deficiência não é algo muito debatido na Argentina.
"Mas é um dos direitos que não temos, devido à pressão da Igreja, pressão de fatores distintos", afirmou Norberto Butler.
Pouco a pouco, como aconteceu com o reconhecimento dos direitos da comunidade homossexual há alguns anos, a Argentina parece estar começando o debate público sobre a sexualidade dos deficientes.
Mas, para a professora Silvina Peirano, muitos ainda partem da ideia de que os deficientes são seres "solitários e, no pior dos casos, se assume que não existe a sexualidade ou que sua sexualidade é de segunda categoria".
"Promovam, ajudem um deficiente para que ele consiga um trabalho que permita que ele se relacione. Mas não interfiram para o mal na sexualidade do garoto", disse Norberto Butler.

-----------------------------------------------------------------------------------
CEBID - Centro de Estudos em Biodireito

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Suecos fazem 'festas do implante' para se transformar em ciborgues


Suecos fazem 'festas do implante' para se transformar em ciborgues

Entusiastas da tecnologia em Estocolmo usam chips que permitem abrir portas sem chave e destravar celulares.




Os mais novos ciborgues se dizem contentes por terem "se transformado" após implantes nas mãos (Foto: BBC)
Os mais novos ciborgues se dizem contentes por terem "se transformado" após implantes nas mãos (Foto: BBC)
Já era noite em Estocolmo quando um grupo de oito pessoas chegou ao Swahili Bobs, um estúdio de tatuagem nos becos escuros do bairro de Sodermalm.
Durante o dia, eles são empresários de tecnologia, estudantes, web designers e consultores de TI, mas, naquela noite, eles seriam transformados em ciborgues.
Pode parecer o início de um romance de ficção científica, mas é um relato de acontecimentos reais, protagonizados pelo biohacker Hannes Sjoblad.
Ele organizou o que chama de "festa do implante", que aconteceu no final de novembro e foi um de muitos eventos semelhantes. Durante o encontro, oito voluntários recebem implantes com um pequeno chip de identificação por rádiofrequência (RFID) sob a pele da mão. Sjoblad também tem um.
Ele ainda está pensando pequeno. Tem o plano de conseguir até 100 voluntários nos próximos meses, com 50 implantes já realizados. Mas sua visão para o futuro é muito maior.
"Vamos chegar a mil, depois a 10 mil. Estou convencido de que essa tecnologia veio para ficar e, em breve, não vamos achar estranho ter implantes em nossas mãos."
Portas abertas

