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segunda-feira, 27 de abril de 2015

Colombia close to legal euthanasia



Colombia’s Health Ministry has finally drawn up guidelines for voluntary euthanasia, 18 years after the country’s supreme court ruled that it was a constitutional right. Health Minister Alejandro Gaviría told media that only competent adults would be able to request the procedure, that only patients with a terminal illness would be eligible, and that if the patient is unconscious, relatives must present audio, video, or written proof that he wanted to be euthanased. Minors and patients with degenerative diseases will not be able to receive a lethal injection.
Despite the 1997 ruling, Colombian law-makers dragged their heels on the issue and never drafted protocols. As a result, doctors feared that they could be charged with homicide if they helped someone to die.
The Catholic Church, one of the principal opponents of euthanasia in Colombia, was scathing in its comments. It told the Health Ministry that legalisation “is a grave attack against the dignity of the ill and against the sanctity of the basic right to life, enshrined in Article 11 of the Constitution.”
 “It would be good, Mr. Minister,” it said in a letter, “if your ministry, so interested in regulating euthanasia and abortion, put the same effort into finding an effective solution to the crisis in the health-care sector and the needs of the poorest”.










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Bebê que viveu apenas 100 minutos é o mais jovem doador de órgãos

Bebê que viveu apenas 100 minutos é o mais jovem doador de órgãos

Em Londres


Um bebê que viveu apenas 100 minutos se tornou a pessoa mais jovem a doar órgãos no Reino Unido. A história de Teddy Noah Houlston ocorreu há um ano, mas só foi revelada nesta quinta-feira (23) pelo jornal britânico "Mirror".
Os pais do bebê, Jess Evans e Mike Houlston, souberam da gravidez de seu primeiro filho ao retornar de uma viagem de Amsterdã (Holanda). Nos primeiros exames, eles descobriram que teriam gêmeos e contam que a notícia foi rapidamente espalhada entre seus amigos e conhecidos.   
Porém, quando Jess estava na 12ª semana de gestação, os pais descobriram que um dos bebês teria uma doença rara e que não sobreviveria mais do que um dia. Apesar do diagnóstico terrível para o casal, após debaterem sobre a situação, eles decidiram que levariam a gravidez adiante e que "um momento ou 10 minutos ou uma hora com o filho seria a mais preciosa experiência que poderiam ter".   
Alguns médicos que atenderam a mãe sugeriram que ela abortasse o pequeno Teddy, mas os dois decidiram que iriam ter o filho para poder doar seus órgãos. Ao tomar a decisão, eles descobriram que o que iriam fazer era algo muito "fora do comum" e organizaram toda a situação com a ajuda da equipe médica do hospital que escolheram.  
Assim que ambos nasceram, primeiro Noah Teddy, depois o pequeno Teddy Noah, eles puderam passar menos de duas horas com o último. A enfermeira especialista já estava de prontidão para realizar a cirurgia assim que o neném recém-nascido deixasse de respirar.
Jess e Mike definiram o momento como "de dor no coração e esperança".
Assim que a cirurgia foi realizada, os rins do neném, que mediam 3,8 centímetros, e as válvulas cardíacas foram retirados e transplantados em pessoas adultas. Com o homem que recebeu os rins, os dois mantêm correspondência até hoje.  
Mesmo com o pouco tempo de vida, o casal guardou em um urso de pelúcia as batidas do coração de Teddy e o brinquedo se tornou um dos favoritos de Noah. Os dois também aparecem em uma foto juntos, para que o menino possa conhecer o irmão.
Antes de Teddy, a doadora mais jovem do Reino Unido era uma menina de cinco dias que nunca teve a identidade revelada.   
Atualmente, o país tem 7.000 pessoas aguardando na fila do transplante de órgãos e os médicos esperam que a atitude dos pais do menino inspire outras pessoas a serem doadoras também.



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Indiano pensa em vender rim para ajudar filhos com obesidade grave


18/04/2015 05h00 - Atualizado em 18/04/2015 05h00

Indiano pensa em vender rim para ajudar filhos com obesidade grave

Anisha, de 3 anos, é a filha mais pesada, com 48 kg.
Família não tem dinheiro para procurar atendimento especializado.

Do G1, em São Paulo
Yogita, Harsh e Anisha têm, respectivamente, 34 kg, 15 kg e 48 Kgs (Foto: Tanzeel Ur Rehman/ Cover Asia Press)Da esquerda para a direita, Yogita, Harsh e Anisha têm, respectivamente, 34 kg, 15 kg e 48 Kgs (Foto: Tanzeel Ur Rehman/ Cover Asia Press)


Na Índia, duas meninas e um menino extremamente obesos são motivo de desespero para os pais, que mal têm dinheiro para alimentá-los, e temem que os três irmãos acabem morrendo se não receberem tratamento médico adequado.
Yogita tem 5 anos e 34 kg, Anisha tem 3 anos e 48 kg, e o pequeno Harsh tem 15 kg aos 18 meses de idade.
O pai Rameshbhai Nandwana disse à agência Cover Asia Press que tem a intenção de vender um rim para conseguir tratamento para suas crianças, que comem em uma semana o que uma família indiana consome em um mês.
Segundo o diário britânico "Mirror", Harsh toma oito copos de leite ao dia, enquanto Yogita e Anisha ingerem 8 pães do tipo chapati, 2 kg de arroz, três tigelas de ensopado, seis pacotes de salgadinhos, cinco pacotes de biscoitos, uma dúzia de bananas e um litro de leite, também diariamente.
A mãe passa o dia na cozinha enquanto o pai sai para trabalhar por um salário -- cerca de R$ 160 -- insuficiente para comprar toda essa comida. Se não ganham mais alimentos, as crianças começam a chorar e gritar. Por causa do peso, elas não conseguem andar.
A família, que vive na cidade de Gujarat, no oeste da Índia, já fez consultas com médicos locais, que acreditam que as crianças tenham síndrome de Prader Willy, que causa descontrole de apetite. No entanto, caso o diagnóstico seja correto, eles tampouco saberiam o que fazer para tratar a doença. Por isso, mandaram os meninos para médicos em hospitais maiores, que, por sua vez, o pai não pode pagar -- daí a ideia desesperada de vender um rim.


