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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Cientistas buscam fazer pele e ossos com células-tronco e impressora 3D

18/01/2015 06h00 - Atualizado em 18/01/2015 06h00

Cientistas buscam fazer pele e ossos com células-tronco e impressora 3D

Técnica também envolve substância sintética parecida com colágeno.
Testes clínicos de pele artificial devem começar em três anos.


Da France Presse
Tsuyoshi Takado, professor da Universidade de Tóquio, mostra orelha artificial, feita em impressora 3D em seu laboratório (Foto:  AFP Photo/Yoshikazu Tsuno)Tsuyoshi Takado, professor da Universidade de Tóquio, mostra orelha artificial, feita em impressora 3D em seu laboratório (Foto: AFP Photo/Yoshikazu Tsuno)
Cientistas japoneses dizem que estão a caminho de encontrar uma forma de criar pele, ossos e articulações usando uma impressora 3D. Vários grupos de pesquisadores ao redor do mundo têm desenvolvido pequenas massas de tecido para implantes. Mas agora os japoneses estão procurando dar o próximo passo e fazê-las totalmente funcionais.
Tsuyoshi Takato, professor da Universidade de Tóquio, diz que sua equipe tem trabalhado para criar "uma bio-impressoa 3D de última geração", que poderia reunir finas camadas de biomateral para formar partes do corpo sob medida.
Sua equipe combina células-tronco, capazes de se transformar em qualquer tecido do corpo, e proteínas que estimulam o crescimento, assim como substâncias sintéticas similares ao colágeno humano.
Expectativa é que testes com pele feita com impressora 3D seja testada em três anos; detalhe mostra orelha feita com técnica 3D (Foto: AFP Photo/Yoshikazu Tsuno)
Expectativa é que testes com pele feita com
impressora 3D seja testada em três anos; detalhe
mostra orelha feita com técnica 3D
(Foto: AFP Photo/Yoshikazu Tsuno)
Usando uma impressora 3D, eles estão trabalhando em "mimetizar a estrutura de órgãos", como a superfície dura e o interior esponjoso dos ossos, diz Takato.
Em apenas algumas horas, a impressora seria capaz de criar um implante usando dados de uma tomografia computadorizada. Esses implantes se encaixariam perfeitamente no corpo e poderiam rapidamente ser assimilados pelos tecidos e outros órgãos do paciente, disse o cirurgião plástico.
"Geralmente pegamos cartilagem ou osso do próprio corpo do paciente (para implantes normais), mas esses implantes feitos sob medida significarão não ter que remover essa fonte de material", disse Takato.
A tecnologia também fornece esperança para crianças que nascem com problemas de cartilagem ou ossos. Para elas, implantes sintéticos não são adequados por causa do crescimento rápido de seu corpo.
Desafio: calor danifica células

O principal desafio é o calor gerado por impressoras 3D convencionais, que danifica células vivas e proteínas.
"Não descobrimos totalmente como evitar a deterioração pelo calor, mas já temos alguns modelos e estamos explorando qual deles oferece o método mais eficiente", disse à AFP o pesquisador.
A proteína artificial que Takato e sua equipe usam foi desenvolvida pela Fujifilm, que tem estudado o colágeno  usado em filmes fotográficos.
Já que o material é modelado pelo colágeno humano e não deriva de animais, pode ser facilmente assimilado pelo corpo humano, reduzindo o risco de infecções. Takato disse que a equipe pretende começar testes clínicos para a pele impressa em 3D e, três anos depois, proceder aos ossos, cartilagens e articulações.









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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Aos 13, transgênero dos EUA recebe tratamento para frear puberdade

4/01/2015 10h58 - Atualizado em 14/01/2015 10h58

Aos 13, transgênero dos EUA recebe tratamento para frear puberdade

Cada vez mais crianças usam medicamentos para evitar mudanças indesejadas em seus corpos, como crescimento de seios ou barba.


