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terça-feira, 22 de novembro de 2016

Show de horrores: precisamos falar sobre a exploração de animais

Show de horrores: precisamos falar sobre a exploração de animais

Omundo está mudando e nós estamos mudando também.É isso que diz um anúncio do SeaWorld divulgado no início deste ano para avisar que a atual geração de orcas será a última do parque, já que os programas de reprodução dos animais finalmente foram encerrados. A verdade é que a tal mudança dos tempos foi acelerada pela queda de bilheteria sentida após o documentário Blackfish: Fúria Animal, de 2013. O filme narra a vida de Tilikum, capturado do oceano quando filhote, em 1983, e com largo histórico de maus-tratos em cativeiro. Hoje com 35 anos e saúde comprometida, ele já foi o principal reprodutor do SeaWorld, a despeito do risco de serem passados adiante os genes de um animal que acumula ao menos dois ataques fatais a treinadoras — um possível terceiro caso, este com um visitante, nunca foi esclarecido. Fora de cativeiro não se tem registro de mortes de humanos provocadas por orcas.
Por causa do pouco espaço destinado aos animais, imagens aéreas dos três empreendimentos SeaWorld nos Estados Unidos se tornaram símbolos das campanhas que pedem o fechamento dos parques. No de San Diego, o mar fica bem à frente, mas as baleias vivem e fazem shows no Shamu Stadium, que ocupa uma fração pequena do terreno — a maior parte é dedicada ao estacionamento. Guardadas as proporções do corpo, se um homem fosse confinado em um cativeiro equivalente ao tanque em que Tilikum é mantido na unidade de Orlando, uma piscina de 5,7 metros de largura, 9,5 de comprimento e 2,1 de profundidade seria todo o espaço que ele teria à disposição. Segundo a ONG Whale and Dolphin Conservation, o SeaWorld ainda possui 23 orcas.
“As pessoas já se deram conta de que as orcas são animais muito inteligentes e que não pertencem a um tanque tão pequeno, onde precisam passar toda a sua vida nadando em círculos intermináveis. Na natureza, elas nadariam cerca de 160 quilômetros por dia”, afirma Alicia Aguayo, gerente para a América Latina da ONG Peta (People for the Ethical Treatment of Animals). “Os brasileiros são o maior grupo de estrangeiros no SeaWorld de Orlando. Ajudaria muito se parassem de visitá-lo”, diz.
A companhia de parques aquáticos também já anunciou mais uma medida para 2017. O atual espetáculo das suas “baleias assassinas” — em inglês, as orcas são chamadas de killer whales — só será realizado até o fim deste ano no parque da Califórnia. Até 2019, o modelo de show também mudará em San Antonio (Texas) e na Flórida.
“Vamos introduzir novos, inspiradores e naturais encontros com orcas em substituição aos espetáculos teatrais”, escreve a empresa, que também confirmou investimento de US$ 50 milhões nos próximos cinco anos para se tornar a mais importante organização de resgate de animais marinhos do mundo.
O objetivo é acabar com o comércio de baleias, focas e tubarões. Há mais de 30 anos o SeaWorld não captura orcas selvagens, mas as primeiras foram adquiridas dessa forma para os shows. Por esse histórico, o programa de conservação é visto com desconfiança por entidades como a Whale and Dolphin Conservation. De acordo com a ONG, o valor é irrisório: a cada US$ 1 milhão de receita, US$ 600 vão para esse fundo.
Um ano selvagem
Nos primeiros oito meses deste ano, já foram registradas ao menos seis tragédiasenvolvendo bichos em cativeiro e humanos, mas também houve algumas conquistas para o bem-estar de animais
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Escolha uma vida
Além das novidades anunciadas pelo SeaWorld, o debate em torno da tensão entre seres humanos e animais em cativeiro cresceu neste ano motivado por diversos casos ocorridos nos últimos meses. Até agosto, foram registradas ao menos seis tragédias pelo mundo. Só em maio houve três episódios com mortes.
“A mamãe está aqui!”, “Fique calmo”, ouve-se repetidas vezes em um vídeo
viralizado na internet de um menino de três anos diante do gorila Harambe no Zoológico de Cincinnati (EUA), em 29 de maio. A mãe, que se distraiu enquanto o garoto invadia a área, e outros visitantes gritam tentando ajudar.