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sexta-feira, 24 de abril de 2015

Homem Russo será primeiro a receber transplante de cabeça na história


Homem Russo será primeiro a receber transplante de cabeça na história


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Esta semana, o Dr. Sergio Canavero, membro do Turin Advanced Neuromodulation Group, finalmente encontrou uma cobaia para a cirurgia inovadora: Valery Spiridonov, um homem de 30 anos de Vladimir, na Rússia, que sofre de uma doença genética rara chamada de síndrome de Werdnig-Hoffman, uma doença neuromuscular hereditária caracterizada pela atrofia e fraqueza muscular progressiva.

O procedimento

Canavero propôs a ideia pela primeira vez em 2013, e desde então vem defendendo o transplante de cabeça como uma maneira de prolongar a vida das pessoas com músculos e nervos degenerados ou órgãos permeados por câncer.
Em fevereiro desse ano, Canavero resumiu o procedimento de 36 horas que planeja seguir. Em resumo, é preciso resfriar o corpo do doador e a cabeça do destinatário, dissecar o tecido do pescoço, cortar e religar os vasos sanguíneos e fundir as medulas espinhais utilizando um produto químico que faz a gordura nas membranas celulares se conectarem. O paciente é mantido em coma por um tempo, depois da operação.
Mas será que é realmente possível fundir duas medulas espinhais e impedir que o corpo rejeite a nova cabeça? As últimas tentativas feitas em cães e macacos resultaram em animais que sobreviveram por alguns dias, apesar de um transplante de cabeça em ratos mais recente ter mostrado que o procedimento é basicamente possível. “Acho que estamos agora em um momento em que todos os aspectos técnicos são viáveis”, diz Canavero.

Muitas dúvidas

Valery se voluntariou para a primeira cirurgia do tipo em humanos porque quer a chance de um novo corpo antes de morrer. “Estou com medo? Sim, é claro que estou. Mas não é apenas muito assustador, é também muito interessante”, argumenta. “Você tem que entender que eu realmente não tenho muitas opções… Se eu não tentar isso, meu destino vai ser muito triste. A cada ano meu estado está ficando pior”, revela.
Mas, de acordo com especialistas como Hunt Bätjer, da Associação Americana de Cirurgiões Neurológicos, mesmo que as vias aéreas, coluna e grandes veias e artérias sejam fundidas com sucesso, a medula espinhal vai ser o problema real. “Eu não desejo isso a ninguém”, Bätjer afirmou. “Eu não permitiria que ninguém fizesse isso comigo. Há um monte de coisas piores do que a morte”. Por exemplo, o paciente pode não ser capaz de se mover ou respirar.
Arthur Caplan, da Universidade de Nova York (EUA), concorda com Bätjer. “Os corpos acabariam sendo sobrecarregados com muitos caminhos químicos diferentes do que estavam acostumados e ficariam loucos”, opinou. Além disso, a alta quantidade de remédios antirrejeição que a pessoa precisaria tomar poderiam envenenar seu corpo. Isso tudo para nem termos certeza de que o destinatário vai ganhar totalmente a função de seu novo corpo. “Não é como se você pudesse desparafusar uma cabeça e colocá-la em outra pessoa”, concluiu Caplan. [IFLS]


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Como é ser mãe de uma menina transgênero

Como é ser mãe de uma menina transgênero


“Mas mãe, eu sou menina!”. Mulher compartilha as dúvidas e alegrias de aceitar que sua filha é transgênero desde os quatro anos, e aposta nas pesquisas que apoiarão sua decisão



