Casal de homens terá filho gerado pela mãe de um deles
Ezra: O filho que será neto
A história é simples. E bonita. Ezra nascerá terça ou quarta que vem na Perinatal de Laranjeiras, no Rio. Ele é filho do casal homoafetivo Jefferson de Souza Cintra Albuquerque, 26 anos, brasileiro, e Julien Lamindin, 30 anos, francês. Eles se conheceram em 2012 num hospital onde ambos trabalham, na França, e se casaram no ano passado, no Brasil. O bebê sairá do hospital com a certidão de nascimento com o nome de seus dois pais, conforme já autorizado judicialmente. A bela história com final feliz poderia ser só mais uma, de um casal homoafetivo, não fosse... a barriga onde Ezra foi gestado: a da mãe de Jefferson.
Aos 44 anos, a brasileira Quitéria de Souza Cintra Albuquerque, casada com Carlos de Albuquerque, 47 anos, pais de Jefferson, ofereceu o seu ventre, espontaneamente, ao saber que o filho e o genro iriam pedir a uma prima brasileira para gerar o filho deles. O sonho, para a felicidade de toda a família, foi concebido em dois meses, aqui no Brasil.
— Quando o resultado dos exames da minha mãe comprovou que ela poderia gerar a criança, conversamos com o meu pai. Ele adorou a ideia de ter um neto. Meus dois irmãos e avós estão muito felizes, também. Depois, começamos a procurar por uma doadora de óvulos aqui no Brasil. Tentamos dois embriões, um com o sêmen do Julien e o outro com o meu. Só um deu certo, mas a gente não sabe de quem é. E não pretendemos saber. O filho é nosso — conta Jefferson, com um português arrastado. É que ele saiu do Brasil aos 12 anos.
O medo do casal era de a mãe se apegar demais ao bebê. Mas tudo foi conversado e deu certo. Julien, que chegou ao Brasil na quinta passada para acompanhar o parto, disse que a família dele levou, inicialmente, um susto:
— Foi surpreendente para eles. Mas foi bem aceito por todos.
Quitéria também mora na França com o resto da família e aceitou tudo com naturalidade. Mãe de outros dois filhos, ela já havia conversado com a filha que emprestaria a barriga para ela, caso fosse necessário.
— Quem poderia amar mais um bebê do que os avós? Eu tinha medo da prima se apegar ao neném e, depois, não querer entregá-lo. Meu filho casou e estava à procura de alguém. Eu disse que carregaria o filho deles. Quando o Ezra nascer, vou tratá-lo como meu neto. A responsabilidade é toda dos dois, que são pais da criança — diz Quitéria.
A dificuldade maior encontrada pelos três foi explicar aos amigos, já que na França o procedimento é proibido. Uns entenderam. Outros, até hoje, acham estranho:
— Explicamos que a minha barriga é só um abrigo para o meu neto. Não há nada meu no bebê. A maioria entendeu — afirma Quitéria.
Antes do bebê, Jefferson e Julien tentaram vir morar no Brasil, mas não deu certo. Além da falta de estrutura e de emprego, eles contam que foram agredidos em Copacabana. Passeavam de mãos dadas quando um rapaz ameaçou soltar o cachorro em cima deles.
— Isso nunca aconteceu com a gente na França. Andamos de mãos dadas pelas ruas de lá sem problemas. Agora, no Rio, quando vamos à rua, mantemos distância um do outro. Temos medo da violência — conta Jefferson, que chegou com a mãe ao Brasil há 15 dias para que ela tivesse o bebê aqui.
Segundo a advogada do casal, Vera Fontes, o procedimento permitido no Brasil é o de fertilização in vitro:
— Os óvulos foram recebidos por doação e os espermatozoides foram fertilizados fora do corpo. Depois, o embrião foi inserido no útero da avó Quitéria. Foi assinado termo de consentimento das partes, inclusive do marido da Quitéria (no caso, avô). A lei faz esta exigência para evitar futura demanda judicial.
Uma semana depois do parto, tudo correndo bem, como esperado, os três embarcarão de volta para a França. Estão ansiosos para apresentar Ezra para o resto da família.
— Não é um nome comum. Mas a gente gosta. Sabe o que significa? É ‘ajuda’. Se não fosse a ajuda da minha mãe, a gente não conseguiria ter o nosso filho. Estou doido para pegá-lo nos braços. A mais empolgada de todos com a história é minha avó, que quer ver o seu bisneto — conta Jefferson.
Que Nossa Senhora do Bom Parto abençoe Ezra!
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CEBID - Centro de Estudos em Biodireito
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