Família de aposentada que morreu após receber sopa na veia vai mover ação contra hospital
Santa Casa de Barra Mansa está apurando o caso, mas não acredita que erro tenha provocado a morte; Coren já havia afastado funcionários do estabelecimento
RIO E BARRA MANSA - Parentes da aposentada Ilda Vitor Maciel, de 88 anos, vão entrar com uma ação contra a Santa Casa de Misericórdia de Barra Mansa, no Sul Fluminense, com pedido de indenização por causa da morte da idosa. Segundo a família da vítima, uma técnica de enfermagem injetou sopa na veia do braço direito da idosa, em vez de injetar o alimento na sonda que a alimentava. Ilda estava internada desde o dia 27 de setembro, após sofrer Acidente Vascular Encefálico (AVC) que paralisou um lado de seu corpo, e morreu 12 horas após receber a sopa na veia. Ela foi enterrada na terça-feira, no Cemitério Municipal de Barra Mansa.
O Conselho Regional de Enfermagem (Coren-RJ) enviou uma equipe de fiscalização à Santa Casa, para apurar o caso e verificar se há registro do profissional. Segundo o Coren, em 3 de agosto, o hospital passou por uma fiscalização do conselho e do Ministério Público, quando foram afastadas 36 pessoas por exercício ilegal da profissão. Segundo nota do conselho, a direção da Santa Casa não quis informar o nome do funcionária, nem seu registro.
— Assim que aplicaram a sopa na veia do braço direito dela, imediatamente minha mãe começou a se mexer aflita com uma das mãos e colocava a língua para fora da boca. Sai correndo pela enfermaria para pedir ajuda a outra enfermeira. Depois outra enfermeira veio e colocou a sopa na sonda e perguntou quem tinha feito aquilo — disse Ana Rute Maciel dos Santos, filha da aposentada.
Ainda segundo ela, apareceu um médico e perguntou se a aposentada já tinha tido outras reações e como que ele estava sentindo naquele momento.
— Respondi que não, e que era a primeira vez que via minha mãe se batendo e aflita daquele jeito. O médico passou um medicamento e disse que era para ela dormir. O AVC paralisou apenas o lado esquerdo do corpo da minha mãe — explicou Ana Rute, que, já na madrugada de segunda-feira, procurou a técnica de enfermagem responsável pelo erro, que, de acordo com Rute, aparentava 40 anos e identificou-se apenas como Ana.
O corpo da aposentada foi submetido a um exame de necropsia no Instituto Médico Legal. A direção da Santa Casa reconheceu o erro da funcionária, mas não acredita que ele tenha relação com a morte da paciente. Eles esperam pelo resultado do laudo do Instituto Médico Legal (IML) de Volta Redonda, que deve ficar pronto em 30 dias, e informaram que foi aberto um processo interno na Ouvidoria da Santa Casa para esclarecer o caso.
— Em função do equívoco e da dúvida que ficou é que nós resolvemos, e partiu da Santa Casa, conversar com os parentes para que o corpo fosse removido até o IML para fazer a necropsia. A própria ouvidoria da Santa Casa abriu o processo interno, que já está em andamento — afirmou Álvaro Freitas, diretor administrativo da Santa Casa.
Nesta quarta-feira, a diretora técnica Maria Hercília Fiuza Farias da Silva disse que a técnica de enfermagem faz plantão de 12 por 36 horas e ainda está em período de folga.
— Mas ela certamente será ouvida. Nós não temos certeza do que aconteceu — disse a médica, acrescentando que a técnica de enfermagem ficará afastada temporariamente, pelo menos das funções que poderiam ocorrer o mesmo problema.
Já o assessor jurídico da Santa Casa de Barra Mansa, Marcus Vinicius Cardoso de Sá e Faria, explicou que o processo administrativo começa na ouvidoria do hospital, com a reclamação da família:
— A enfermeira ainda não foi ouvida. Vamos apurar primeiro com ela, e, se for o caso, se eventualmente for constatada alguma irregularidade, serão tomadas as medidas cabíveis.
Para Luiz Gonzaga Maciel, de 53 anos, a causa da morte de sua mãe foi o erro da técnica de enfermagem.
Ele reclamou que até a tarde de quarta-feira a família não tinha sido procurada pela direção do hospital. Segundo Luiz, a mãe trabalhou muitos anos como auxiliar de serviços gerais para uma firma que prestava serviço de limpeza na usina Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda.
Outro filho de Ilda, Sebastião Maciel Ferreira, afirmou que a mãe vinha apresentando melhoras: entendia o que ele falava e apertava a mão dele com força. Já o neto, Mauro Ferreira, estava revoltado.
— Quero que seja feita justiça para que isso não venha a ocorrer com mais ninguém – disse Mauro.
À Rede Globo, ele disse que conversou com a avó no domingo, e ela entendia o que ele falava:
— Dei minha mão na mão dela e ela apertava com uma força danada.
Viúva, mãe de 14 filhos, avó de 40 netos e com 10 bisnetos, Ilda morava no bairro Vila Maria, em Barra Mansa. Os filhos disseram que a mãe era uma pessoa feliz e que diariamente telefonava para saber notícias de todos os parentes dela.
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CEBID - Centro de Estudos em Biodireito
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