mãe maternidade transgênero criança menina menino

Marlo Mack compartilha as dúvidas e alegrias de aceitar que sua filha é transgênero desde os quatro anos, e aposta nas pesquisas que apoiarão sua decisão
Quando o suicídio da adolescente transgênero Leelah Alcorn ganhou as manchetes, meus amigos que têm filhos não-transgênero fizeram questão de me parabenizar pela maneira que educo minha filha: “Isso não vai acontecer com ela porque você está agindo de maneira diferente”, disseram. Pode ser verdade, mas eu ainda não tenho certeza. A verdade é que ninguém tem.
Minha filha, aos três anos, me disse que era uma menina. Ela me olhou nos olhos e disse, “Mamãe, alguma coisa deu errado na sua barriga que me fez sair menino ao invés de menina”. Ela queria voltar para dentro de mim para que ela pudesse sair de novo, como menina.
Desde os dois anos ela vinha implorando para que eu a vestisse com as roupas bonitas que ela via as outras menininhas vestirem e ficava obcecada com as coisas que meninas costumam amar, como princesas e fadas e cor-de-rosa. A princípio eu presumi que tudo aquilo era só uma fase. Eu disse que ela podia gostar de rosa e brincar com as bonecas, mas ela tinha um corpo de menino, então ela era menino. Quando ela continuou a afirmar que era menina, eu fiz o que os pais fazem – eu fui consultar especialistas. Eu levei minha filha para nosso pediatra e mais de um terapeuta, inclusive um psicólogo que se especializava em trabalhar com crianças como a minha – garotos que se sentem garotas, garotas que se sentem garotos.
Eu procurava respostas desesperadamente para minha longa lista de perguntas: será que eu devo permitir que minha filha troque de gênero aos quatro anos, ou devo obrigá-la a viver como menino? Que chance havia de que ela mudaria de ideia? Haveria algum dano a longo prazo se nós mudássemos de garoto para garota e então de volta para garoto? Por outro lado, quais eram os riscos de forçar uma criança a continuar a viver como garoto quando isso lhe causava tanta angústia?
Em todos os casos, os especialistas que eu consultei ofereceram as mesmas respostas para minhas perguntas. Eles não sabiam. Eles deram de ombros pedindo desculpas, deram alguns conselhos vagos, e admitiram que não há na verdade qualquer pesquisa confiável sobre crianças como a minha.
Então eu tive que improvisar. Meu impulso inicial não foi muito diferente daquele dos pais de Leelah Alcorn. Eu cheguei à conclusão de que minha filha era provavelmente um tipo mais incomum de garoto – quem sabe um garotinho gay que necessitava minha orientação. Essa é a premissa por trás da agora infame “terapia de conversão” a que Leelah Alcorn teve que se submeter numa tentativa de curá-la de sua identidade transgênero. E apesar disso disparar alarmes entre aqueles que consideram isso tão antiético e desumano quanto as terapias propostas pelo movimento “ex-gay”, a realiade é que esse tipo de tratamento ainda é praticado e promovido por alguns dos profissionais médicos mais influentes que trabalham atualmente com crianças transgênero.
Quando famílias com crianças pequenas como a minha buscam respostas na Clínica de Identidade de Gênero de Crianças e Adolescentes no Centro de Saúde Mental de Toronto, são recebidas por funcionários que não gastam tempo discutindo os lados positivos ou negativos de se experimentar com o sexo oposto. De acordo com o diretor da clínica, dr. Kenneth Zucker, uma vida adulta como transgênero constitui um resultado negativo, o resultado infeliz de um sistema familiar patológico centrado na mãe (claro…). Zucker argumenta que crianças como a minha não deveriam ter permissão para brincar com “brinquedos de menina” nem ter acesso a roupas ou cores femininas. Pelo contrário, esses jovens clientes são incentivados a se envolverem em atividades estereotipicamente masculinas e devem passar mais tempo com seus pais. Mãe como eu são aconselhadas a fazerem terapia para se arrancar a fonte do problema pela raiz, provavelmente um desconforto com masculinidade internalizado ou quem sabe um desejo intenso mas reprimido de que a criança fosse de outro gênero. Ainda mais confuso é o fato de que Zucker já escreveu que a arma do crime pode ser “indisponibilidade materna” ou, por outro lado, “excesso de proximidade” materno. (Apenas para você não cometer o erro de pensar que Zucker é um pária nos recantos distantes da prática freudiana, considere que em 2012 ele era membro do grupo de trabalho sobre desordens sexuais e identidade de gênero da Associação de Psiquiatria Americana, o painel de experts que literalmente escreveu o livro sobre como os profissionais da saúde mental devem avaliar e tratar os clientes transgênero.)
Logo no início eu experimentei uma variante mais suave do sistema de Zucker com minha filha. Eu tentei incentivá-la a fazer atividades mais “masculinas”, sugeri aulas de caratê quando ela pediu para entrar na aula de balé (nós chegamos a um meio-termo matriculando-a numa aula de ginástica olímpica mista). Ela queria um guarda-roupa todo cor-de-rosa; eu insisti em vermelho, roxo, azul pastel. Eu a incentivei a brincar mais com meninos e a passar mais tempo com seu pai.
Mas, em última instância, eu não consegui suportar a ideia de negar a minha filha as coisas que ela amava nem aguentei vê-la tão infeliz. Seu último natal como um garoto foi um desastre. Depois de abrir todos os presentes, ela sentou-se melancolicamente entre as pilhas de papel de embrulho rasgado e avaliou a coleção de caminhõezinhos novinhos em folha, equipamentos de esporte, blocos de montar, e bonequinhos de dinossauro. “Papai Noel não recebeu minha cartinha?”, ela perguntou.
Eu observei enquanto ela corajosamente tentava juntar algum entusiasmo por um caminhãozinho com rodinhas roxas e eu jurei que Papai Noel jamais destroçaria o coraçãozinho da minha filha novamente.
Mas o ponto decisivo de verdade aconteceu por volta de um ano depois que ela me contou que era uma menina pela primeira vez. Eu participei de um grupo de apoio para pais de crianças transgênero ou de gênero fora dos padrões e ouvi uma história que me deixou acordada à noite pelas semanas seguintes. Uma jovem mãe estava sentada na minha frente, do outro lado da mesa, soluçando enquanto abria o coração e nos contava o que aconteceu com sua filha de cinco anos quando um psicólogo local aconselhou um tratamento similar ao proposto por Zucker.
