Índice é maior que o da média do país, de 13,6, e da meta para 2015, de 15.
Foram 331 cirurgias de coração, córnea, rim e fígado no primeiro semestre.
Um levantamento da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos apontou que oDistrito Federal é a terceira unidade da federação com o maior número de cirurgias desse tipo, atrás apenas de Santa Catarina e do Ceará. Os dados foram coletados no primeiro semestre de 2012.
A capital do país vai comemorar o Dia Nacional da Doação de Órgãos, celebrado nesta quinta-feira (27), com sessões simuladas de hemodiálise na Rodoviária do Plano Piloto e no Aeroporto JK. O DF tem índice de 19,5 doadores por milhão de habitantes. O número é superior à média do país – 13,6 – e à meta do Brasil para 2015 – 15.
Entre janeiro e junho deste ano, a Secretaria de Saúde fez 331 cirurgias de coração, córnea, rim e fígado, contra 189 procedimentos no mesmo período do ano anterior – um aumento de 75%. Dados da pasta apontam que 23% dos órgãos vieram de outros estados, como Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Segundo a coordenadora da Central de Captação de Órgãos da Secretaria de Saúde, Daniela Salomão, os números só são possíveis graças a uma mudança na postura da população e a parcerias com o Ministério Público, as Forças Armadas, o Corpo de Bombeiros e o Samu.
“Para o país em que nós vivemos, com a nossa cultura, com o nosso desenvolvimento e considerando que transplante é uma coisa nova, são números muito bons. Mas isso não significa que a gente não possa melhorar. E muito”, diz.
O objetivo, de acordo com a coordenadora, é fechar 2013 com índice de 20 doadores por milhão e em três anos atingir 25, número equivalente ao dos Estados Unidos. Uma das frentes de trabalho para alcançar a meta é convencer as pessoas da importância da doação. No primeiro semestre deste ano, 38% das famílias se negaram a doar os órgãos de parentes com morte cerebral.
Atualmente, a fila de espera conta com 13 pessoas aguardando por um fígado, 13 por córnea e 179 por rim. O DF tem seis equipes médicas habilitadas para a realização de transplante. A secretaria informou que pretende começar ainda neste ano as cirurgias de pulmão e pâncreas e iniciar no ano que vem a de medula óssea.“A gente ainda tem muita recusa, mas isso é algo histórico. Antigamente as pessoas tinham muito medo da doação”, afirma. “Hoje em dia elas entendem o diagnóstico de morte encefálica. Mas acontece muito aqui no Distrito Federal que não ter nenhum familiar presente e eles ficarem inseguros de, estando em outro estado, autorizar a doação.”
Cumplicidade
Na casa da vendedora de vidros Iracilda Rocha, a palavra transplante nunca teve um sentido ruim. Há dez anos ela retirou um terço do fígado para doar à primeira filha, que tinha então oito meses. As cicatrizes que a duas levam na barriga, segundo a mãe, são como um troféu.
Na casa da vendedora de vidros Iracilda Rocha, a palavra transplante nunca teve um sentido ruim. Há dez anos ela retirou um terço do fígado para doar à primeira filha, que tinha então oito meses. As cicatrizes que a duas levam na barriga, segundo a mãe, são como um troféu.
A cirurgia durou cerca de 12 horas e por 40 dias Iracilda não pôde pegar a filha no colo. Para a mãe, a experiência só aumentou a ligação entre elas. “Quando ela tinha três aninhos, disse para os coleguinhas e para a professora: ‘eu sou a cara do meu pai, mas o fígado é da minha mãe. Eu tenho um pedacinho dela dentro de mim’. Ela vivia repetindo isso.”
Após o transplante, a vendedora conta que a filha voltou ao hospital diversas vezes para lidar com as consequências da cirurgia e dos remédios. Em 2008, Ana Júlia foi diagnosticada com um linfoma não-hodgkin e teve que largar todas as atividades que fazia para se submeter à quimioterapia.
“Hoje em dia ela só toma o imunossupressor para evitar que haja rejeição e isso é provavelmente a causa do câncer. A Juju já passou por várias fases, mas ela está ótima. Ela tem a barriga toda cortadinha, mas é super bem resolvida. É uma criança normal mesmo. Brinca, vai na piscina, come de tudo.”
Iracilda afirma que o transplante foi o renascimento da filha. “Minha única vontade era vê-la viva. Quando você faz uma cirurgia dessas, você assina um termo de responsabilidade. Eu tinha 28 anos, meu tio não queria deixar. Mas eu disse: ‘se fosse a sua filha, você não faria? Porque eu vou fazer.’ E digo isso até hoje: pode doar. Com o doador, não acontece nada. Por outro lado, tem ali uma pessoa que depende disso para continuar.”
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