Zoey diz que seu coração é de mulher (Foto: BBC)Zoey diz que seu coração é de mulher (Foto: BBC)











 A série de comédia Transparent, que conta a história de um pai de 70 anos que se transforma em uma mulher, ganhou dois prêmios Globo de Ouro e colocou em evidência as vidas dos transgêneros.
Com personagens transgêneros mais realistas, Hollywood pode estar ajudando a sociedade a aceitá-los na vida real – inclusive as crianças transgêneros.
Um número cada vez maior de crianças está usando medicamentos bloqueadores da puberdade para evitar mudanças indesejadas em seus corpos, como o crescimento de seios ou de barba.
O tratamento é controverso. Críticos dizem que bloquear a puberdade de uma criança é um tipo de abuso e que elas devem ser aconselhadas a aceitar seu corpos.
Mas pais de crianças com desordem severa de identidade de gênero e médicos que tratam delas dizem que não fazer nada pode ser perigoso e que deixá-las passar pela puberdade “no gênero errado” pode resultar em depressão profunda e suicídio.
"Quando eu era pequena sempre dizia: ‘Eu sou uma garota. Eu me pareço uma garota. Meu coração é de uma garota", diz Zoey, de 13 anos, que nasceu menino mas se identifica como menina.
O médico dela bloqueou sua puberdade e prescreveu hormônios para ajudar que se desenvolva como uma mulher.
"Quando fiquei mais velha, consegui chegar ao meu objetivo e podia ser aceita em escolas, o que tinha sido a parte mais difícil da minha vida porque tinha que agir como alguém que eu não era."
Zoey começou a se identificar como mulher desde jovem. Quando criança ela costumava perguntar à mãe por que "Deus cometeu um engano" e deu a ela o corpo errado.
Os supressores de puberdade usados por ela são medicamentos de efeitos reversíveis e aprovados por autoridades britânicas, pois são usados originariamente há décadas para tratar de crianças que apresentam puberdade prematura.
Mas para pessoas com disforia de gênero, ou desordem de identidade de gênero, os medicamentos são ministrados entre 9 e 17 anos. Os médicos dizem que estão dando tempo à criança para decidir se realmente quer viver com um gênero diferente.
Adolescentes também podem tomar hormônios para se desenvolver no gênero oposto.
Esses bloqueadores começaram a ser usados em crianças transgênero nos anos 1990. A médica de Zoey, Johanna Olson, diretora do departamento que trata desses casos no Hospital de
Crianças de Los Angeles, começou a prescrever os remédios em 2007.
"Certamente há medos relacionados aos efeitos colaterais", disse Olson. Ela afirmou que uma de suas pacientes, de 12 anos de idade, tentava cometer suicídio toda vez que menstruava.
"Então, certamente, é preciso levar isso em conta. Eu poderia perder a criança antes de termos informações suficientes para dizer 'sim, isso é uma intervenção segura em um adolescente de 12 ou 13 anos, ela pode se matar'."
Há um grande debate na comunidade médica sobre quando iniciar o uso de bloqueadores e terapia hormonal de mudança de sexo.
Kenneth Zucker, especialista em identidade de gênero do Centro de Dependência e de Saúde Mental de Toronto, diz que sua clínica normalmente espera até que os pacientes tenham 16 anos antes de prescrever hormônios para permitir que as pessoas se desenvolvam no sexo oposto.
Mas a clínica tem utilizado bloqueadores de puberdade em crianças a partir dos 10, dependendo de quando eles começam a puberdade.
Tanto Olson quanto Zucker dizem que tiveram muitos poucos relatos de arrependimento de seus pacientes que receberam bloqueadores de puberdade.
Mas Zucker diz que fez um estudo que mostrou que mais de 80% das crianças que foram à clínica e não foram tratados com bloqueadores hormonais estavam satisfeitos em seu gênero biológico quando chegaram aos 22 anos.
Debate
"Há um debate sobre a idade mínima que alguém deve ir no início do tratamento hormonal para reprimir a puberdade", disse ele à BBC.
"Eu acho que o que vai ficar interessante nesta área nos próximos 10 anos é que, pelo menos em alguns setores, há agora uma abordagem muito mais permissiva para o apoio à terapia hormonal de mudança de sexo e até mesmo cirurgia e a questão vai ser: 'A abordagem mais permissiva vai estar correlacionada com mais arrependimentos ou mais insatisfação?'"
Algumas crianças transgênero compram medicamentos ilegais na internet para tentar se tratar, muitas vezes com consequências graves.
Antes de receber bloqueadores de puberdade, as crianças devem passar por avaliações de saúde mental, rigorosos exames médicos e aconselhamento. Olson diz que os melhores resultados são obtidos com o início do uso de bloqueadores hormonais aos primeiros sinais da puberdade. Isso se torna mais complicado pelo fato de que as crianças estão passando pela puberdade mais jovens.
Alguns críticos dizem que o número crescente de crianças transgênero é devido a pais urbanos e liberais indo longe demais com crianças que poderiam apenas estar fazendo experiências e testando convenções.
A realidade é que a internet é, provavelmente, o maior fator que justifica o aumento de crianças transexuais, com famílias diferentes encontrando outras e trocando histórias sobre seus filhos que parecem estar passando por uma fase que, aparentemente, nunca termina.
Família
A mãe de Zoey, Ofelia, é um trabalhadora hispânica, mãe solteira de três filhos, que não sabia nada sobre transexuais até que seu filho começou a dizer: "Eu sou uma menina." Agora ela é uma defensora dos direitos transexuais.
"É bobagem pensar que estou incitando uma criança a passar por isso. Se você entender o quanto é difícil para eles fazer esta transição, para ser aceito entre os seus pares, as lutas que eles têm que passar, a dor que eles têm que atravessar...", disse Ofelia.
"Isso é quem minha filha é - isso faz sentido. Para mim e minha família isso funciona. Ela está feliz. Ela está na escola. Ela está aprendendo. Não há nada de diferente nela. Ela é apenas transgênero - e é isso."
Devido à crescente conscientização sobre transgêneros, os médicos dizem que suas clínicas têm sido inundados com pacientes ao longo dos últimos anos. A Associação Médica Americana publicou diretrizes para ajudar os médicos.
Adultos transgêneros que não podem viver facilmente como sua identidade de gênero têm maiores taxas de suicídio, são mais propensos a ser assassinados, e muitas vezes sofrem discriminação no local de trabalho.
"Não há nenhuma recompensa por ser transgênero, nenhuma recompensa. Há uma vida tomando remédios, desistindo de sua fertilidade, é mais difícil viver sendo trans," diz Olson, ressaltando que as pessoas que decidem fazer a transição sentem que esta é a única opção que eles têm para viver com seu verdadeiro eu.
"A experiência trans é notável - passar por ambos os sexos -, é tão raro. Vamos comemorar isso, e não apenas tolerar. Temos algo a aprender com as pessoas trans."