Eu escondi todas as bonecas dela, todas as coisas de que ela mais gostava. Eu disse a ele que ele era um menino e pronto, porque foi o que o psicólogo aconselhou que eu fizesse”, ela disse. Em poucos meses, aquela criança parou de falar e foi diagnosticada com depressão profunda. “Eu quase o perdi”, ela disse.
Essa história me assombrou porque minha filha havia começado recentemente a entrar num processo semelhante. Depois de meses lutando comigo (“Eu sou menina!”), a criança estava desistindo. Ela deixou de me corrigir quando eu usava o “nome de menino” que ela odiava, dava de ombros quando eu sugeria novamente que ela fizesse caratê, e observava silenciosamente com tristeza o brilho do rosa proibido no corredor “de meninas” da loja de brinquedos. Outra mãe do grupo de apoio havia presenciado o mesmo fenômeno com sua filha e descreveu isso perfeitamente: “Minha filha de quatro anos parecia ser um velho cansado”.
Eu decidi que já não dava mais. Eu sentei com minha filha, olhei nos olhos dela, e perguntei pela última vez: “Você quer mesmo ser menina?”.
Eu não quero ser menina, mamãe”, ela disse. “Eu usou menina.”
Três anos mais tarde, eu sou a mãe de uma filha transgênero de sete anos, esplendidamente feliz e confiante. Ela está entre as primeiras da classe, é popular na escola, e um sucesso em todos os aspectos. Eu tive a sorte de viver numa cidade que tem uma comunidade de famílias com crianças transgênero cúmplice e unida. Nós nos encontramos mensalmente para conversar sobre nossas lutas e nossos medos, trocamos anedotas, e incentivamos uns aos outros. Sentimos pesar pelos filhos e filhas que perdemos e nos deliciamos com os que ganhamos inesperadamente. Levamos nossos filhos para brincarem nas casas uns dos outros para que eles conheçam outras crianças como eles. (Se você quer saber como é alguém feliz de verdade, esteja no quarto quando duas garotas transgênero de seis anos se encontram pela primeira vez.)
Nós temos quase certeza de que estamos no caminho certo. Esperamos que sim, cheios de esperança. Nossos filhos, que já foram miseráveis num gênero, agora estão decolando no outro. Os pais “veteranos” – aqueles com filhos pré-adolescentes ou adolescentes cujos filhos fizeram a transição há mais de cinco anos – nos contam como seus filhos estão vivendo e eu fico pasma por como as vidas deles parecem ser totalmente comuns, como eles têm que lidar com os desafios prosaicos da adolescência: notas, comparação com os colegas, namoro, vestibular.
Mas apesar do retrato cor-de-rosa, a verdade é que na maior parte dos dias nós estamos voando cegos – e isso é muito assustador. Mesmo com todos os casos e histórias de sucesso que recolhemos, sem qualquer pesquisa consistente que nos apoie, nós pais ainda somos facilmente considerados (por Zucker e outros profissionais) como pais superliberais e sem pulso, ou birutas patológicos que de alguma forma corromperam e manipularam seus filhos para que vivessem como vivem agora.
Recentemente eu ouvi uma palestra de Aidan Key, um ativista transgênero famoso que foca seu trabalho em crianças como a minha. “O mundo está vigiando seus filhos”, Key disse para uma sala cheia de pais de crianças transgênero. “Eles são a primeira geração de crianças com a permissão para viverem em outro gênero. Seus filhos estão fazendo história.”
Suas palavras me deixaram arrepiada. Eu senti orgulho e medo: se tivessem essa escolha, quantos pais fariam a opção de seus filhos serem as cobaias num fascinante experimento social? Se houvesse a opção, claro, nós preferiríamos ter alguma ideia do que nos aguarda no futuro, algum indício de que meus amigos estão corretos quando me dizem que minha filha “não vai acabar como a Leelah, tadinha”.
Uma luz no fim do túnel apareceu no ano passado quando eu fiquei sabendo de uma pesquisa sendo feita na Universidade de Washington em Seattle. Conduzida pela psicóloga Dr. Kristina Olson, o TransYouth Project (projeto transjovem) é um estudo longitudinal a longo prazo de crianças dos EUA inteiro que fizeram a transição para outro gênero ainda no início da infância. Eu matriculei minha filha nele imediatamente.
Olson planeja acompanhar minha filha por toda a infância e além, conforme ela passa pela puberdade, atravessa o ensino médio, e entra na faculdade. A equipe de Olson vai conferir como está minha filha todos os anos, registrando seu desenvolvimento enquanto ela navega pelo mar revolto da pré-adolescência, tem seu coração partido por um garoto (ou garota?) no ensino médio, completa 18 anos e decide se quer realizar a cirurgia de adequação de gênero.
Olson admite que seu estudo tem limitações. “Como cientista, se eu vivesse num mundo imaginário, o estudo que eu realizaria dividiria essas crianças aleatoriamente em dois grupos: um que teria a permissão para viver no gênero diferente daquele com que nasceu, e outro que não. Mas eticamente nós jamais poderíamos fazer esse estudo, então nós fazemos o melhor possível.” Quem sabe um dia um pesquisador estudará esses dois grupos já adultos, fará comparações entre ele, e nós teremos uma boa noção de quem fez a aposta certa. (Não deve surpreender a ninguém que eu acredito que descobrirão que os métodos de Zucker são ineficazes e errôneos, se não danosos, pura e simplesmente.)
Enquanto isso, o estudo de Olson já revelou algumas coisas sobre as vidas das crianças vivendo como transgênero. Seus primeiros resultados, publicados na revista científica Psychological Science, valida minha própria experiência como a mãe de uma dessas crianças. “Em todas as avaliações que fizemos”, ela diz, “não é possível distinguir grupos de controle ou irmãos dos participantes transgênero da mesma idade. O que esses dados nos dizem é que essas crianças não estão apenas passando por uma fase. Pelo contrário, sua identidade de gênero parece ser uma convicção profunda.”
Eu prevejo que a pesquisa de Olson vai ser um marco histórico no debate sobre como cuidar da melhor maneira de crianças como a minha. “Em dez anos”, ela diz, “nós seremos capazes de começar a responder as perguntas que todos estão fazendo: como vai ser a vida de uma criança que, logo cedo, se identifica como transgênero? E como as decisões dos pais vai influenciar a vida dessa criança?”
Como a história de Leelah Alcorn já nos mostrou, compreender melhor as crianças transgênero não é apenas um exercício acadêmico interessante; é, literalmente, uma questão de vida ou morte.

