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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Casais mais velhos optam por seleção de embriões para evitar síndromes


15/11/2014 05h00 - Atualizado em 15/11/2014 05h00

Casais mais velhos optam por seleção de embriões para evitar síndromes

Risco de ter bebê com síndrome genética aumenta em mães mais velhas.
Defeitos em 5 cromossomos são responsáveis por 95% das malformações.

Mariana Lenharo
Do G1, em São Paulo

Fernanda Camargo Demário e seu marido, Eduardo, optaram pela seleção genética de embriões (Foto: Fernanda Camargo Demário/Divulgação)Fernanda Camargo Demário e seu marido, Eduardo, optaram pela seleção genética de embriões (Foto: Fernanda Camargo Demário/Divulgação)
A seleção genética de embriões tem sido cada vez mais procurada por casais que temem ter bebês com doenças genéticas, problema mais comum quando a mãe é mais velha. Essa técnica prevê uma análise dos cromossomos dos embriões para verificar se possuem alguma alteração. Anomalias cromossômicas podem determinar síndromes como a de Down ou a de Turner, por exemplo. Com base nos resultados dessa análise, é possível selecionar aqueles embriões livres desse tipo de falha para implantá-los na fertilização in vitro.
A estratégia pode ser usada por casais que já têm um filho com uma síndrome genética e buscam diminuir os riscos de que o próximo filho tenha o mesmo problema. Também pode ser usada para que o bebê tenha compatibilidade com um irmão mais velho que tenha alguma doença que necessite de transplante de medula óssea, por exemplo.
Mas, segundo o médico geneticista Ciro Martinhago, é cada vez mais comum que casais que nunca tiveram outros filhos busquem a técnica temendo o risco aumentado de síndromes genéticas quando a mulher é mais velha. “Hoje, as mulheres estão deixando para ter filhos mais velhas. Acima dos 35 anos de idade, a mulher começa a produzir óvulos com alterações genéticas. Isso faz com que ela tenha um risco aumentado de ter bebês com síndrome de Down e outras alterações cromossômicas, e também aumenta o risco de infertilidade ou aborto”, diz o especialista.
O ginecologista Flávio Garcia de Oliveira, especialista em reprodução humana, também percebe essa preocupação entre seus pacientes. “Quando a mulher passa dos 38, 39 anos, começa a ficar preocupada em ter filho com algum problema. O casal entra na consulta e já pergunta qual é o risco de isso acontecer”, diz. Segundo Oliveira, estudos mostram que, em uma mulher de 25 anos, 80% dos óvulos são normais. Quando chega aos 40 anos, isso se inverte: a maioria dos óvulos passam a ter alguma anormalidade.
Esses números preocuparam Fernanda de Camargo Demário, de 40 anos. Ela e o marido resolveram ter filhos recentemente. “Quando comecei a pesquisar sobre gravidez com essa idade, vi que os riscos são vários, inclusive o aumento de síndromes genéticas”, conta.
Se é uma coisa tão planejada, que demorou tanto tempo para decidir, por que não incluir isso no planejamento -- buscar aconselhamento genético?"
Fernanda Demário
A preocupação levou o casal a se decidir por uma fertilização in vitro, para que pudessem selecionar os embriões saudáveis. “Não tentamos pelo método natural, fomos direto para a fertilização in vitro porque é a única que dá a chance de analisar os embriões”, diz. “Pensamos: se é uma coisa tão planejada, que demorou tanto tempo para decidir, por que não incluir isso no planejamento? Ir até a clínica e buscar aconselhamento genético”, acrescenta Fernanda.
Ela e o marido também levaram em conta que, com a seleção dos embriões, as chances de sucesso da gravidez são maiores do que sem a seleção. “Perder o bebê também é um processo doloroso. Esse é um jeito de melhorar nossas chances de sucesso e evitar problemas na gravidez e no futuro.”
Oliveira confirma que embriões com um conjunto normal de cromossomos têm maior chance de sucesso na fertilização in vitro.
De acordo com Martinhago, defeitos em 5 cromossomos são responsáveis por 95% das malformações congênitas. A análise cromossômica dos embriões permite identificar síndromes como a de Down, a de Turner, a de Patau, a de Edwards e a de Klinefelter.
O geneticista explica que analisar o cromossomo é como analisar o genoma de uma forma mais grosseira. “Enxergo o DNA em grandes porções. Dentro de um cromossomo, existem milhares de genes”, diz. Segundo Martinhago, no futuro deve ser possível fazer a análise genômica dos embriões. Mas, para que isso seja permitido, é preciso resolver questões éticas.
A resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que define as regras da reprodução assistida, lançada em 2010, permite que a seleção de embriões seja usada em casos de prevenção ou tratamento de doenças. Não é permitido, porém, que a seleção busque a escolha do sexo do bebê.

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Comentário de Iara  Antunes de Souza:

A seleção terapêutica de embriões ocorre junto ao aconselhamento genético pré-implantatório, que é aquele que visa detectar possíveis deficiências cromossômicas ou alterações genéticas nos embriões in vitro, antes se sua transferência ao útero materno. Trata-se de procedimento médico junto à reprodução humana assista.
No Brasil, a norma que regulamenta a prática médica na reprodução humana assistida é a Resolução n. 2013/2013 que permite a seleção terapêutica de embriões: “VI - DIAGNÓSTICO GENÉTICO PRÉ-IMPLANTAÇÃO DE EMBRIÕES 1 - As técnicas de RA podem ser utilizadas acopladas à seleção de embriões submetidos a diagnóstico de alterações genéticas causadoras de doenças.”
Diante da permissão ética da prática, em especial diante do risco de doenças e deficiências genéticas no caso de a gestante ter mais de 35 anos, tem-se como positiva a prática. Entretanto, inquieta-se com a possibilidade de que a busca por um filho livre de doenças e deficiências genéticas perfaça uma espécie de eugenia negativa. Diferente da eugenia positiva, que tem sentido negativo e segrega o ser humano em razão de certas características; a eugenia negativa, em sentido positivo, permite que se façam escolhas genéticas propiciando o nascimento de crianças saudáveis, sem doenças ou deficiências.Ocorre que, a longo prazo, a dita eugenia em sentido positivo pode ganhar sentido negativo quando se deixar de ter políticas públicas de saúde e cuidados para os que nascerem com doenças ou deficiências, se a escolha embrionária não for perpetrada.
Assim, considerando a necessidade de responsabilidade pelas futuras gerações, é necessário que o ser humano pense nas consequências de suas ações. Ainda que imediatamente as consequências sejam positivas, mediatamente podem não o ser.
Iara Antunes de Souza
Doutoranda e Mestre em Direito Privado pela PUC Minas – Bolsista CAPES/PROSUP.
Especialista em Direito Processual e Direito Civil. http://lattes.cnpq.br/0058010358863049
Pesquisadora do Centro de Estudos em Biodireito - CEBID: www.cebid.com.br
Professora Assistente II do Departamento de Direito da Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP: http://www.direito.ufop.br/
Advogada do NAJOP/UFOP
Vice Coordenadora do Comitê de Ética em Pesquisa da UFOP - CEP/UFOP

Referência
SOUZA, Iara Antunes de. Aconselhamento Genético e Responsabilidade Civil: As Ações por Concepção Indevida (Wrongful Conception), Nascimento Indevido (Wrongful Birth) e Vida Indevida (Wrongful Life). 1. ed. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2014. v. 1. 164p .

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CEBID - Centro de Estudos em Biodireito

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