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quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Anvisa libera uso controlado do canabidiol

Anvisa libera uso controlado do canabidiol

Thamires Andrade
Do UOL, em São Paulo


A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) retirou nesta quarta-feira (14) o canabidiol (ou CBD), uma das substâncias presentes na maconha, da lista F2, composta por substâncias psicotrópicas de uso proscrito (proibido) no Brasil, para integrar a C1, que reúne substâncias sujeitas a controle especial, ou seja, que podem ser prescritas pelo médico por meio de receita em duas vias.
O assunto foi votado por unanimidade na primeira reunião da Diretoria Colegiada da agência na sede da Anvisa, em Brasília, um mês depois que o o CFM (Conselho Federal de Medicina) autorizou o uso do canabidiol no tratamento de crianças e adolescentes com casos graves de epilepsia, que não respondam ao tratamento convencional.
A decisão foi tomada com base em um relatório produzido pela coordenadoria de produtos controlados da agência, que concluiu que o canabidiol não possui o efeito psicoativo do THC. Por essa razão, sua manutenção na lista F2 seria incorreta.
"Não há coerência em manter o CBD proscrito, pois essa substância não causa os efeitos psicoativos do THC, como amnésia e síndrome de abstinência", afirmou o diretor-presidente da Anvisa, Jaime Oliveira.