Marlo Mack, Advocate. Tradução: Marcio Caparica, Ladobi




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'Olho as marcas e falo: essa sou eu', diz transexual que fez 14 cirurgias

1/04/2015 07h00 - Atualizado em 22/04/2015 09h23

'Olho as marcas e falo: essa sou eu', diz transexual que fez 14 cirurgias

Apenas 5 hospitais no país fazem cirurgia de mudança de sexo pelo SUS.
País tem avançado quando se fala em transexualidade, diz Maite Schneider.

Bibiana DionísioDo G1 PR
Maite Schneider tem 43 anos e realizou 14 cirurgias para mudar de sexo (Foto: Arquivo pessoal)Maite Schneider tem 43 anos e realizou 14 cirurgias para mudar de sexo (Foto: Arquivo pessoal)
Olhar-se no espelho e não se reconhecer na imagem fez com que Maite Schneider, que recebeu dos pais o nome de Alexandre ao nascer, realizasse 14 cirurgias para mudar de sexo. Duas delas a expuseram ao perigo. Na primeira, tentou retirar sozinho os testículos. Na segunda, foi e voltou do Paraguai no mesmo dia em uma nova tentativa de eliminar o órgão.
Aos 43 anos, Maite olha para o passado e agradece por ter sobrevivido. Para ela, ainda que timidamente, o país tem avançado quando se fala em transexualidade. Em especial, a partir de 2008, quando o Sistema Único de Saúde (SUS) começou a atender aqueles que optaram pelo processo transexualizador.
“Para quem está vivendo esse processo de mudança parece um caminho muito lento, mas em termos de evolução do que a gente não tinha e está conseguindo ter é uma grande conquista”, avaliou a transexual que vive em Curitiba e trabalha com depilação.
Em todo o Brasil, até 2014, o SUS realizou 6.724 procedimentos ambulatoriais e 243 procedimentos cirúrgicos em cinco serviços habilitados no processo transexualizador. Apenas, cinco hospitais, contudo, estão credenciados para a relização do procedimento pelo SUS, segundo o Ministério da Saúde.

“Só de você ter uma esperança, faz com que meninos e meninas não cometam loucuras como as que eu fiz. Eu não aconselho ninguém a fazer o que eu fiz. Hoje eu sei das burradas, mas na época eu achava que fazia o correto, com a convicção de ser o único caminho”, lembrou Maite.

Ainda que entenda a necessidade de se ter um cuidado extremo neste processo de mudança de sexo, que é irreversível, Maite acredita também que é preciso evoluir nas avaliações para a autorização da cirurgia.

Militantes dos movimentos sociais de divulgação e aceitação da transexualidade na capital paranaense, ela diz não serem raros os casos em que as pessoas mentem para se enquadrar no perfil traçado pelo SUS.
As cirurgias
O mito envolvendo a transexualidade ficou para trás na vida de Maite, porém, o processo para que hoje ela fale abertamente sobre o assunto foi doloroso. Não só para ela, mas também para a família.
Eu consigo me olhar no espelho, descontar as marcas que tenho hoje que fazem parte da minha história. Elas fazem parte do que eu passei, da minha trajetória. Eu olho as marcas e falo: essa sou eu"
Maite Schneider
Agora, Maite entende as marcas deixadas pelas cirurgias como parte da própria história, como marcas de uma trajetória. Por isso, ela não cogita fazer intervenções estéticas.

“Eu consigo me olhar no espelho e descontar as marcas que tenho hoje que fazem parte da minha história. Elas fazem parte do que eu passei, da minha trajetória (...). Eu olho as marcas e falo: essa sou eu”.

Com 30 anos, Maite decidiu retirar os testículos por conta própria. “Eu comprei fio sutura, bisturi, tudo e tentei fazer sozinha, mas não deu certo. Fiquei na internet durante seis meses, achei que era fácil retirar os testículos, mas não era tão fácil assim. Foi um caos”.
Ela desmaiou e foi levada para o hospital, onde a equipe médica reparou o corte.

Como o então objetivo não tinha sido alcançado, Maite decidiu ir ao Paraguai, onde havia uma clínica que fazia gratuitamente a cirurgia desde que o paciente tivesse o laudo indicação para cirurgia.

Tudo sem o conhecimento da família. “Eu fui, achando que estava fazendo a coisa certa. Era um clinica médica mesmo, super limpa”.

Maite diz que a previsão era de que a retirada dos testículos durasse duas horas, entretanto, devido às complicações, ela ficou oito horas no centro cirúrgico. Os médicos queriam suspender a intervenção, mas Maite não deixou e ameaçou a equipe dizendo que iria fazer sozinha novamente.
Maite é conhecida em Curitiba como militante de movimentos de divulgação e aceitação do transexualismo (Foto: Arquivo pessoal)Maite é conhecida em Curitiba como militante de
movimentos de divulgação e aceitação do
transexualismo (Foto: Arquivo pessoal)
“Eu fui e voltei no mesmo dia porque eu não tinha condições financeiras de ficar hospedada lá. Depois de cinco dias, começaram os problemas com o dreno. Parecia que eu tinha elefantíase e tive que contar para o meu pai”. Maite tinha 31 anos.
Os reflexos da cirurgia foram tão complicados, que Maite e a família não conseguiam encontrar um médico que a aceitasse como pacientes.

Todos tinham receio da consequência, já que não sabiam como havia sido realizado o procedimento no Paraguai.
Só mais tarde, com o avanço das técnicas de transgenitalização no Brasil, ela procurou o tratamento adequado e realizou 12 cirurgias – agora com toda a infraestrutura necessária.

Foram 14 anos até que todas as cirurgias fossem realizadas, e o corpo de Maite respondesse de maneiras satisfatórias às intervenções.
Documentação
Assim que o problema físico foi superado, Maite começou a lidar com a questão burocrática. Durante três anos, mesmo com aparência de mulher e processo de mudança de sexo em andamento, a documentação ainda estava como Alexandre.

