09/11/2012 06h00
- Atualizado em
09/11/2012 06h00
Mãe que emprestou barriga para filha espera gêmeas: ‘Elas mexem demais’
Para gerar as netas, avó de 51 anos precisou
emagracer 11 kg, em Goiás.
Ela vai entrar no 7º mês de gestação;
filha perdeu o útero há 20 anos.
Avó emagreceu 11 kg e voltou a menstruar para gerar
netas (Foto: Fernanda Medeiros/Arquivo Pessoal)
A dona de casa Maria da Glória, de 51 anos, que emprestou
o útero para gerar as netas Emanuele e Júlia, vai entrar no 7º mês
de gestação no próximo domingo (11). Em entrevista ao G1,
ela contou que o empréstimo foi um “presente” para sua filha, a
funcionária pública Fernanda Medeiros, de 34 anos, que perdeu o útero há
20 anos. “As meninas mexem demais. Às vezes, dá uma canseira, mas faz
parte. Afinal, são duas crianças”, diz a avó, que mora com a família em
Santa Helena de Goiás. Mãe de três filhos, ela já tem um neto de 9 anos.
“É um presente que estou dando a ela. Escuto muito que é um ato de
amor. Outros já dizem que não teriam a coragem que tive. Mas vivo um
sentimento muito bom, a emoção é muito grande. Estamos vivendo um
sonho”, declarou a avó.
Maria da Glória teve de emagrecer 11 quilos e voltar a menstruar para
poder gerar as netas. Ela tinha entrado na menopausa havia cinco anos.
De acordo com ela, a saúde está boa.
O ginecologista obstetra que acompanha o pré-natal, Erickson Cardoso
Nagib, diz se surpreender com o andamento da gravidez e com a força da
avó das gêmeas. “Ela está excelente. Por ser uma gravidez de risco por
causa da idade, ela está extremamente saudável”, avalia.
Esta é a primeira vez que o obstetra acompanha um caso de útero em
substituição, mais conhecido por barriga de aluguel. Para ele, Maria da
Glória foi corajosa. “Quando essa barriga de aluguel acontece entre
parentes, seja entre irmãs, primas ou mães e filhas, acho muito
saudável”, acredita Erickson Cardoso.
Estamos vivendo um sonho" - Maria da Glória
A descoberta do sexo dos bebês aconteceu no 4º mês de gestação. “A
gente vê a alegria dela na hora do ultrassom. Os olhos brilham. É muito
legal”, revela o médico sobre a reação da avó diante da imagem das
netas.
O médico também elogiou a garra de Fernanda. “Ela batalhou e é
espetacular ver essa força de vontade para ter as filhas depois de tudo
que ela passou na adolescência”, disse Erickson, referindo-se a perda do
útero da mãe das gêmeas.
A previsão para o nascimento das meninas é para o dia 20 de janeiro.
Entretanto, segundo o obstetra Erickson Cardoso, elas podem nascer
prematuras por serem gêmeas. “A expectativa é boa. Tínhamos um sonho e
começamos a lutar por ele. Quando vemos que está dando certo, é bom
demais”, diz Fernanda.
Retirada do útero
Fernanda descobriu que não poderia ter filhos aos 13 anos. A servidora
nasceu com deficiência uterina e, segundo ela, teve de retirar o órgão
após a primeira menstruação, quando teve cólicas tão fortes que a
levaram para o hospital. “Só fui saber que não tinha mais útero 15 dias
depois da cirurgia, quando fui retirar os pontos. O médico me explicou
tudo e tive que me conformar. Na época, foi triste demais porque desde
nova eu já gostava de criança e tinha vontade de ser mãe”, lembra a mãe
biológica das gêmeas.
Maria da Glória durante ultrasonografia com o
obstetra Erickson (Foto: Fernanda Medeiros/Arquivo Pessoal)
Fernanda se casou aos 20 anos e tentou adotar, mas não deu certo. Em
2005, a servidora pública viu na TV a história de uma sogra que gerou o
neto para a nora. “Minha mãe e minha sogra se ofereceram para gerar meu
filho. Fomos ao médico, eu e minha mãe, mas o doutor disse que seria
muito arriscado por causa da idade dela. Então, não deu certo”, lembra a
funcionária pública, que na época também não tinha condições
financeiras para bancar o procedimento.
Mesmo diante da tentativa frustrada, Fernanda não desistiu e, no início
de 2011, voltou ao médico. Maria da Glória foi submetida a exames que
revelaram a ótima saúde para gerar os bebês. “A primeira tentativa para a
fertilização fracassou porque não ovulei muito. Mas na segunda vez
ovulei bem e separamos quatro embriões bons. Dois usamos e os outros
dois estão congelados”, revela Fernanda.
Dificuldades
A família ainda não começou a fazer o enxoval das meninas por falta de
condições financeiras. De acordo com Fernanda, mesmo fazendo todo o
procedimento de fertilização in vitro pelo Sistema Único de Saúde (SUS),
ela e o marido tiveram muitos gastos com o congelamento dos embriões e
com medicamentos. Agora, eles esperam terminar de pagar essas dívidas
para começar a comprar os objetos das gêmeas. Enquanto isso, eles ganham
presentes de amigos.
Mesmo com as dificuldades financeiras, Fernanda não abre mão de estar
com a mãe e as filhas todos os dias. Elas moram em bairros próximos.
“Vejo minha mãe todos os dias para falar com ela e com as meninas. E
elas mexem e pulam bastante quando falo que é a mamãe. Realmente estamos
vivendo um sonho. Não tem nem como explicar porque já tínhamos perdido a
esperança”, conta Fernanda, emocionada.
Fernanda e o marido Allen comemoram a chegada das
filhas (Foto: Arquivo Pessoal)
O que preocupa Fernanda é o registro das filhas. Ela já entrou na Justiça para conseguir registrar as gêmeas sem burocracia assim que elas nascerem. Ela está amparada na resolução 1.358/1992 do Conselho Federal de Medicina (CFM), que estipula que as doadoras do útero devem pertencer à família da doadora do material genético, em parentesco de até 2º grau.
Além de poder registrar as filhas no nome dela e do marido, doadores do
material genético, a servidora pública espera uma decisão favorável
também para poder ter direito à licença-maternidade. “A qualquer hora
minha mãe pode passar mal e com o registro terei a certeza de que
poderei tirar a licença para cuidar dela e das minhas filhas”, supõe.
---------------------------------------------------------------
CEBID - Centro de Estudos em Biodireito
Nenhum comentário:
Postar um comentário