atualizado às 09h36
A família de Danni viveu um momento traumático quando, aos 3 anos, a criança foi encontrada pela mãe com uma tesoura na mão dizendo que queria cortar o pênis. Foi neste momento que a mãe, Kerry McFadyen, passou a levar a sério a ideia de que seu filho Daniel havia nascido com o sexo oposto.
"Me lembro como ela se olhou no espelho
um dia depois que cortamos seu cabelo", comentou Kelly à jornalista da BBC
Stephanie Hirst, que é transexual.
Kelly conta que sua filha estava
"devastada", porque pensava que iriam deixar seu cabelo mais longo, e
não mais curto.
"Então ela começou a se vestir como
menina e me perguntava constantemente: 'Por que isso acontece comigo, mamãe?
Por que não sou como você? Por que sou como meus irmãos, e não como minha
irmã?'".
Quando perguntada sobre como se sentia diante
da ideia de "ter que ser um menino", Danni não hesitou ao responder:
"irritada".
"Eu não gostava de ser um menino",
reforçou ela.
Educar a sociedade
A mãe de Danni conta que recorreu à internet
para encontrar informações que pudessem ajudá-la a lidar com a filha. E diz que
ficou até surpresa com a quantidade de coisas que encontrou – ela não era a
única a passar por essa situação.
"Mesmo os psicólogos que nós procuramos
não tinham o conhecimento para explicar isso. Então escrevi no Google 'meu
filho quer ser uma menina' e apareceu um monte de coisas que me ajudaram
bastante", explicou Kerry, que tem outros quatro filhos, três meninos e
uma menina.
Divulgação/BBC Brasil / BBCBrasil.com
Todos eles aceitaram muito bem a opção de Danni.
]
"Ela simplesmente queria ser uma menina. Nunca
aceitou ser um menino", disse a irmã de Danni.
A menina acabou sendo diagnosticada com "disforia
de gênero", descrito como "repulsa ou desconforto que uma pessoa tem
a respeito de seu sexo biológico", pela Associação Americana de
Psiquiatria (APA, na sigla em inglês).
"Não tinha ideia de que isso existia",
relata a mãe. Ela ressalta que seria importante existirem mais informações para
"educar a sociedade" sobre essa questão.
"Cada vez, mais e mais pessoas são diagnosticadas
com disforia de gênero. No entanto, muitas delas acabam sofrendo preconceito e
são incompreendidas", segundo fontes do Sistema Nacional de Saúde do Reino
Unido (NHS, na sigla em inglês).
O NHS oferece tratamento ou acompanhamento psicológico
para crianças e jovens. Não oferece tratamento médico ou cirúrgico, porque a
maioria das crianças com suspeita de disforia de gênero "não têm a
condição quando alcançam a puberdade", segundo o NHS.
Kerry resolveu comunicar aos pais e a outras crianças
do colégio que sua filha era transexual.
"Tornei pública a história da minha filha para
ajudar a criar consciência sobre outros filhos transgêneros que podem estar
sofrendo em silêncio."
Kerry acredita que muitos pais pensam que ela é
"uma má mãe por permitir a transição de sua filha, que ainda é tão
jovem."
Ela afirma que a única coisa que quer é "ver sua
filha feliz", independente de ela decidir "um dia voltar a ser um
menino".
Entre 2014 e 2015, o número de crianças com 10 anos ou
menos indicadas pelo serviço de saúde britânico para atendimento relacionado a
questões de gênero quadruplicou em relação a 2009 e 2010. Do total, 47 crianças
tinham cinco anos ou menos. Duas crianças tinham apenas três anos.
Além da violência externa, o estigma em torno da
questão faz com que essas crianças e adolescentes estejam mais suscetíveis a
problemas psicológicos. Uma pesquisa publicada em 2014 indica que 59% dos
jovens transgênero sofreram com autoflagelação, um total muito superior à média
geral de 9% para a faixa etária de 16 a 24 anos.
Garota sempre quis ser como sua irmã e como sua mãe e não se aceitava como menino
Foto: Divulgação/BBC Brasil / BBCBrasil.com
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