Homem contraiu febre maculosa após passeio na Pampulha
Ele alega que encontrou carrapato depois de ter ido à orla, diz PBH.
Este é o segundo caso confirmado da doença este ano na capital.
O homem de 54 anos que teve febre maculosa em Belo Horizonte, configurando o segundo caso confirmado na capital, alega ter encontrado um carrapato no corpo quatro dias após ter passeado na orla da Lagoa da Pampulha no mês de julho. A espécie estrela é transmissora da doença.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, ele começou a apresentar os sintomas seis dias depois. O paciente procurou atendimento e recebeu medicamento para febre maculosa. Ainda segundo o órgão, a notificação não foi feita na época. O homem já está recuperado.
Esse é o segundo caso confirmado da doença em 2016. O primeiro foi Thales Martins Cruz, de 10 anos, que morreu de febre maculosa, depois de visitar o Parque Ecológico da Pampulha.
"A gente constatou uma picada de um bicho atrás da perna do Thales e a gente não sabia que bicho que era. E ai o Thales começou a ter febres intensas, começou manchas no corpo e ai foi piorando o quadro do Thales”, contou o padrasto do menino, Welerson Scatolim. Belo Horizonte teve cinco casos confirmados nos últimos dez anos
Ainda não há resultado para os exames dos pacientes com suspeita de febre maculosa internados no Hospital Eduardo de Menezes.
A Secretaria Estadual de Saúde informou que Minas Gerais tem 12 casos da doença confirmados neste ano, com quatro mortes. A Fundação Ezequiel Dias está analisando 15 casos suspeitos vindos de todo Brasil.
Coleta
O Parque Ecológico da Pampulha, em Belo Horizonte, ficou fechado na manhã desta quinta-feira (22) para a coleta de carrapatos. Técnicos do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) estiveram no local para realizar os trabalhos. A prefeitura quer determinar a proporção da espécie estrela e tomar medidas para conter a doença.
Os carrapatos serão enviados para laboratório. Se os estudos confirmarem que a espécie é do tipo estrela, serão reforçadas medidas de saúde pública.
São utilizadas duas técnicas: a de arrasto de flanela, pra prender os carrapatos, e a armadilha de gelo seco, que libera gás carbônico para atrair as espécies. “É uma série de medidas que, conjuntamente, favorece a diminuição da população de carrapatos na área”, explicou o gerente do CCZ Eduardo Vianna.
Justiça
A Prefeitura de Belo Horizonte recorre contra ordem judicial que, em janeiro deste ano, determinou a liberação dos animais mantidos em cativeiro. O processo está no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) atribui à prefeitura a responsabilidade sobre os animais e informou que também não realiza nenhum tipo de controle. Nos últimos dois anos, a situação dos animais é motivo de impasse entre os órgãos.
Segundo a prefeitura, desde junho de 2013, animais hospedeiros não circulam na área de visitação, que contém placas informativas. Além disso, a Gerência Regional de Controle de Zoonoses – Pampulha realiza busca ativa do carrapato-estrela. e, em caso de necessidade, áreas poderão ser cercadas.
A doença
A doença
A febre maculosa é transmitida pelo chamado "carrapato-estrela". Esse animal tem como hospedeiros principais os cães, cavalos, as aves e capivaras. A doença se manifesta repentinamente acompanhada de vários sintomas, como febre alta, dor de cabeça, dores no corpo, náuseas e vômitos.
A doença tem um ciclo de incubação que dura de cinco a dez dias, até se manifestar. Um dos maiores problemas apontados pelos médicos é o fato de que os sintomas se parecem com os de outras doenças, como a dengue. A demora no diagnóstico pode levar à morte.
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O verdadeiro vilão da febre maculosa
Samylla Mól
Membro do Grupo de Pesquisa CEBID – Dom
Helder;
Mestre em Direito Ambiental e
Desenvolvimento Sustentável pela Escola Superior Dom Helder Câmara;
Graduada em Direito e em História.
