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sábado, 23 de julho de 2011

Justiça autoriza antecipação de parto

21/07/2011 - Justiça autoriza antecipação de parto

A juíza da 2ª Vara Cível de Ipatinga, Maria Aparecida Oliveira Grossi Andrade, autorizou a antecipação terapêutica do parto de um feto anencéfalo. A magistrada determinou que a cirurgia deverá ser realizada por médico devidamente habilitado, em hospital indicado pela gestante.

“Não há o que se fazer para tornar viável a vida do feto, portanto, a antecipação do parto deve ser entendida como um procedimento terapêutico para resguardar e proteger a dignidade e a integridade física e mental da mulher”, ponderou a magistrada.

O pedido de interrupção da gravidez foi feito pela gestante e seu marido. De acordo com exames de ultrassonografia e relatórios médicos, “por ser portador de anencefalia, o feto não tem condições de vida extrauterina, tratando-se de gestação com alto risco de vida para a gestante”.

A magistrada disse que a interrupção da gestação não tem “nenhuma correlação” com o aborto. “Não seria correto qualificar como crime de aborto a interrupção da gestação de um feto sem viabilidade de vida. Por isso emprega-se o termo antecipação terapêutica de parto para os procedimentos que apenas antecipam o parto do feto, sem possibilidade de sobrevida extra-uterina”, explicou.

Observou que o aborto é autorizado em casos de risco de vida para a mulher e em casos de gravidez resultante de estupro, previsões legais do Código Penal (CP) de dezembro de 1940, uma “época em que o desenvolvimento da medicina não possibilitava a realização do diagnóstico pré-natal com a segurança de hoje”. A magistrada observa que a medicina hoje é capaz de diagnosticar a má-formação fetal, “cujos efeitos são inafastáveis, sendo absolutamente inviável e desumano o prolongamento da gestação”. E, discorrendo sobre a importância da adaptação do ordenamento jurídico à vida moderna, a juíza observou que o direito é “uma ciência dinâmica, que deve se adequar à realidade”.

Maria Aparecida Grossi mencionou doutrinas e teses em que o entendimento é de que “a permanência do feto anômalo no útero da mãe é potencialmente perigosa, podendo gerar danos à saúde da gestante e até perigo de vida, em razão do alto índice de óbitos intrauterinos de fetos anencéfalos”. Além disso, citou jurisprudência do TJMG, indicando a interrupção da gravidez até como “medida de prevenção profilática”, quando há “constatação médica de inviabilidade de vida pós-parto, dada a ausência de calota craniana no feto – anencefalia”.

“A manifestação favorável do Estado-Juiz para a realização do procedimento médico pretendido no caso vertente, traduz, acima de tudo, o respeito à dignidade humana”, finalizou a juíza.

Essa decisão está sujeita a recurso.


Assessoria de Comunicação Institucional - Ascom
Fórum Lafayette

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quinta-feira, 7 de julho de 2011

Revealed: The thousands of pregnancies aborted for 'abnormalities' including cleft palates and Down's syndrome


Revealed: The thousands of pregnancies aborted for 'abnormalities' including cleft palates and Down's syndrome