Decisão não terá impacto perceptível no curto prazo

A decisão da Anvisa, a curto prazo, não terá efeitos práticos, pois a importação continuará a ser feita em caráter excepcional. Isso significa que, para importar o CBD, cada caso continuará a ser analisado individualmente pela agência.
"A reclassificação não altera a necessidade de autorização excepcional, pois os produtos importados não são compostos apenas de CBD, mas também de outros compostos como o THC, que continuam proscritos", destacou Oliveira.
Ivo Bucaresky, membro da diretoria colegiada da Anvisa, diz que a decisão, a princípio, pode parecer ser impacto perceptível imediato, mas aponta que ela trará um efeito simbólico.
"A decisão mostra que o uso do CBD não é algo ilegal, que o médico pode prescrever", afirmou Bucaresky. "Isso vai permitir que saia essa tarja de ilegalidade [do canabidiol]".
Atualmente, estudos científicos indicam o uso do canabidiol no tratamento de diversas doenças, como epilepsia, esclerose múltipla, esquizofrenia e mal de Parkinson, bem como síndromes raras que provocam convulsões nos portadores. 

Apelo de pais

Antes do início da votação, Katiele Fischer, mãe de Anne Fischer, que tem a síndrome CDKL5, problema genético raro que causa epilepsia grave, se dirigiu aos membros da diretoria colegiada para fazer um apelo, visivelmente emocionada .
"Essa reclassificação dará esperança de uma qualidade de vida de volta para muitas pessoas, não só para crianças, mas também para adultos. Sabemos que o CBD ainda não é a cura para nenhuma síndrome, mas é a esperança de uma qualidade de vida. A proibição passa uma situação ruim, de que é algo que não é legal", disse.
O presidente da Ama-me (Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal), Júlio Américo, também se dirigiu à diretoria e pediu pela reclassificação para que os caminhos de pesquisa com a substância possam ser facilitados. Pai de Pedro, garoto de cinco anos vítima de erro médico que tem epilepsia refratária, ou seja, quando a doença não responde a pelo menos dois medicamentos tradicionais, ele faz uso de um óleo rico em CBD.
"Por não saber ouvir, o poder público e os profissionais podem cometer erros e condenar pessoas a sofrimentos que poderiam ser evitados. A reclassificação será um passo importante no futuro para a política nacional de cannabis medicinal, os caminhos de pesquisa poderão ser facilitados e, no futuro, pacientes que não têm condições financeiras poderão ter acesso a essa substância", diz.

Critérios do CFM

O CFM definiu alguns critérios para a prescrição do uso do derivado da maconha. Uma delas é que o médico deverá ser da especialidade de neurologia (que abrange psiquiatras e neurologistas) e terá que efetuar um cadastro em uma plataforma online do conselho.
Além disso, o paciente que utilizar o canabidiol deverá assinar um termo de consentimento livre em que reconhece que foi informado sobre as possíveis opções de tratamento, mas que optou pelo derivado da maconha.
Esse sistema é a maneira que o CFM terá para monitorar o uso e conseguir a avaliar a segurança e os efeitos colaterais da medicação. Segundo a resolução, os médicos deverão enviar um relatório com periodicidade de até seis semanas para o conselho.
A decisão regulamentou ainda a dose que poderá ser prescrita pelo médico. O CFM estipulou de 2,5 mg/kg até 25 mg/kg (dosagem máxima) em duas vezes ao dia, dependendo do caso.
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A garota Anny Fischer tem uma doença rara e usa Canabidiol em seu tratamento8 fotos

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Katiele Fischer com a filha Anny Fischer, que tem a síndrome CDKL5, problema genético raro que causa epilepsia grave. Anny que chegou a ter mais de 50 convulsões em uma semana, melhorou após usar o Canabidiol (CBD) remédio que possui substância derivada da maconha. Katiele luta na justiça para poder importar o medicamento que é proibido no país Sergio Lima/Folhapress







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Um assassino condenado à prisão perpétua pode ter direito à eutanásia?

BBC
12/01/2015 08h24 - Atualizado em 12/01/2015 08h24

Um assassino condenado à prisão perpétua pode ter direito à eutanásia?

Especialistas ouvidos pela BBC opinam se estuprador belga Frank Van den Bleeken deveria ser autorizado a morrer.


