Acesse o nosso site: www.cebid.com.br

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Por células-tronco, pais congelam dentes de leite dos filhos

06.01.2015 | 14h24
Tamanho do texto A- A+

Por células-tronco, pais congelam dentes de leite

 dos filhos

"O que eu pago por ano é o preço de dois pares de sapato"

Lalo de Almeida/Folhapress

Vitor Vasconcellos, 10, que teve a polpa de seu dente de leite congelada para tratar doenças no futuro
DA FOLHA DE S. PAULO 
















Seguindo a onda do cordão umbilical, pais  têm pago pelo armazenamento da polpa de dentes 
de leite dos seus filhos, que pode  dar origem a células-tronco.

Embora os entusiastas digam que esse material poderá ser útil no futuro no tratamento de 
doenças como alzheimer e diabetes, ainda não existe comprovação que essas células tenham 
tal potencial. 

A bancária Cristina Bittencourt, cujo pai morreu há nove anos por uma disfunção da medula
 óssea, aos 66 anos, diz que o congelamento dos dentes dos filhos  Felipe, 10, e Catarina, 7, 
foi uma "segurança a mais"  para o futuro. "O que eu pago por ano é o preço de dois pares de
 sapato."

Em média, as empresas que já oferecem o serviço em São Paulo cobram R$ 2.000 iniciais mais
 R$ 400 por ano pelos serviços de coleta, multiplicação das células e criopreservação 
(congelamento em condições especiais).

José Ricardo Ferreira, proprietário da R-Crio, diz que o negócio ainda conta com poucos clientes.
 Dentista de formação, ele espera ter retorno do investimento em cinco anos. Ferreira diz que 
mesmo o dente do siso, para quem já está um pouco mais velho, pode ser utilizado.

Outro entusiasta é Nelson Lizier, biotecnólogo que concluiu o doutorado com a produção em
 larga escala de células-tronco da polpa dentária. Ele é diretor-científico do Centro de Criogenia
 Brasil, que também oferece o serviço.

Ele afirma que já existem duas pesquisas em andamento para a aplicação das células: uma em
 lesão de córnea e outra para enxertos ósseos.

Para outras doenças, no entanto, os tratamentos ainda estão sendo feitos em animais, com 
formação de células produtoras de insulina no pâncreas (para diabetes) e de novos neurônios 
a partir das células-tronco (para doenças neurodegenerativas).

"A gente não sabe o dia de amanhã, creio que muitos benefícios vão surgir", afirma o químico 
Kléber Vasconcellos, que não tem nenhuma doença na família mas decidiu armazenar a polpa
 do dente de leite do filho Vitor, 10.

Ressalvas

Procurada pela Folha, a Anvisa afirmou que as empresas podem oferecer o serviço de 
criopreservação, mas sem prometer tratamento para nenhuma doença, fato que elas devem 
deixar claro no contrato firmado com os clientes.

A pesquisadora Monica Duailibi, da Unifesp, conta que muitos estudos clínicos ainda estão em
 fase inicial, ou seja, a sua própria segurança ainda está em xeque. Por isso, diz, os
 consumidores têm que ter cuidado.

A pesquisadora do Instituto Butantan e orientadora de Lizier na pós-graduação, Irina Kerkis, 
afirma que é importante que as pessoas estejam cientes de que podem pagar durante anos por 
um serviço de que nunca vão necessitar. 

Ela cita ainda o risco de perda de viabilidade, que ocorre com o tempo ou mesmo por negligência
 de um funcionário que deixou a temperatura do nitrogênio líquido –onde são guardadas as 
células– subir.

Irina acredita, porém, que como a origem embrionária da polpa do dente de leite é compartilhada
 com a dos neurônios, é provável que se torne possível tratar doenças neurodegenerativas assim.


Ela defende que o governo invista na área, inclusive com a criação de bancos públicos de 
células-tronco. 










---------------------------------------------------------------------------
CEBID - Centro de Estudos em Biodireito

Nenhum comentário:

Postar um comentário