A gravação dura pouco mais de dois minutos e meio, suficientes para ver o primata desorientado. Olha para os lados, olha para a criança. Segura, solta, empurra, arrasta por metros pela água do fosso o visitante inesperado. A maior tensão, porém, não está na cena. Do lado de fora do viveiro, os responsáveis pelo zoológico e policiais decidiram intervir para garantir a integridade do garoto. Harambe foi morto com um tiro. Segundo os tratadores, não havia outra opção, porque dardos com tranquilizantes, até surtirem efeito, poderiam aumentar a agressividade do animal.
A primatóloga Jane Goodall, uma das maiores especialistas do mundo no comportamento desses animais, declarou dias depois que não havia outra solução para o caso. “Harambe poderia, sim, ter machucado a criança, mesmo sem a intenção de fazer mal”, disse ela.
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Um dos truques mais tradicionais dos números de elefantes adestrados em circos é o de se equilibrar com as quatro patas em cima de uma pequena bola. A pose foi reproduzida em uma escultura por Rodrigo Bastos Didier, artista recifense radicado em São Paulo —
e é essa escultura que você vê na capa desta edição da GALILEU. Com formação em design, ele estudou na Gnomon School of Visual Effects, em Hollywood. A referência visual para a escultura veio de vídeos disponíveis na internet com trechos de apresentações conduzidas pelo treinador norte-americano Brian Franzen. Um dos adestradores de elefantes e tigres mais conhecidos dos Estados Unidos, ele está na lista negra dos ativistas dos direitos dos animais.
A trajetória de Brian no mundo circense é longa e peculiar. Aos 50 anos, seu pai, Wayne Franzen, também treinador de tigres, foi morto por um dos seus felinos em pleno picadeiro, diante de 200 pessoas, em 1997. Para os investigadores, Lucca, o tigre-de-bengala de seis anos de idade e mais de 180 quilos, atacou o dono por ter sido atraído pelo seu novo traje, cheio de brilhos. Brian usou uma vara para ferir o animal na cabeça até que o corpo do pai fosse solto, já sem vida.
No dia seguinte à morte, o circo abriu normalmente. “O show tem que continuar”, disse Tina Franzen, ex-mulher de Wayne e administradora da companhia.
Uma visita inesperada
Gorila Harambe foi morto após menino de três anos cair no seu habitat
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“E seria difícil mesmo para pessoas familiarizadas com Harambe determinar as intenções dele a distância, em pouco tempo, enquanto poderia haver um mal irreparável”, completou a britânica, pioneira na área. “Foi horrível para a criança, para os pais, para Harambe, para o zoológico, para os tratadores e para o público, mas, quando pessoas entram em contato com animais selvagens, decisões de vida e morte às vezes têm que ser tomadas”, disse. Nas redes sociais, a escolha, porém, foi condenada. Um abaixo--assinado com 510 mil assinaturas pede que os pais sejam responsabilizados pela morte do gorila de 17 anos — completados na véspera da tragédia. O promotor disse que a família não será processada.
Já para Lori Gruen, filósofa que estuda as relações éticas entre humanos e animais, culpar os pais do menino ou o Zoológico de Cincinnati é olhar o problema de maneira superficial. “Parece que temos de culpar alguém, mas os dedos estão apontados para a direção errada”, destaca a professora da Universidade Wesleyan, de Connecticut. Para ela, a questão é maior: a própria existência de zoológicos é o que gera casos como esse. A sociedade precisa mudar e parar de manter essas instituições, afirma, para evitar episódios semelhantes. “Espero que a gente desenvolva empatia. Tenho visitado vários zoológicos recentemente e vejo muitas pessoas rindo, se divertindo, batendo nos vidros. Não existe um ambiente de respeito aos animais.”
“A morte de Harambe fez as pessoas refletirem sobre a existência dos zoológicos e está gerando uma conversa muito importante sobre por que mantemos animais em cativeiro”, diz a organizadora do livro The Ethics of Captivity (A Ética do Cativeiro). “O cativeiro é uma experiência angustiante, inclusive para os humanos. Eu me pergunto como ficam as pessoas que testemunharam o caso de Harambe ou que ainda vão passar por aquele zoológico. Sério que isso é ter uma boa experiência turística?”
