terça-feira, 1 de novembro de 2016
Rio de Janeiro deverá custear tratamento com fertilização in vitro
A Segunda Turma manteve decisão de segunda instância que condenou o Estado do Rio de Janeiro a custear,
em rede pública ou privada, tratamento com fertilização in vitro a mulher que apresenta dificuldades para
engravidar e não tem condições financeiras de arcar com o procedimento. A decisão foi unânime.
No pedido inicial, a mulher de 35 anos, moradora de Mesquita (RJ), narrou que possuía endometriose
profunda, além de obstrução das trompas, motivos pelos quais não conseguia ter filhos de forma natural.
Em 2011, ela realizou cirurgia bem-sucedida para controle das enfermidades e, após o procedimento,
recebeu a indicação de tratamento por meio de fertilização in vitro.
Sem condições financeiras para custear o tratamento, estimado em R$ 12 mil, buscou o Sistema Único de
Saúde (SUS) para fazer a fertilização, mas foi informada de que apenas um hospital, localizado em Campos
dos Goytacazes (RJ), realizava o procedimento recomendado.
Durante consulta no hospital indicado, ela recebeu a notícia de que o tratamento gratuito era restrito a
moradores de Campos dos Goytacazes, em razão de convênio estabelecido entre a prefeitura e o centro médico.
Público ou privado
Em primeira instância, o magistrado determinou que o Estado do Rio de Janeiro arcasse com o tratamento
em local indicado pelo poder público em 30 dias, contados da intimação. Em caso de descumprimento da
medida, a sentença determinou que o Estado custeasse as despesas com o tratamento em hospital particular.
O pagamento deveria ser feito dez dias após a apresentação do orçamento.
A decisão de primeiro grau foi mantida pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ). Ao ressaltar os
preceitos estabelecidos por normas como a Lei 9.263/96 (legislação sobre planejamento familiar), os
desembargadores fluminenses entenderam que a negativa ao direito de utilizar todas as técnicas de
fertilização disponíveis significaria criar uma linha divisória entre quem possui condições econômicas para
realizar o tratamento e as pessoas que não dispõem dessa possibilidade, violando o princípio da isonomia.
Valores
No recurso especial dirigido ao STJ, o Estado do Rio de Janeiro questionou a condenação ao custeio de
tratamento em rede privada de saúde. Para o recorrente, a efetivação do direito à saúde poderia ser realizada
nos hospitais que o próprio SUS dispõe para a realização do tratamento de fertilização.
Além disso, apontando violação a dispositivos da Lei 8.080/90, o Estado alegou que a condenação a tratamento
médico particular deixaria o poder público sujeito a valores estabelecidos de forma unilateral pela instituição
privada.
O relator do recurso, ministro Herman Benjamin, lembrou que o TJRJ condenou o Estado ao custeio do
tratamento em local que deve ser indicado pelo próprio ente público. Somente no caso do descumprimento
da decisão judicial é que houve a previsão de pagamento das despesas da autora pela utilização de hospital
privado.
“Portanto, não tem pertinência a alegação de que deve pagar o tratamento de fertilização in vitro em
hospital particular, pois essa hipótese somente se concretizará com a sua recusa em obedecer à
determinação judicial”, concluiu o ministro ao negar o recurso do Estado.
Processo: REsp 1617970
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CEBID - Centro de Estudos em Biodireito
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