  • 2,290 abortions due to foetal medical problems last year
  • 35,000 abortions among under-16s since 2002
  • 26 terminations since 2002 due to cleft palate fears
Last updated at 11:29 AM on 5th July 2011
Court battle: The Rev Joanna Jepson went to the High Court in 2003 to challenge the legality of an abortion of a baby terminated at 28 weeks because of a cleft palate
Court battle: The Rev Joanna Jepson went to the High Court in 2003 to challenge the legality of an abortion of a baby terminated at 28 weeks because of a cleft palate
Thousands of pregnancies were aborted last year for 'abnormalities' including 500 for Down's syndrome, new figures reveal.
In total, there were 2,290 abortions for medical problems with the foetus, with 147 performed after 24 weeks.
The statistics for 2010 in England and Wales were released after the Department of Health yielded to a Freedom of Information Request from the Pro Life Alliance, following a five-year legal battle.
It is the first time in nearly a decade that the Government has released data on abortions performed on the grounds of disability.
Julia Millington, spokeswoman for the ProLife Alliance, said: 'This is a great victory for transparency and freedom of speech and we are delighted that full information about the justification for late abortions is now being made available in the same detail as it was in 2001.'
The data reveals that in 2010, 482 foetuses were aborted for Down's syndrome, including 10 who were over 24 weeks.
There were also 128 terminations for the nervous disorder spina bifida, including 12 after 24 weeks.
Musculoskeletal problems such as club foot were the reason for 181 abortions, including eight over 24 weeks.
There were seven terminations on the grounds of a cleft palate, rising to 26 terminations for this condition since 2002.
Abortions for medical conditions in 2010

Total AbortionsAbortions over 24wks
All medical conditions2,290147
Spina Bifida12812
Cleft lip and palate70
Musculoskeletal system (Eg, club foot)1818
Down's syndrome48210
Edwards' syndrome16410
Foetus affected by maternal factors1157
Family history of inherited disorder1811

It marks the end of a six-year battle between an anti-abortion group and the Government for access to the controversial data.
In 2005, Pro Life Alliance asked that the Department of Health to publish data on foetal abnormalities for 2003.

More...

The figures were suppressed after a Church of England curate, the Rev Joanna Jepson, went to the the High Court to challenge the legality of a baby terminated at 28 weeks in 2001 because it had a cleft palate.
Miss Jepson who was born with a jaw deformation, which was corrected by surgery, said the case demonstrated the 'culture of physical perfection.'
Foetus at 24 weeks: Newly released data reveals there were 147 abortions after 24 weeks due to medical problems
Foetus at 24 weeks: Newly released data reveals there were 147 abortions after 24 weeks due to medical problems such as Down's syndrome
The Department of Health had challenged the move, saying the numbers were so low it could lead to women being identified.
The Government then challenged successful appeals made by the anti-abortion group to The Information Commissioner and an Information Tribunal.
However, in April, the Department of Health finally conceded defeat after the appeal was upheld by the High Court.
abortions table


They also released figures on abortions to under-16s between 2002 and 2010. There were an astonishing 35,262 terminations during this period.
In 2010 there were 3,718 under-16s abortions in England, including 2,676 to 15-year-olds, 906 to 14-year-olds, 134 to 13-year-olds and two to 12-year-olds.Ms Millington, said: 'The ProLife Alliance is opposed to all abortion at any stage in pregnancy, but terminating the lives of babies at gestational ages when they could survive is always particularly horrifying. 
'We have always argued that if these abortions are permitted under law, there should be no attempt whatsoever to hide details of the numbers or justifications.'
A cleft lip and palate is the most common facial birth defect in the UK. There have been 40 terminations for cleft palates since 2002
A cleft lip and palate is the most common facial birth defect in the UK. There have been 40 terminations for cleft palates since 2002
However, Ann Furedi, chief executive of the British Pregnancy Advisory Service (BPAS), said: 'The publication of these statistics after a campaign by the anti-abortion lobby reveals little more than their own vindictiveness.
'Abortion for foetal anomaly is legal. Behind every one of these figures are doctors and nurses who deserve our admiration and support, and a couple who have often lost a much-wanted pregnancy.'
Abortion is legal in the first 24 weeks of pregnancy for disability reasons but also if the pregnancy poses a risk to the mother's mental health.
After 24 weeks, an abortion is allowed only if there is substantial risk of 'serious' physical or mental abnormality, or the woman's life is in danger.
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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Primeiro casamento gay do Brasil pode ser anulado, dizem juristas

Rafael Spuldar
Da BBC Brasil em São Paulo

O primeiro casamento gay do Brasil, realizado nesta terça-feira em Jacareí (SP), pode ser contestado na Justiça e acabar sendo considerado nulo, segundo afirmam juristas ouvidos pela BBC Brasil.