Ministério da Justiça da Bélgica revogou decisão que autorizava morte assistida a estuprador Frank Van Den Bleeken (Foto: AFP)Ministério da Justiça da Bélgica revogou decisão que autorizava morte assistida a estuprador Frank Van Den Bleeken (Foto: AFP)
Um assassino cumprindo pena de prisão perpétua em um presídio belga soube, em setembro do ano passado, que seu pedido para morrer com injeção letal foi aceito.
Frank Van Den Bleeken estuprou e matou uma jovem de 19 anos, em 1989. Foi condenado e encarcerado em uma prisão psiquiátrica. Após ganhar a liberdade, voltou a estuprar mais três mulheres, incluindo uma criança de 11 anos.
Semana passada, o Ministério da Justiça do país revogou a decisão. O caso levanta uma questão interessante: presos que cumprem longas penas têm direito à morte assistida?
Na Bélgica, a eutanásia está disponível para doentes terminais e também para aqueles que desejam acabar com o sofrimento psicológico.
Aqui, três especialistas emitem suas opiniões sobre o caso e questionam se Frank Van Den Bleeken deveria ser autorizado a morrer.
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Ministério da Justiça da Bélgica revogou decisão que autorizava morte assistida a estuprador Frank Van Den Bleeken
Sim
Rebecca Roache, professora de Filosofia da Universidade de Londres

