24/03/2012 08h51 - Atualizado em 24/03/2012 09h10
Casais enfrentam anos de espera para fazer fertilização na rede pública
Verônica Salviano, de SP, deu luz a Gabriela depois de quatro anos na fila.
Katiana Paz, de AL, aguarda há dois anos para fazer o procedimento.
Amanda Rossi
Do G1, em São Paulo
A felicidade de Verônica Salviano, 34 anos, com o nascimento da filha Gabriela não cabe em adjetivos. “Foi uma sensação tão maravilhosa, tão linda, tão gostosa, eu não sabia se chorava ou se ria, estava em estado de graça”, lembra, emocionada. O parto ocorreu em dezembro de 2010, após quase sete anos de tentativas para realizar a fertilização in vitro na rede pública.
“Foi uma sensação tão maravilhosa, tão linda, tão gostosa, eu não sabia se chorava ou se ria, estava em estado de graça"
Verônica Salviano, após a fertilização
Apesar de não constar na tabela do SUS, a fertilização in vitro é oferecida gratuitamente em pelo menos oito hospitais no Brasil, que realizam cerca de dois mil procedimentos por ano. Segundo gestores de programas de fertilização públicos ouvidos pelo G1, este número é incapaz de atender a demanda, o que aumenta o tempo na fila de espera.
A fertilização in vitro é uma técnica de reprodução assistida onde óvulo e espermatozoide são fecundados em laboratório. Depois, o embrião é implantado diretamente no útero na mãe. A técnica tem mais sucesso que a inseminação artificial, mas também é mais cara. Em clínicas particulares, o custo de uma tentativa gira em torno de R$ 15 mil a R$ 20 mil, mas pode ir a R$ 50 mil. A chance de engravidar na primeira tentativa é de cerca de 30%, dependendo da idade da mulher.
Gabriela, hoje com um ano e três meses, nasceu após quase sete anos de tentativa dos pais de realizar a fertilização in vitro na rede pública. (Foto: Flavio Moraes / G1)
Gabriela
Verônica tinha 25 anos quando procurou ajuda para engravidar pela primeira vez. A fertilização in vitro era a única opção, já que seu marido tinha passado por vasectomia há mais de 15 anos. O casal, de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, desistiu assim que ouviu o valor do tratamento: em torno de R$ 20 mil na época. “Era muito caro, fora da nossa realidade”, conta.
Dois anos depois, eles descobriram que o Hospital Pérola Byington, em São Paulo, oferecia fertilização in vitro gratuitamente. Verônica pegou a senha, fez todos os exames e finalmente entrou na fila em 2004.
“Nós íamos para o hospital [buscar informações] e nossa senha nem se mexia. Era frustrante, porque a gente não tinha dinheiro para ir para uma clínica particular e eu ficava preocupada com minha idade”, conta Verônica. As chances do procedimento ter sucesso diminuem conforme a mulher fica mais velha.
Após uma espera de quatro anos, ela e o marido foram finalmente chamados em 2008. Um tipo raro de problema nas trompas de Verônica dificultou o processo e só no final de 2010 o sonho de ter um filho se realizou.
“Apesar de tanto sofrimento, eu não desisti”, se emociona a mãe de Gabriela, que está com um ano e três meses. "Estava em um hospital público, mas de primeiro mundo. Se não fosse ele, eu não teria condições financeiras".
Na fila
Katiana Paz, de Maceió, alimenta o mesmo sonho de Verônica. Há 9 anos ela e o marido Wellington tentam ter um filho, sem sucesso.
“Fui para um especialista em fertilização, fiz exames e ele descobriu que eu tinha um probleminha, meu esposo também”, lembra. A única opção para o casal era a fertilização in vitro.
“O médico disse que a fertilização custava R$ 15 mil a tentativa. Fiquei desesperada. Este valor pode ser pouco para quem tem condições, mas para quem não tem é uma fortuna”, afirma. A notícia fez Katiana e o marido adiarem os planos.
Eu disse: meu Deus, é verdade? É um tratamento tão caro que eu nem acreditei que era oferecido na rede pública"
Katiana Paz
Em 2010, eles descobriram que uma instituição em Recife, o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), oferecia a fertilização de forma gratuita.
“Eu disse: meu Deus, é verdade? É um tratamento tão caro que eu nem acreditei que era oferecido na rede pública", conta.
Desde então, Katiana e Wellington começaram a fazer viagens quase mensais para Recife para realizar os exames e se preparar para o procedimento. Segundo ela, sua senha está chegando e eles estão “na porta” da fila. Eles terão duas tentativas e estão bastante otimistas. Wellington acha que o casal conseguirá ter duas meninas e já está planejando reformas na casa para receber os bebês.
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CEBID - Centro de Estudos em Biodireito
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