Casal gay se dá as mãos durante manifestação em Brasília. Foto: AFP
Celebração ocorreu em SP; para especialistas, caso ainda pode ser contestado na Justiça

O casamento ocorreu de acordo com decisão do juiz da 2ª Vara da Família e das Sucessões de Jacareí, Fernando Henrique Pinto, após um parecer favorável do Ministério Público de São Paulo.

Os noivos, Luiz André de Rezende Moresi e José Sérgio Santos de Sousa, estão juntos há oito anos e viviam em regime de união estável. A conversão da união estável em casamento ocorreu no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais de Jacareí.

No entendimento do jurista Ives Gandra Martins, o casamento homossexual, nos termos atuais, fere o parágrafo 3º do artigo 226 da Constituição Federal, que, segundo ele, prevê que apenas casais heterossexuais podem se casar.

Para Gandra, qualquer pessoa ou entidade - como o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por exemplo - pode entrar na Justiça com uma ação de inconstitucionalidade e contestar a união.

O jurista afirma que, se o caso for para o Supremo Tribunal Federal (STF), a aprovação do casamento gay é uma possibilidade concreta, de acordo com a tendência de decisões recentes tomadas pelos ministros.
Em 5 de maio, o Supremo decidiu, por unanimidade, reconhecer a união estável para casais do mesmo sexo, ao julgar ações ajuizadas pela Procuradoria-Geral da República e pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.

"Do ponto de vista constitucional, o STF teria de dizer que não pode (haver casamento gay)", diz Gandra. "Mas com essa nova visão dos ministros, de agir com um certo ativismo judicial, acredito que isto possa ser aprovado".

Isonomia
Já para o professor de Direito Constitucional da PUC Minas Fernando Horta Tavares, a Constituição, embora se refira a gênero no que diz respeito ao casamento, também defende o princípio de isonomia, que garante que todos são iguais perante a lei.

"Esta parece ser a linha mais indicada (para avaliar o casamento gay), mais universalista", diz o professor.
Tavares afirma que, ao reconhecer a união estável de casais gays, o STF deu um "passo importante" no sentido de conceder isonomia aos homossexuais e abrir espaço para a liberação do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

No entanto, o jurista e professor de Direito da Faap Álvaro Villaça Azevedo diz que só será possível afirmar que o STF reconheceu a união estável gay quando sair o acórdão da decisão do tribunal, o que ainda não ocorreu.

No entendimento do jurista, os ministros do Supremo apenas reconheceram que os casais gays têm, por analogia, os mesmos direitos das pessoas que vivem em união estável.

"Uma coisa é aplicar analogicamente as regras da união estável, outra é admitir a união gay como estável", diz Villaça.

Na opinião do jurista, ao dar à união gay a proteção enquanto família, o STF não afronta o artigo 226 da Constituição, que, segundo ele, "não esgota a matéria". No entanto, Villaça entende como inconstitucional a concessão do status de união estável aos casais homossexuais.


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Cidade do interior de SP realiza 1° casamento civil gay do Brasil

João Carlos de Faria, O Estado de S. Paulo

Em cerimônia que não durou mais do que 15 minutos, o comerciante Luis André de Souza Moresi e o cabeleireiro José Sergio de Souza Moresi tornaram pública nesta terça-feira, 28, em Jacareí, no interior de São Paulo, o primeiro casamento civil de homoafetivos no país.

Eles receberam do cartório de registro civil da cidade a certidão de casamento conforme decisão do juiz da 2º Vara de Família Fernando Henrique Pinto que, nesta segunda-feira, 27, homologou a convenção da união estável do casal para casamento civil.

Com isso, eles passam a adotar o mesmo sobrenome e passam a desfrutar de todos os direitos de uma união civil convencional. "Em um sonho de fada que se realiza", afirmou José Sérgio. Segundo ele, o casamento reconhecido oficialmente vai proporcionar maior tranquilidade ao casal.

