Hospital das Clínicas se prepara para fazer transplante de múltiplos órgãos
Cirurgia envolve substituição de estômago, intestino, pâncreas e fígado.
Transplante só foi realizado com sucesso no Brasil pelo Einstein, em 2012.
O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) prepara-se para realizar o primeiro transplante multivisceral do Brasil por uma instituição pública. A cirurgia, que é a mais complexa do sistema digestivo, envolve a substituição de vários órgãos de uma só vez.
De acordo com o cirurgião Luiz Augusto Carneiro D’Albuquerque, diretor do Serviço de Transplante e Cirurgia do Fígado do HC, a instituição vem se preparando para o procedimento há dois anos. Um investimento de R$ 2,4 milhões do Ministério da Saúde permitiu que 20 profissionais fizessem treinamento no exterior.
Quatro pacientes com indicação para a cirurgia já aguardam pelo procedimento no HC. Um deles, que tem mais gravidade, deve ser operado em três ou quatro semanas, de acordo com Carneiro. “Esse rapaz tem um tumor de pâncreas grande com múltiplas metástases no fígado e no intestino. O tratamento ideal envolve a retirada de todos os órgãos do aparelho digestivo.”
O primeiro procedimento do tipo no Brasil foi feito no ano passado pelo Hospital Israelita Albert Einstein, também em parceria com o Ministério da Saúde. Atualmente, o transplante multivisceral não está previsto nos protocolos que regulamentam os transplantes no país.
Especialistas esperam que o procedimento seja incluído na revisão da portaria que regulamenta o assunto, que está sendo preparada pelo Ministério da Saúde. De acordo com a pasta, ainda está em avaliação a inclusão do procedimento multivisceral. "Atualmente existem processos de solicitação de credenciamento de três hospitais de São Paulo para realizar esse tipo de transplante: Hospital Albert Einstein, Beneficência Portuguesa e Hospital das Clínicas – USP", afirmou o ministério, em nota.
Indicações
O transplante multivisceral consiste na substituição, de uma só vez, do estômago, duodeno, intestino, pâncreas e fígado. Os órgãos são retirados em bloco, de um único doador, e transplantados para o paciente em uma única cirurgia. O procedimento tem várias indicações.
Crianças que nascem com torções no intestino devido a falhas genéticas ou defeitos congênitos podem ser candidatas ao procedimento. Assim como pacientes que se submetem a cirurgias recorrentes devido a doenças inflamatórias do intestino, como a doença de Crohn. A indicação ainda pode ocorrer por tumores com metástase ou por entupimento de veias abdominais.
Segundo Carneiro, atualmente, quem precisa do transplante não tem alternativa no Brasil. “Hoje, esses transplantes são feitos por ordem judicial em outros países. Alguns, que têm a sorte de ter bons advogados que conseguem essa decisão na justiça, vão para o exterior”, diz.
O cirurgião calcula que existam de 400 a 600 brasileiros que poderiam ser beneficiados com o procedimento. “Trazer essa tecnologia para o país é importante. Vamos poder tratar nossos pacientes e abrir mais uma possibilidade terapêutica, além de gerar experiência”, diz
Pioneiro
O Hospital Israelita Albert Einstein foi o primeiro a realizar o transplante multivisceral no Brasil, no ano passado. Segundo o cirurgião do aparelho digestivo Sérgio Paiva Meira Filho, do Einstein, a paciente foi uma mulher de 54 anos que tinha um quadro de cirrose hepática com indicação de transplante de fígado.
O fato de ela apresentar trombose venosa no abdômen fazia com que ela não pudesse receber apenas o fígado, mas todo o bloco de órgãos do sistema digestivo em conjunto.
Segundo Meira Filho, a inclusão do transplante multivisceral na portaria que regulamenta os transplantes no Brasil seria um passo importante. “Existe a demanda no Brasil, mas não existe ninguém que faça. Esses pacientes não têm acesso. Precisa ter credenciamento de equipes especializadas e hospitais especializados", afirma.
O especialista acrescenta que, nos Estados Unidos, essa cirurgia é feita com mais frequência e há mais tempo. Lá, um transplante desse tipo custa cerca de US$ 1 milhão, segundo o cirurgião.
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CEBID - Centro de Estudos em Biodireito
A questão dos transplantes em nosso país se insere em um campo bastante polêmico, tendo em vista as repercussões causadas. Os reflexos recaem em vários campos tais como biológico, social, econômico, dos direitos humanos , bem como o religioso, o qual é o pivô de muitos debates e discursões, mas que por ser uma questão complexa não será explanada neste momento.
ResponderExcluirPor se tratar de proteção à vida e à saúde, há uma grande receptividade no que tange aos meios e condições que visem a promover e potencializar ações concernentes à vida e a saúde.
Apesar de ser um transplante ainda novo, pouco explorado em nosso país, motivo pelo qual tem grandes implicações no âmbito econômico, que requer um alto investimento, mas que não enseja em um não incentivo e exploração, visto que cabe ao estado interferir como custeador de tal procedimento, devendo ao mesmo proporcionar aos indivíduos o direito social, à saúde, conforme dispõe o artigo 6º, caput, da CF/88.
Concomitantemente compete incentivar e promover fundos e investimentos nesta área de forma a importar a técnica bem como regulamentá-la, gerando como conseqüência uma prática/técnica mais acessível aos que dela necessitam para viver.
A regulamentação visaria, dentre outros motivos, garantir a segurança jurídica, no que tange a disciplinar as condutas, na forma correta do procedimento à ser utilizado, bem como em quais situações seria cabível tal intervenção.
Destarte, promovendo a aliança entre a aplicação da constituição federal, em seus artigos 1º ( dos princípios fundamentais), 5º ( dos direitos e garantias fundamentais), bem como a aplicação do Codigo Civil de 2002 em seus artigos 13 e 14, concomitantemente as leis esparsas., no intuito de buscar atender ao interesse social.