Irracionais
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Também em maio, oito dias antes, no Chile, outra dessas decisões de vida ou morte teve de ser tomada. Um homem nu invadiu o recinto dos leões do Zoológico de Santiago. Assim como no caso de Harambe, a cena foi registrada e publicada na internet por frequentadores, alheios à tentativa de suicídio. “Mas de onde saiu esse cara?”, diz uma voz feminina em um vídeo. “Olha, está enjaulado e não acontece nada”, comenta um homem, enquanto o animal e o rapaz estão atracados. Mas, sim, aconteceu: quando os guardas chegaram, dois animais de origem africana, macho e fêmea, foram sacrificados para que parassem de atacar o jovem. Ele saiu com ferimentos graves, mas sobreviveu.
“A gente conta com o bom senso das pessoas. Uma pessoa tem que ultrapassar várias barreiras para sofrer um acidente, mas, se ela quiser se jogar no fosso do animal, ela consegue, né?”, diz Kátia Cassaro, bióloga responsável pelo zoológico do parque de diversões Beto Carrero, em Penha (SC). Uma das maiores coleções particulares do país, o local tem cerca de mil animais.
No Brasil, pelas normas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para zoológicos, o afastamento mínimo do público em relação aos viveiros tem de ser de 1,5 metro. Somente se houver vidros essa distância é dispensada.
Observando o comportamento dos visitantes, a administração decidiu reforçar a segurança nos últimos tempos, conta Cassaro. “Aqui você sobe em uma passarela e avista no plano inferior os leões e os tigres. Esse espaço foi todo preenchido com vidro porque notamos que
os pais sentavam as crianças pequenas em cima da mureta”, diz ela, sobre a obra feita há cerca de cinco anos. “Assim, mesmo que a pessoa queira se jogar para se suicidar, não consegue.”
Nos últimos meses, os recintos da girafa e da zebra também ganharam mais uma barreira para impedir a entrada de braços de visitantes. Além de vergalhões, agora telas separam os bichos. “Muitas vezes as pessoas não se dão conta do perigo que representa uma zebra ou uma girafa, porque olham o animal no recinto, bem tranquilo, e isso passa uma imagem de que você pode chegar perto”, afirma a bióloga.
A falta de noção sobre como lidar com animais silvestres se reflete também na vontade de ter em casa bichos que não são domesticáveis. O hábito é preocupante porque alimenta o tráfico. Essa cadeia move R$ 2,5 bilhões por ano no país e provoca a morte de, em média, 90% dos animais capturados antes mesmo que cheguem a ser vendidos, principalmente pelo transporte em condições inadequadas, segundo estimativas da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres.
“O brasileiro gosta de ter bicho em casa, seja bicho legal, seja bicho ilegal. Isso é bem grave”, ressalta Maria Izabel Gomes, coordenadora de fauna do Ibama. “Então, diferentemente do que está ocorrendo em outras partes do mundo, onde há rejeição a zoológicos, no Brasil a gente ainda tem que alterar muito da nossa cultura para começar a entender movimentações contrárias à exposição de animais ou à colocação deles em ambientes que não são naturais.”
Da selva para o cativeiro
Tráfico de animais silvestres movimenta R$ 2,5 bilhões por ano
38 milhões de animais silvestres são retirados anualmente da natureza no Brasil.
4 milhões são vendidos por ano.
9 de cada 10 bichos morrem durante o processo de tráfico.
Fonte: Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres
Mapa da bicharada
O Sudeste, com 69 locais públicos ou privados, é a região do Brasil com mais zoológicos e aquários
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Picadeiro triste
“Só deu tempo de ouvir meu filho dizer: ‘Ai, pai’. Ele sorria. Parecia achar que o leão estava brincando”, lembrou José Miguel dos Santos Fonseca em entrevista à revista Época, dez anos depois do ataque que matou seu filho, aos seis anos, em pleno picadeiro do Circo Vostok, na Grande Recife, em 2000.