Sjoblad encontra voluntários nas redes sociais e comunidades de hackers na Suécia – pessoas que estão acostumadas a "brincar" com tecnologia.
No momento, o chip implantado na mão age somente como interface de segurança, permitindo que os usuários abram as portas de suas casas sem a chave.
Para fazer isso, no entanto, eles precisam comprar fechaduras novas, que atualmente são caras.
Com um uma pequena adaptação para telefones Android, o implante também consegue desbloqueá-los. Mas há potencial para muito mais funções.
A implantação do chip RFID é feita por tatuadores profissionais e é reversível, caso o usuário se arrependa (Foto: BBC)A implantação do chip RFID é feita por tatuadores profissionais e é reversível, caso o usuário se arrependa (Foto: BBC)
"Acho que estamos apenas começando a descobrir o que podemos fazer com isso. (O chip) tem um potencial muito grande para registrar toda a vida de uma pessoa", diz Sjoblad.
"Com os aplicativos para registrar exerícios e rotinas alimentares que as pessoas estão usando, você precisa digitar tudo o que come ou onde está indo. Mas ao invés de inserir os dados no meu telefone, posso passar meu implante por ele e ele saberá que estou indo dormir."
Ele vai mais além: "Imagine que sensores em uma academia possam reconhecer, por exemplo, quem está segurando um haltere pelo chip na sua mão".
"Vivemos a explosão da internet das coisas – logo haverá sensores ao meu redor que me permitam registrar minhas atividades em relação a eles", acredita.
Homem e máquina
Cada vez mais, as fronteiras entre humanos e máquinas vão sendo borradas. Pessoas que perderam membros já recebem novos membros biônicos, que estão cada vez mais sofisticados. Ninguém acha estranho ter um quadril artificial ou fazer cirurgia a laser para corrigir problemas na visão.
No ano passado, o Google lançou lentes de contato que podem monitorar os níveis de glicose de seu usuário, em uma tentativa de fornecer diagnósticos mais rápidos e melhores para diabéticos.
Os acessórios – desde relógios inteligentes a dispositivos como o bracelete Up, que coleta dados sobre a atividade física do usuário – ficam cada vez mais sofisticados ao monitorar uma série de funções corporais, desde os batimentos cardíacos e o consumo de calorias até os padrões de sono.
Mais algumas empresas já pensam além disso. É o caso da BioStamp, uma tatuagem digital desenvolvida pela empresa americana MC10.
Ela pode ser estampada diretamente no corpo e coleta dados sobre a temperatura corporal, os níveis de hidratação, a exposição a raios UV e outros. Assim como acontece com outros acessórios, os dados podem ser enviados a smartphones.
Tatuagem digital pode coletar dados sobre funções corporais e se comunicar com celular (Foto: MC10)Tatuagem digital pode coletar dados sobre funções corporais e se comunicar com celular (Foto: MC10)
Outra empresa americana, Proteus, criou uma pílula com um sensor embutido, que funciona em conjunto com uma espécie de adesivo usado na pele e, quando engolida, pode medir uma série de funções corporais.
"Essas coisas já estão aqui, a pergunta real é se elas podem funcionar melhor estando na nossa pele ou dentro de nós – e uma das grandes vantagens delas é que não podemos esquecê-las em casa, como um telefone ou um bracelete", diz David Wood, diretor do grupo London Futurists, que debate cenários radicais para os próximos 40 anos.
Wood acha que os implantes ainda não estão prontos para o grande público, mas acredita que esse é o momento perfeito para um debate sobre o tema.
"Anos atrás havia muito medo das vacinas e agora parece perfeitamente normal injetar outras células em nosso corpo. Isso é um exemplo primitivo de biohacking", afirma.
Hannes Sjoblad também espera que sua "festa do implante" gere um debate sobre nosso possível futuro como ciborgues.
"A ideia é virar uma comunidade, é por isso que fazemos os implantes juntos. As pessoas ficam unidas pela experiência e começam a fazer perguntas sobre o que significa ser homem e máquina", diz.
Para aqueles que decidem deixar de ser ciborgues, o procedimento que Sjoblad realiza para implantar os chips é reversível e dura apenas cinco minutos. Mas ele não pretende remover o seu.
"(O implante) É divertido, é algo que faz as pessoas puxarem papo. Ele abre discussões interessantes sobre o que é ser humano. Não serve só para abrir portas."




-----------------------------------------------------------------------------------------------
CEBID - Centro de Estudos em Biodireito

Selo: empresas que não utilizam animais como cobaias

Selo: empresas que não utilizam animais como cobaias

A proposta segue agora para as Comissões de Finanças

Selo empresas que no utilizam animais como cobaias
Foto: Assessoria Parlamentar
Desde quando um grupo de ativistas invadiram o Instituto Royal e roubaram 178 cães da raça beagle usados em testes, no estado de São Paulo, alguns projetos estão tramitando na câmara para enfrentar o problema. Um deles é o PL 4586/12 que cria o selo "Brasil sem Maus-tratos" para as empresas que não utilizarem animais em experimentos científicos, que foi aprovado pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio, tendo como relator o deputado federal Laercio Oliveira.
Laercio Oliveira informou que, a cada dois anos, órgãos competentes verificarão as condições das empresas cadastradas voluntariamente para a obtenção do selo "Brasil Sem Maus-Tratos" e que elas deverão comprovar iniciativas que visam formas de pesquisa alternativa, as quais não façam uso de animais como cobaia.
A promoção da cultura da defesa dos direitos dos animais e o desenvolvimento de ações de conscientização também foram incluídos no projeto.
Para Laercio, a iniciativa é extremamente oportuna e bem-vinda no momento em que cada vez mais a sociedade brasileira demonstra sua preocupação com a aplicabilidade das normas e preceitos de bem-estar animal. “O reconhecimento e respeito aos direitos dos animais, significa desenvolvimento e evolução da nossa sociedade", disse Laercio.
Na justificativa do projeto, o autor Ricardo Izar informou que o objetivo é que as empresas e institutos busquem outros métodos e formas de pesquisa científica, os quais não façam uso de animais em testes de medicamentos e outras substâncias químicas.
A Carta Cidadã de 1988 dispõe que"todos são dotados do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo é essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. A fim de assegurar a efetividade desse direito, incube ao Poder Público: "Proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade".
A proposta segue agora para as Comissões de Finanças e Tributação e Constituiçãoe Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados.
Fonte: Assessoria Parlamentar













--------------------------------------------------------------------------
CEBID - Centro de Estudos em Biodireito