No
conjunto arquitetônico e paisagístico da Pampulha, recentemente reconhecido
como Patrimônio Cultural da Humanidade, vivem famílias de capivaras.
Entretanto a
bucólica paisagem com esses animais tomando sol na orla da lagoa pode estar com
os dias contados se uma reflexão sóbria e objetiva não for feita.
Isso porque foi
recentemente diagnosticado o óbito de uma criança em razão da Febre Maculosa e
as capivaras são apontadas como as vilãs dessa tragédia. Mas será isso mesmo? Serão
as capivaras as grandes vilãs dessa história?
A febre
maculosa é uma doença infecciosa causada pela bactéria Rickttesia, transmitida por carrapatos Amblyomma cajennense previamente infectados. A contaminação dos
carrapatos pode ocorrer de uma geração para outra, ou seja, eles podem transmitir
a bactéria entre si, através de cópula ou pela forma transovariana. Assim, não
é, necessariamente, uma capivara ou um equídeo portador da bactéria que infecta
o carrapato.
Obviamente,
como hospedeiros preferenciais destes carrapatos, tanto os equídeos (cavalos,
burros, mulas) como as capivaras, podem contribuir para sua proliferação, se
medidas sanitárias não forem tomadas.
Porém, há que
se pensar o seguinte: as capivaras se restringem a circular na região da Lagoa
da Pampulha ao passo que os equídeos transitam por toda a cidade, possivelmente
atuando como veículos para os carrapatos.
Em Belo
Horizonte existe uma lei que regulamenta o trânsito de carroças e estabelece
medidas sanitárias em relação aos animais utilizados neste trabalho, mas esta
lei, embora de 2011, ainda não foi implementada pelo Poder Público. Face a
isso, a realidade é que hoje equídeos magros e com baixa imunidade circulam
livremente pelas ruas da capital sem qualquer fiscalização ou vigilância
epidemiológica. Quem garante que eles não estejam atuando como propagadores de
carrapatos?
No guia de
vigilância em saúde de 2005, o Ministério da Saúde, já advertia acerca da
relação entre o aumento de casos de Febre Maculosa e a existência de equídeos
em ambiente urbano: “Fato importante que normalmente explica o ressurgimento da
febre maculosa em índices elevados nos últimos anos é o relativo aumento das
fontes de alimentação do Amblyomma
cajennense, principalmente equídeos, nas áreas rurais e periurbanas. Em
função da crise econômica e social, tem-se observado o grande número das
populações de equídeos nas áreas periurbanas, decorrente da disponibilidade de
mão-de-obra não especializada que busca na ocupação de carroceiro seu modo de
sobrevivência.” (BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em
Saúde. Guia de vigilância epidemiológica.
6 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2005.)
Desde 2014 o
Ministério da Saúde (2014) orienta que dentre as medidas preventivas à Febre
Maculosa está a “formulação e implementação de leis voltadas para o controle de
animais em área urbana.” (BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância
em Saúde. Guia de vigilância em saúde.
Brasília: Ministério da Saúde, 2014.) Em Belo Horizonte, como mencionado, a lei
foi formulada, mas não foi implementada.
Voltar os olhos
para as capivaras e ignorar que carrapatos possam estar circulando pela cidade,
sob o lombo dos equídeos-carroceiros, é enxergar metade do problema e propor uma
pseudossolução.
Entretanto a
mesma pergunta volta à tona: serão os equídeos os vilões dessa história?
Ainda que
equídeos sejam responsáveis pela propagação dos carrapatos, assim como as
capivaras eles não são os vilões da febre maculosa. O vilão é o carrapato.
Um raciocínio bioético
e lógico precisa ser feito: é preciso controlar a ocorrência do carrapato,
exterminar o carrapato! Já os animais hospedeiros devem ser cuidados, tutelados
e medicados, como forma de garantia do seu bem-estar e da saúde pública.
CEBID - Centro de Estudos em Biodireito
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