O garoto passava pela jaula dos leões quando foi agarrado pelas patas de um deles. O caso terminou com a morte do menino, Júnior, e de quatro dos cinco leões. O Superior Tribunal
de Justiça determinou, em 2010, dez anos após a morte, o pagamento de indenização de R$ 275 mil à família.
O espetáculo mais triste
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Na legislação, a resposta ao caso foi mais rápida. No ano seguinte, o estado de Pernambuco sancionou lei que proíbe animais em apresentações circenses ou teatrais. De lá para cá, outros dez estados brasileiros também passaram a vetar circos com bichos. Fora esses locais, há ainda alguns municípios de outros estados que têm leis semelhantes.
Em âmbito nacional, o Projeto de Lei 7.291, de 2006, aguarda votação na Câmara dos Deputados. A proposta pretende acabar com o emprego de animais em circos em todo o território, além de criar um controle nacional dessas atividades. Atualmente, são os estados e municípios os responsáveis por cuidar do tema. A regulamentação de zoológicos e aquários também é feita pelos estados e prefeituras. O Ibama, órgão federal, age exclusivamente na fiscalização em casos de denúncias. “É o equivalente à Polícia Federal, que participa de investigações especiais”, diz a coordenadora de fauna do instituto.
Fora do país, 2016 já é um ano marcante para a história dos circos. No início de maio, a companhia Ringling Bros., um dos principais alvos de campanhas de ativistas nos Estados Unidos, fez seu último show com elefantes. Agora aposentados, 42 animais foram enviados para um centro de preservação na Flórida mantido pela própria empresa.
“É agridoce”, disse Ryan Henning, apresentador das performances dos elefantes por mais de uma década. “É amargo no sentido de que é o fim de uma era. Mas isso realmente vai nos permitir ter foco na conservação e no nosso programa de reprodução, para assegurar que esses ‘caras’ estejam por aqui por muitas e muitas gerações.”
Os “caras”, tanto asiáticos quanto africanos, sofrem risco de extinção. “Só no continente africano são mortos por ano quase 50 mil elefantes. Se você calcular que a população é de 450 mil, vê que é uma situação de alto risco. Em poucos anos, eles podem ser extintos se não forem tomadas medidas drásticas”, diz Junia Machado, brasileira criadora do primeiro santuário de elefantes da América Latina, que receberá as suas primeiras moradoras neste mês.
Hora de mudança
Santuários são o modelo de instituição defendido por ativistas dos direitos dos animais como a opção mais confortável para bichos que não podem sobreviver fora de cativeiros. Os viveiros devem ser mais amplos do que em zoológicos, tentando reproduzir ao máximo o ambiente na vida selvagem.
Por isso, em geral, santuários não aceitam receber visitantes. Atualmente, existe por volta de uma dezena no Brasil. Pela legislação, no entanto, esse tipo de local não tem distinção. A licença precisa ser obtida da mesma forma que para manter um zoológico tradicional.
As elefantas asiáticas Maia e Guida, de cerca de 44 e 42 anos, aguardam a mudança para o santuário de Machado em um sítio em Minas Gerais, onde vivem há seis anos, desde que foram apreendidas de um circo na Bahia pelo Ibama. Machado, que estima que haja no país em torno de 25 elefantes em cativeiros, fechou acordo com o Ministério Público para cuidar delas.
Para chegarem ao santuário, um sítio com 1,1 mil hectares na Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, as elefantas viajarão em caminhões dentro de contêineres especiais, com respiradouros e espaço para o acúmulo de excrementos. As caixas metálicas estão sendo construídas com consultoria técnica do Santuário de Elefantes do Tennessee (EUA), organização parceira no projeto, assim como a ONG Elephant Voices, que tem base em Moçambique e no Quênia. A próxima hóspede, com chegada prevista para o ano que vem — desta vez por avião —, será a elefanta Ramba, do Chile, outra asiática aposentada de circo e com histórico de maus-tratos.
As ONGs esperam conseguir doações para o deslocamento das elefantas. “Para o transporte por terra da Maia e da Guida, conseguimos um orçamento de R$ 45 mil. Por avião, para a Ramba, deve custar o triplo”, diz Machado. Para a compra do terreno, arrecadaram R$ 67 mil em uma vaquinha online — valor baixo, perto dos gastos totais. A obra inicial de estrutura para receber os animais custa mais de R$ 1,5 milhão.