Naquela época, os transexuais precisavam apresentar um laudo médico e também passar por uma perícia para conseguir alterar os documentos. A obrigatoriedade da perícia deixava Maite desconfortável, e o processo acabou se estendendo.
“Eu já fiz cirurgia de tudo que é jeito. Como eu não tinha mais pele, eu fui tirando enxertos de vários lugares. As últimas cirurgias foram feitas com pedaço do intestino. Tive que tirar parte do intestino para se fazer o canal [vaginal], porque eu não tinha mais pele para fazer, então, eu estava em uma situação que eu não estava bem comigo mesma para passar por uma perícia”, contou.
Este foi um novo período de conflito. Por mais que tivesse vergonha e ainda estava apreendendo a lidar com a presença das cicatrizes, Maite se sentia a cada cirurgia mais contente já que se reconhecia no novo corpo.

Quando enfim conseguiu na Justiça a alteração dos documentos, Maite decidiu incorporar o Schneider ao sobrenome. Afinal, foi como Maite Schneider que ficou conhecida nos movimentos sociais ligados à transexualidade.

“O meu nome era Alexandre Caldas de Miranda e desde cedo eu comecei a usar Schneider para justamente não vincular o meu nome ao da minha família, que eu queria que tivesse o mínimo de problemas possíveis em relação a isso”.
Ao nascer, Maite recebeu o nome de Alexandre (Foto: Arquivo pessoal)Ao nascer, Maite recebeu o nome de Alexandre
(Foto: Arquivo pessoal)
A infância e a adolescência
Desde criança, a transexualidade de Maite estava evidente para a família. Ela tem um irmão e uma irmã.
“Eu sou a filha do meio e sempre soube que não era igual ao meu irmão, não me sentia igual ao meu irmão. Sempre tive a clareza de me sentir de uma coisa e saber que não era aquilo”, contou.

Na tentativa de ajudar o filho, o pai do então Alexandre o colocou em atividades que considerava masculinas como escotismo e judô.
“Eram situações que não tinham como vingar, por mais que eu tentasse me enquadrar e acabar com aquele sofrimento. Eu sabia que se eu não fosse igual ao meu irmão ia ser muito constrangedor, não só para mim, com as dificuldades que eu ia ter, como para a minha família que sempre sofria com isso”.

Maite conta que sempre se sentiu diferente do irmão, mas sem a consciência do termo técnico. “Foi então que meu pai me levou no primeiro psicólogo, que me encaminhou para um psiquiatra, que já tinha tratado de questões de transtorno de gênero. Foi então que ouvi a primeira vez a palavra transexualismo e ele me explicou o que se passava comigo”. Nessa época estava com 16 anos.

Desde o início, Maite teve o amparo da família. Ela conta que inicialmente existia em sentimento de culpa por parte dos pais, achando que tinham errado em algum momento. “O caminho é tortuoso, não é tão tranquilo. Mas nunca teve repulsa, rejeição”.


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segunda-feira, 20 de abril de 2015

Menino de 11 anos agradece juiz que liberou mãe em estado terminal para morrer em casa

João Marcos Buch, juiz criminal de Joinville atendeu pedido de garoto




 postado em 15/04/2015 15:43 / atualizado em 15/04/2015 16:01
Reprodução/Facebook


Em decisão judicial, João Marcos Buch, juiz criminal em Joinville (SC) atendeu ao pedido desesperado 
de um menino de 11 anos. A mãe, uma presidiária, doente e algemada em uma cama de hospital, 
com meio corpo paralisado por uma lesão cerebral. O que o menino queria era uma despedida mais 
digna na companhia da mãe. "Inspecionei o hospital, mandei tirar as algemas e concedi prisão domiciliar,
para que na alta ela fosse morrer em casa e não no presídio. E morreu em casa", comenta o juiz.

   Numa mensagem recente enviada ao juiz por uma rede social, a criança contou que cresceu vendo os 
pais fazendo coisas erradas, entre idas e vindas da prisão. Mas também comemorou a segunda chance
dada ao pai, que saiu da prisão em condicional em dezembro e arrumou um emprego, além de
agradecer por ter visto a mãe partir de forma mais digna. "Um passado que não faz mais parte do meu
presente", escreveu.

   Para o juiz, o episódio "ilustra a carência humana no sistema penal" e também serve de reflexão na 
"lamentável reabertura de discussão sobre a redução da maioridade penal".

















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Deputado americano é julgado por sexo com esposa com demência

BBC
08/04/2015 08h34 - Atualizado em 08/04/2015 08h34

Deputado americano é julgado por sexo com esposa com demência

Julgamento é considerado simbólico por discutir capacidade de pessoas com demência de decidir sobre relações sexuais com parceiros.