Van den Bleeken deve ser autorizado a escapar de seu sofrimento mental, morrendo? Ou o certo é que, dados os seus crimes, ele deve ser obrigado a suportar o encarceramento? Há argumentos de ambos os lados.
Por um lado, Van Den Bleeken tem um passado muito traumático e problemas psiquiátricos tão severos que chegou a não considerado criminalmente responsável por um tribunal, tornando-o um bom candidato ─ se alguém é ─ para a eutanásia, em razão do sofrimento psicológico.
Por outro lado, alguns podem argumentar que a prisão não é para ser agradável e que é inapropriado permitir que presos fujam de seu sofrimento por meio da eutanásia.
Há, no entanto, um forte argumento para permitir que Van Den Bleeken morra como ele deseja. Se encararmos a eutanásia como um tipo de tratamento médico (há boa razão para isso, pelo menos na Bélgica, onde é implementada por médicos, em resposta a problemas médicos), então Van Den Bleeken deve ser tratado como qualquer cidadão livre.
Isso ocorre porque os prisioneiros, em qualquer país civilizado, não têm o acesso negado a tratamentos médicos como parte de sua punição. O fato de o preso ter cometido crimes atrozes é uma pista falsa.
Se seu pedido de eutanásia fosse concedido, fosse ele um homem livre, então ela deve ser concedida, apesar dos crimes que cometeu.
Devido a isso, não era adequado que o ministro da Justiça se envolvesse no caso, principalmente derrubando a decisão que permitiria a Van Den Bleeken morrer.
Perguntas sobre se um indivíduo deve ter acesso a tratamentos médicos não devem ser respondidas por um ministro da Justiça, independentemente de o indivíduo ser, ou não, um criminoso.
Não
Daniel Sokol, advogado e especialista em ética médica
Permitir que um prisioneiro, que não é doente mental, morra por eutanásia tem um cheiro de pena de morte.
Antes de seu pedido de eutanásia, Van Den Bleeken havia pedido para ser tratado em um centro psiquiátrico especializado na Holanda. O pedido foi, inicialmente, recusado pelo Ministério da Justiça belga. Isso sugere que ele ainda tinha esperanças de obter algo melhor.
Como se vê, as autoridades belgas agora dizem que estão organizando sua transferência para a instituição holandesa. A combinação de sua doença mental, as dificuldades intensas do ambiente na prisão de Merksplas, para onde foi mandado (algo que foi criticado pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, em um processo anterior, envolvendo um prisioneiro com doença mental) e seu pedido de tratamento levanta uma possibilidade preocupante: em vez de respeitar sua autonomia, permitindo que ele morresse, representaria uma forma de abandono.
"Abandono"!, muitos podem dizer, apontando para o estuprador e assassino de Christiane Remacle, de 19 anos, em 1989. Ele estuprou mais três mulheres, incluindo uma criança de 11 anos, após ser liberado de uma prisão psiquiátrica. O rastro de miséria deixado por ele permanece entre as vítimas e seus entes queridos.
As irmãs de Remacle são contra a autorização do pedido de eutanásia por Van Den Bleeken. Elas querem que ele 'apodreça na prisão', para o resto de seus dias.
Em Reflexões sobre a Guilhotina, o filósofo francês Albert Camus contou a história de seu pai, que acordou uma manhã bem cedo para assistir à execução pública de um assassino que havia matado uma família inteira, incluindo crianças.
Seu pai pensou que a decapitação foi uma punição muito leve. Após a execução, ele voltou para casa, pálido como um fantasma, deitou na cama e vomitou. Em vez de satisfazer o desejo de seu pai em ver a Justiça ser feita, a execução tinha simplesmente provocado náuseas nele.
Camus escreveu que "longe de reparar a ofensa à sociedade, a pena de morte acrescenta uma nova mancha para o primeiro".
Permitir que os presos com doença mental grave se matem por eutanásia, sem oferecer apoio e tratamento psiquiátrico adequado, representa uma mancha na sociedade civilizada. Isso não pode ser descrito como uma eutanásia voluntária.
Se um prisioneiro com o pé gangrenado for deixado sem tratamento, com dor insuportável, e pedir a eutanásia, também não será uma escolha livre. Ele faria isso por necessidade, apenas com aparência de voluntariedade.
O caso de Van Den Bleeken levanta questões prementes sobre o nível de atendimento psiquiátrico nas prisões, na Bélgica e em outros lugares.
Os serviços psiquiátricos são adequados? São acessíveis? Há bastante investimento financeiro neles?
O caso não é único. Após o pedido de Van Den Bleeken para a eutanásia ter sido aprovado em setembro do ano passado, outros quinze detentos fizeram pedidos para serem submetidos à morte assistida.
Talvez
Victor Tadros, professor de Direito Penal e Teoria do Direito na Universidade de Warwick
Frank Van Den Bleeken, ao que parece, pretende ser condenado à morte, porque ele acredita que sua alternativa é passar o resto da vida na prisão. Para ele, talvez esta alternativa é um destino pior que a morte. Deve ser concedido a ele o direito de morrer? Não tenho certeza.
Suponha-se que aqueles que consideram o sofrimento um destino pior que a morte têm, geralmente, o direito de morrer se assim o desejarem. Suponha-se, também, que Van Den Bleeken seja suficientemente competente para tomar decisões por si mesmo.
Podemos, no entanto, duvidar que passar o resto da vida na prisão seja, segundo Van Den Bleeken, um destino pior que a morte. Nós também podemos duvidar de que suas condições não poderiam ser melhoradas para fazer o seu destino melhor do que a morte ─ talvez o seu tratamento psiquiátrico vá conseguir isso? No entanto, Van Den Bleeken pode acreditar que seu destino será pior do que a morte, mesmo que esse tratamento seja dado a ele.
Alguns podem argumentar que, se Van den Bleeken acredita que seu destino será pior do que a morte, então deve ser assim. No entanto, é difícil para nós imaginar quão bem ou mal a nossa vida vai, mesmo quando sabemos que, em termos gerais, o que vai acontecer com a gente. Van den Bleeken não é exceção.
Talvez, porém, o julgamento de Van Den Bleeken deve ser decisivo, mesmo se acabar sendo errado, ou porque ele tem mais chance de estar certo, ou porque devemos respeitar seu julgamento.
Suponha-se que Van Den Bleeken esteja certo, ou que devemos respeitar seu julgamento, mesmo que seja errado. Ele tem o direito de morrer? Alguns podem acreditar que um destino pior que a morte é uma punição proporcional dada a gravidade de seus crimes. Permitir que ele morra, então, torna sua punição muito leve. Eu acho isso difícil de aceitar. A razão pela qual ele, provavelmente, nunca mais ser liberado é a proteção do público, não porque um destino pior que a morte seja uma punição proporcional.
Ainda assim, talvez os outros - especialmente as vítimas e suas famílias - têm interesse em que ele seja mantido vivo. Um dos motivos é que as vítimas e suas famílias têm satisfação em ver o seu sofrimento.
Sua morte vai reduzir esse prazer. Em alternativa, e eu acho mais plausível, as vítimas e suas famílias podem ter interesse em punir Van Den Bleeken, ao reconhecer a importância dos crimes que cometeu.
Esta poderia ser uma razão determinante para não deixá-lo morrer? Essa ideia parece mais atraente, mas eu não tenho certeza se é suficiente para negar-lhe o direito de morrer se seu destino será realmente pior que a morte, caso ele seja forçado a permanecer vivo.