A falta de doações também é sentida no Santuário de Sorocaba, que funciona em um sítio no interior paulista e abriga mais de 50 chimpanzés, além de outros 250 bichos — parte deles foi comprada pelo proprietário. A manutenção é feita com R$ 100 mil mensais vindos de
recursos próprios “colocados a fundo perdido”, define o dono, o microbiologista e empresário Pedro Ynterian.
“Eu não tenho condições de aceitar mais animais. Tenho solicitações para receber animais de Portugal, Argentina, Espanha… Mas não posso aceitar mais”, afirma o cubano radicado no Brasil. “Os santuários dão uma vida mais decente para os animais maltratados, porém, não são uma solução definitiva. A única saída que existe é proibir o cativeiro.” Para Ynterian, a forma de romper o ciclo que mantém esses animais longe do seu habitat natural, seja em zoológicos e circos, seja em santuários, é impedir a sua reprodução. “Esperar anos até que esses animais morram é a única solução.”
Para fugir da rotina
Zoológico de São Paulo tem atividades para criar estímulos nos cativeiros; conheça algumas ações
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Reprodução assistida
O tema da reprodução em cativeiro é um dos mais polêmicos entre ativistas e cientistas. Mara Marques, bióloga do Zoológico de São Paulo, diz que seria temerário suspender os programas acompanhados por pesquisadores, que funcionam como um backup, ou seja, uma cópia de segurança da natureza.
“Se ocorre um incêndio de grandes proporções, por exemplo, uma espécie pode ser dizimada se não tivermos animais geneticamente prontos, saudáveis, para repovoar essas áreas”, afirma Marques. “Um exemplo é o mico-leão--dourado. Animais vindos de cativeiros ficaram em adaptação e depois foram soltos. É um sucesso reprodutivo que tem conseguido se manter. Podemos dizer que o mico-leão-dourado só sobreviveu porque os zoológicos ajudaram.”
Segundo a bióloga, para os animais que não podem voltar à natureza, o estresse da vida em cativeiro pode ser minimizado com atividades acompanhadas pelos tratadores. Para melhorar a função de “reserva”, programas de “zoológicos congelados” são a aposta de cientistas. O mais famoso do mundo é o Frozen Zoo, de San Diego, que conserva em tanques de nitrogênio líquido amostras genéticas de 10 mil indivíduos de mil espécies diferentes. O modelo da Califórnia serve de inspiração para o Departamento de Pesquisas Aplicadas, criado em 2013 no Zoológico de São Paulo.
Essa espécie de “arca de Noé” a ser construída na zona sul da capital paulista é o primeiro projeto do gênero em um zoológico da América Latina — e ainda está bem no começo.
A prioridade é guardar material da chamada lista vermelha, dos animais mais ameaçados de extinção. Por enquanto, são 400 as amostras de DNA armazenadas. O banco de sêmen, no entanto, tem somente o de muriqui-do-sul, primata nativo da Mata Atlântica, conhecido como mono-carvoeiro. “A gente está caminhando na questão da conservação. Um zoológico não pode ser mais simplesmente comprar um bilhete e entrar para ver bichos”, diz Patrícia Locosque Ramos, bióloga que coordena o departamento. “Há gente a favor e contra os zoológicos, mas nós precisamos trabalhar com o mesmo intuito, que é o de ajudar. O importante é o bicho.”
Arca de Noé em nitrogênio
Saiba como os “zoológicos congelados” preparam seu acervo
Só um pedacinho
O material — parte de tecido, sangue, esperma ou óvulo — é colhido do animal e levado para laboratório.
Registro
As amostras colhidas  são analisadas, a fim de checar se estão boas para uso no futuro, e catalogadas.
Hora de gelar
Os tubos com material genético são conservados em tanques de aço com nitrogênio líquido a cerca de -120°C.
Mortos-vivos
Os pesquisadores podem descongelar essas células vivas “adormecidas” em cerca de 20 minutos.
Fonte: San Diego Zoo
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