O deputado estadual republicano Henry Rayhons conheceu Donna Lou Young quando ambos tinham mais de 70 anos e já eram viúvos. Casaram em uma grande festa, mas o que parecia uma história com final feliz acabou mal.
Nesta quarta-feira, Rayhons começa a ser julgado por estupro, acusado de ter feito sexo com sua mulher quando ela apresentava estágio avançado de Alzheimer.
O julgamento está sendo considerado simbólico por lançar luz sobre um tema pouco discutido, o sexo com pessoas sofrendo de demência.
Na visão da promotoria, um marido que faz sexo com a mulher em estágio avançado da doença está cometendo um grave abuso sexual.
A mulher pode ter concordado 'formalmente' em fazer sexo, mas ela tinha capacidade para tomar esta decisão?
Relação
De acordo com a agência de notícias Bloomberg, pessoas que conheciam o casal diziam que ele a tratava como um rainha.
Mas, alguns anos após o casamento, Donna foi diagnosticada com Alzheimer.
Segundo a Bloomberg, ela tinha dores de cabeça e esquecimentos constantes, dirigia do lado errado da rua e, uma vez, colocou apenas uma meia na máquina de lavar, em vez de toda a roupa.
Mas a gota d'água foi quando ela saiu de casa apenas com uma camisola que deixava seus seios a mostra.
Suas filhas, sem a concordância do marido, decidiram levá-la para uma casa de repouso. Uma das filhas e os médicos chegaram à conclusão de que Donna não tinha mais capacidade de consentir em ter relações sexuais.
Apesar de ter sido comunicado dessa avaliação, o deputado foi visitá-la pouco depois no local e passou 30 minutos no quarto.
A paciente que dividia o quarto com Donna teria dito que o viu fechar as cortinas que davam privacidade à cama e ouvido barulhos de sexo.
Quando a polícia interrogou Rayhons, ele admitiu que teve "contato sexual" com sua mulher, segundo a mídia americana.
Donna morreu cerca de dois meses depois, logo após seu aniversário de 79 anos. Uma semana depois, Rayhons foi preso.
Ele desistiu da disputa por mais um mandato na Assembleia estadual de Iowa, onde é deputado pelo Partido Republicano desde 1997.
Em comunicado, a família de Rayhons questionou a prisão.
"A localização de Donna não mudou o amor de papai por ela nem o amor dela por ele. Não mudou a relação de casamento deles. E, assim, ele continuou a ter contato com sua esposa na casa de repouso; quem não faria isso?", diz a nota.
"Acusar um marido de um crime por continuar sua relação com sua mulher em uma casa de repouso nos parece incrivelmente ilógico e antinatural; assim como incrivelmente nocivo."


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quinta-feira, 16 de abril de 2015

Bebê planejado por fertilização in vitro doa medula óssea para salvar irmã em Porto Alegre

Bebê planejado por fertilização in vitro doa medula óssea para salvar irmã em Porto Alegre

Com doença rara, Ana Luiza, cinco anos, recebeu a doação de Antônia, um ano, e aguarda que a medula volte a funcionar em até 21 dias

Bebê planejado por fertilização in vitro doa medula óssea para salvar irmã em Porto Alegre Ricardo Duarte/Agencia RBS
Transplante de medula óssea ocorreu no quarto em que menina está internada e levou menos de uma hora para ser concluídoFoto: Ricardo Duarte / Agencia RBS
Antônia tem um ano de vida e uma missão audaciosa: salvar a irmã e devolver à família uma rotina normal. O bebê de cabelos encaracolados e bochechas fartas não faz ideia, mas concretizou há três dias um ato de amor planejado pelos pais.
Os 260ml de medula óssea da caçula deixaram a conta-gotas o recipiente similar a uma bolsa de sangue, percorreram um fio transparente e penetraram o corpo da irmã Ana Luiza, cinco anos, rumo à cura de uma aplasia medular que a limitou a crescer em uma redoma por dois anos e 11 meses. O transplanteocorreu às 15h08min e terminou às 16h02min de sexta-feira, sob a vigília de enfermeiros e médicos e dos pais Gerciani Cunha da Costa, 39 anos, e Alex Gularte da Costa, 45 anos.
Transplante foi acompanhado pelos pais. Ana diz que nasceu de novo.

Foto: Ricardo Durte

O procedimento foi realizado no mesmo quarto em que a criança está internada,no Centro de Transplantes do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Para se preparar, Ana pegou o rímel da mãe escondido, passou protetor labial cor-de-rosa e acomodou uma flor gigante na cabeça. Aos pés da cama, as bonecas, Aila, Dora e Luiza. Queria tudo impecável. Assim que tudo começou, a mãe, sempre falante, ficou muda. O pai não tirava os olhos da menina, emocionado. Ana Luiza permanecia estática, mexendo apenas os olhos.
— Queremos tirar uma foto contigo, Ana — disse Gerciani.
A menina fita-a contrariada.
— Claro, tiramos no dia que tu nasceu. Vamos fazer uma agora bem bonita — explicou a mãe.
— Tá bem, no dia em que eu renasci, né? — consentiu Ana.
Minutos antes de iniciar a infusão da medula, Ana interrogou a médica:
— Como que a medula sabe que tem de ir para o lugar certo, já que a gente recebe na veia e sangue não tem olho nem pé para andar?
— Sangue enxerga e anda até de skate. Corre e sabe onde ficar, é muito esperto — rebateu Liane Daudt, chefe do Serviço de Hematologia Clínica e Transplante de Medula Óssea do Clínicas.
Terminado o procedimento, Gerciani foi até o quarto onde Antônia estava internada, cinco andares acima.
— Deu tudo certo com a mana, Antônia. Tu vai salvar ela — disse, enquanto a menina se jogava em direção à mãe.
Fora as reações já esperadas, de vômito, prostração e dor de cabeça, Ana passa bem. Até as 19h de ontem, o estado de saúde permanecia estável. Antônia, que já teve alta, também. Sem a irmã ter sido um embrião produzido em laboratório, Ana Luiza não sobreviveria. A gestação de Antônia não seria programada pelos pais sem a necessidade de um doador 100% compatível para a maior. No meio médico, o feito — realizado em uma clínica de reprodução particular de Porto Alegre —, pioneiro no Estado e segundo no país, é sinônimo de dilema e controvérsia, pois muitos especialistas julgam antiético criar um ser para salvar outro.
Para a família, de Gravataí, na Região Metropolitana, foi uma decisão baseada no desespero de manter vivo um filho e na capacidade de dar amor e carinho ao anjo que chegou para ampliar a família. A história foi tema de reportagem em ZH em 4 de maio.
A pega da medula, jargão médico para definir a hora em que um novo sistema imunológico passa a orquestrar o corpo do receptor, tem um prazo de 21 dias para acontecer depois do transplante. Ana Luiza ainda poderá enfrentar infecções e tem a chance de as células-tronco recebidas da irmã não reconhecerem os órgãos do seu corpo. Mesmo as irmãs sendo totalmente compatíveis, entre 5% e 10% dos casos não ocorre a pega da medula, além disso, o risco de morte é de 15% e, em 70% dos transplantados, ocorre a Doença do Enxerto Contra o Hospedeiro, que é quando o sistema imunológico novo não percebe os órgãos do corpo receptor como próprios dele.
Quanto mais tempo houver de doença, maiores são os riscos, o que é o caso de Ana, um dos motivos que fizeram com que os médicos que cuidavam do transplante fossem contrários à gravidez programada.
Gerciani é professora de matemática. A teimosia da filha em viver a fez deixar de crer em probabilidades. O primeiro tratamento a que foi submetida prometia 80% de certeza de que a medula acordaria. Nada. A chance de encontrar um doador compatível é de um a cada 100 mil doadores cadastrados no banco de medulas. A expectativa de 25% de chance de o irmão Alex Junior, 22 anos, ser compatível não se confirmou. Se a mãe tivesse engravidado expontaneamente, precisaria de 13 gestações até parir Antônia, pois foram feitos dezenas de embriões até um ser compatível com a irmã.
— Se tiver 1% de chance de dar certo, nós vamos transformá-la em 100% — confia a mãe.
Antes de internar, Ana Luiza passou por maratona de explicações sobre como seria o transplante. Na foto, no setor de recreação do Clínicas.