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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Por células-tronco, pais congelam dentes de leite dos filhos

06.01.2015 | 14h24
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Por células-tronco, pais congelam dentes de leite

 dos filhos

"O que eu pago por ano é o preço de dois pares de sapato"

Lalo de Almeida/Folhapress

Vitor Vasconcellos, 10, que teve a polpa de seu dente de leite congelada para tratar doenças no futuro
DA FOLHA DE S. PAULO 
















Seguindo a onda do cordão umbilical, pais  têm pago pelo armazenamento da polpa de dentes 
de leite dos seus filhos, que pode  dar origem a células-tronco.

Embora os entusiastas digam que esse material poderá ser útil no futuro no tratamento de 
doenças como alzheimer e diabetes, ainda não existe comprovação que essas células tenham 
tal potencial. 

A bancária Cristina Bittencourt, cujo pai morreu há nove anos por uma disfunção da medula
 óssea, aos 66 anos, diz que o congelamento dos dentes dos filhos  Felipe, 10, e Catarina, 7, 
foi uma "segurança a mais"  para o futuro. "O que eu pago por ano é o preço de dois pares de
 sapato."

Em média, as empresas que já oferecem o serviço em São Paulo cobram R$ 2.000 iniciais mais
 R$ 400 por ano pelos serviços de coleta, multiplicação das células e criopreservação 
(congelamento em condições especiais).

José Ricardo Ferreira, proprietário da R-Crio, diz que o negócio ainda conta com poucos clientes.
 Dentista de formação, ele espera ter retorno do investimento em cinco anos. Ferreira diz que 
mesmo o dente do siso, para quem já está um pouco mais velho, pode ser utilizado.

Outro entusiasta é Nelson Lizier, biotecnólogo que concluiu o doutorado com a produção em
 larga escala de células-tronco da polpa dentária. Ele é diretor-científico do Centro de Criogenia
 Brasil, que também oferece o serviço.

Ele afirma que já existem duas pesquisas em andamento para a aplicação das células: uma em
 lesão de córnea e outra para enxertos ósseos.

Para outras doenças, no entanto, os tratamentos ainda estão sendo feitos em animais, com 
formação de células produtoras de insulina no pâncreas (para diabetes) e de novos neurônios 
a partir das células-tronco (para doenças neurodegenerativas).

"A gente não sabe o dia de amanhã, creio que muitos benefícios vão surgir", afirma o químico 
Kléber Vasconcellos, que não tem nenhuma doença na família mas decidiu armazenar a polpa
 do dente de leite do filho Vitor, 10.

Ressalvas

Procurada pela Folha, a Anvisa afirmou que as empresas podem oferecer o serviço de 
criopreservação, mas sem prometer tratamento para nenhuma doença, fato que elas devem 
deixar claro no contrato firmado com os clientes.

A pesquisadora Monica Duailibi, da Unifesp, conta que muitos estudos clínicos ainda estão em
 fase inicial, ou seja, a sua própria segurança ainda está em xeque. Por isso, diz, os
 consumidores têm que ter cuidado.

A pesquisadora do Instituto Butantan e orientadora de Lizier na pós-graduação, Irina Kerkis, 
afirma que é importante que as pessoas estejam cientes de que podem pagar durante anos por 
um serviço de que nunca vão necessitar. 

Ela cita ainda o risco de perda de viabilidade, que ocorre com o tempo ou mesmo por negligência
 de um funcionário que deixou a temperatura do nitrogênio líquido –onde são guardadas as 
células– subir.

Irina acredita, porém, que como a origem embrionária da polpa do dente de leite é compartilhada
 com a dos neurônios, é provável que se torne possível tratar doenças neurodegenerativas assim.


Ela defende que o governo invista na área, inclusive com a criação de bancos públicos de 
células-tronco. 










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