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terça-feira, 7 de junho de 2016

Casal de homens terá filho gerado pela mãe de um deles

Casal de homens terá filho gerado pela mãe de um deles

POR ANA CLÁUDIA GUIMARÃES
Julien, Jefferson e Quitéria
Ezra: O filho que será neto
A história é simples. E bonita. Ezra nascerá terça ou quarta que vem na Perinatal de Laranjeiras, no Rio. Ele é filho do casal homoafetivo Jefferson de Souza Cintra Albuquerque, 26 anos, brasileiro, e Julien Lamindin, 30 anos, francês. Eles se conheceram em 2012 num hospital onde ambos trabalham, na França, e se casaram no ano passado, no Brasil. O bebê sairá do hospital com a certidão de nascimento com o nome de seus dois pais, conforme já autorizado judicialmente. A bela história com final feliz poderia ser só mais uma, de um casal homoafetivo, não fosse... a barriga onde Ezra foi gestado: a da mãe de Jefferson.
Aos 44 anos, a brasileira Quitéria de Souza Cintra Albuquerque, casada com Carlos de Albuquerque, 47 anos, pais de Jefferson, ofereceu o seu ventre, espontaneamente, ao saber que o filho e o genro iriam pedir a uma prima brasileira para gerar o filho deles. O sonho, para a felicidade de toda a família, foi concebido em dois meses, aqui no Brasil.


— Quando o resultado dos exames da minha mãe comprovou que ela poderia gerar a criança, conversamos com o meu pai. Ele adorou a ideia de ter um neto. Meus dois irmãos e avós estão muito felizes, também. Depois, começamos a procurar por uma doadora de óvulos aqui no Brasil. Tentamos dois embriões, um com o sêmen do Julien e o outro com o meu. Só um deu certo, mas a gente não sabe de quem é. E não pretendemos saber. O filho é nosso — conta Jefferson, com um português arrastado. É que ele saiu do Brasil aos 12 anos.
O medo do casal era de a mãe se apegar demais ao bebê. Mas tudo foi conversado e deu certo. Julien, que chegou ao Brasil na quinta passada para acompanhar o parto, disse que a família dele levou, inicialmente, um susto:
— Foi surpreendente para eles. Mas foi bem aceito por todos.
Quitéria também mora na França com o resto da família e aceitou tudo com naturalidade. Mãe de outros dois filhos, ela já havia conversado com a filha que emprestaria a barriga para ela, caso fosse necessário.
— Quem poderia amar mais um bebê do que os avós? Eu tinha medo da prima se apegar ao neném e, depois, não querer entregá-lo. Meu filho casou e estava à procura de alguém. Eu disse que carregaria o filho deles. Quando o Ezra nascer, vou tratá-lo como meu neto. A responsabilidade é toda dos dois, que são pais da criança — diz Quitéria.
A dificuldade maior encontrada pelos três foi explicar aos amigos, já que na França o procedimento é proibido. Uns entenderam. Outros, até hoje, acham estranho:
— Explicamos que a minha barriga é só um abrigo para o meu neto. Não há nada meu no bebê. A maioria entendeu — afirma Quitéria.
Antes do bebê, Jefferson e Julien tentaram vir morar no Brasil, mas não deu certo. Além da falta de estrutura e de emprego, eles contam que foram agredidos em Copacabana. Passeavam de mãos dadas quando um rapaz ameaçou soltar o cachorro em cima deles.
— Isso nunca aconteceu com a gente na França. Andamos de mãos dadas pelas ruas de lá sem problemas. Agora, no Rio, quando vamos à rua, mantemos distância um do outro. Temos medo da violência — conta Jefferson, que chegou com a mãe ao Brasil há 15 dias para que ela tivesse o bebê aqui.
Segundo a advogada do casal, Vera Fontes, o procedimento permitido no Brasil é o de fertilização in vitro:
— Os óvulos foram recebidos por doação e os espermatozoides foram fertilizados fora do corpo. Depois, o embrião foi inserido no útero da avó Quitéria. Foi assinado termo de consentimento das partes, inclusive do marido da Quitéria (no caso, avô). A lei faz esta exigência para evitar futura demanda judicial.
Uma semana depois do parto, tudo correndo bem, como esperado, os três embarcarão de volta para a França. Estão ansiosos para apresentar Ezra para o resto da família.
— Não é um nome comum. Mas a gente gosta. Sabe o que significa? É ‘ajuda’. Se não fosse a ajuda da minha mãe, a gente não conseguiria ter o nosso filho. Estou doido para pegá-lo nos braços. A mais empolgada de todos com a história é minha avó, que quer ver o seu bisneto — conta Jefferson.
Que Nossa Senhora do Bom Parto abençoe Ezra!
Jefferson, Quitéria e Julien










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