Foto: Ricardo Duarte

A aplasia medular severa da criança consiste na falência da medula óssea (a dela tem funcionamento de menos de 20%), o que a deixa sem os principais elementos do sangue que combatem infecções. Quase três anos se passaram e a menina de saúde melindrosa, para quem um resfriado poderia ser fatal, resistiu com saúde inabalável. Mas uma semana antes da internação para o transplante. Antônia contraiu um resfriado e transmitiu para Ana Luiza. A menina que não poderia ter mais do que 37,5°C de febre chegou aos 39,5ºC no sábado, antecipando em um turno a internação que estava agendada para o domingo, em início de agosto.
Com o resultado dos exames comparados aos de um adulto saudável, Antônia não ficou debilitada pela gripe. Em função do seu pouco tamanho, a doação da medula ocorreu em duas etapas — uma no dia 18 de julho e a outra no dia 29 de agosto.
Ana já disse mais de uma vez que as crianças são muito mais fortes do que os adultos. Tirando os lábios esbranquiçados e a palidez do rosto, a altivez de Ana mascara a doença que lhe põe entre a vida e a morte diariamente.
— Ela é praticamente um milagre. A totalidade dos pacientes não resistem tanto tempo. O fato de ela ter ficado quase dois anos sem febre e sem internar é realmente muito fora da normalidade. A mãe dela tem toda a razão de desconfiar das probabilidades — disse a médica Liane Daudt.
Enquanto a mãe zelará pela saúde da Ana, o pai pediu licença do Exército, onde é sargento, para cuidar da menor, com o auxílio de familiares. Em algumas de suas visitas diárias ao hospital, Alex tem levado Antônia para ficar com Gerciani no pátio. Ana mata a saudades dar irmã, por meio de vídeos e fotos.
Ana Luiza esperava ansiosa a irmã crescer para poder doar a medula

Foto: Arquivo Pessoal

Esta história se mistura a de tantos outros pacientes que precisam de uma medula nova para sobreviver, não fosse o detalhe de ter um doador encomedado para a salvação. Aguardando pela chance de cura através da medula, há hoje no Brasil 1,3 mil pacientes — sendo mais de 90 no Rio Grande do Sul.
— Se mais pessoas se cadastrassem, quem sabe todo este sofrimento tivesse sido contornado no início. A parte boa é que agora temos também a Antônia, que amamos demais — avaliou Alex, o pai.
A previsão de internação é mais 40 a 60 dias. Antes de voltar à vida normal, terá de refazer todas as vacinas, como se tivesse nascido de novo. Em casa, os cuidados seguirão rigorosos, onde os primeiros três meses são os mais críticos. Em dois anos, poderá frequentar a escola, quando espera-se que já esteja curada. Este é o maior sonho do pai.
— Nas brincadeiras em casa ela cita os nomes das amiguinhas de quando tinha três anos e frequentava a escola. Ela só teve aquelas. Sinto que ela está perdendo uma parte da infância. Agora está enclausurada para poder voar por aí — disse Alex.
E os planos para quando ela voltar para casa?
— Não sei nem mais receber visita. A família toda precisará de terapia, mas o tratamento que eu achei mais adequada foi ver a Antônia e a Ana no dia a dia, que elas estão lutando, Antonia se mantendo saudável e Ana implorando para viver — crê Gerciani.
Como ser um doador?
— Para ingressar no cadastro de medula óssea são retirados 10ml de sangue (para a identificação do tipo HLA, espécie de código de barras de cada pessoa), , e preenchido um formulário com dados pessoais.
— Podem se tornar doadores voluntários pessoas entre 18 e 60 anos.
— Os dados do sangue e as informações pessoais ficam cadastradas no sitema informatizado que realiza o cruzamento dos dados do paciente que necessitam de um transplante e fica disponível para doação até os 65 anos de idade.
— A necessidade dos pacientes que aguardam por transplante é urgente, por isto, é importante manter os dados do cadastro atualizados para que os doadores sejam facilmente localizados. Mudanças podem ser informados pelo site www.inca.gov.br/doador



Arte ZH











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