Nilton Fukuda/AE
Nilton Fukuda/AE
Comerciante e cabeleireiro com a certidão de casamento

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Brasília realiza primeiro casamento lésbico do País

Felipe Recondo - O Estado de S. Paulo

Sílvia Gomide e Cláudia Gurgel tornaram-se ontem as primeiras mulheres formalmente casadas do País. Juntas desde 20 de fevereiro de 2000, as duas conseguiram converter a união estável em casamento por decisão da juíza Júnia de Souza Antunes, da 4ª Vara de Família do Distrito Federal. Sílvia Gomide, agora formalmente casada, passará a usar também o sobrenome Gurgel.

Com a decisão de ontem, já são dois os casamentos entre homossexuais no país. Na segunda-feira, em Jacareí, interior de São Paulo, o comerciante Luis André de Souza Moresi e o cabeleireiro José Sergio de Souza Moresi conseguiram converter a união estável em casamento. Ontem, eles receberam do cartório de registro civil da cidade a certidão de casamento conforme decisão do juiz da 2º Vara de Família Fernando Henrique Pinto.

A conversão da união estável em casamento é um passo a frente na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Agora, adianta Maria Berenice Dias, advogada de Sílvia e Cláudia, o próximo passo pode ser o casamento direto, sem que os homossexuais tenham de pedir a conversão da união homoafetiva em casamento, como ocorreu nos dois casos. "O caminho a partir de agora é esse", afirmou.

Na sua sentença, a juíza Júnia de Souza Gomide afirmou que a decisão do Supremo, de garantir às uniões homoafetivas os mesmos direitos e deveres previstos para os casais heterossexuais, não deixou espaço para que os magistrados de todo o país decidissem de outra maneira.

"Com a decisão prolatada, o Supremo Tribunal Federal aboliu qualquer interpretação que pretendesse diferenciar as relações homoafetivas das heteroafetivas, ressaltando que o instituto da família abrange e protege ambas e, em consequência, conclui que é possível a união estável homoafetiva nos mesmos moldes em que ocorre a união estável heteroafetiva", afirmou.

Sílvia e Cláudia vivem no mesmo apartamento, comprado em conjunto, já firmaram testamentos tendo uma como herdeira da outra e uma é beneficiária da outra nos plenos de aposentadoria e de Saúde do Senado.

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Nasce bebê concebido com sêmen de pai morto

Evandro Fadel / CURITIBA - O Estado de S.Paulo

Nasceu anteontem na capital do Paraná a filha de um homem que morreu em fevereiro do ano passado. Luísa Roberta foi gerada pela mãe, a professora Kátia Lenerneier, de 39 anos, com o sêmen congelado do marido, Roberto Jefferson Niels, morto aos 33 anos em decorrência de um câncer.

A Resolução 1.385, do Conselho Federal de Medicina (CFM), de 1992, que trata da ética na utilização de técnicas de reprodução assistida, impedia que a inseminação artificial fosse feita, porque Niels não tinha deixado uma autorização por escrito para a utilização de suas células sexuais para esse fim. "O sêmen me pertence, posso fazer o que quiser, menos destinar para mim mesma", afirmou Kátia na ocasião. Portanto, ela precisou recorrer à Justiça para poder engravidar.

Marco André Lima/Gazeta do Povo
Marco André Lima/Gazeta do Povo
Sonho realizado. Kátia Lenerneier deu à luz em Curitiba


"Conseguimos demonstrar, com declarações da família, de amigos, de médicos, que a vontade dele (Niels) era ter um filho", declarou a advogada de Kátia, Dayana Dallabrida, em 2010.

O juiz Alexandre Gomes Gonçalves, da 13.ª Vara Cível de Curitiba, autorizou, em maio do ano passado, que o sêmen fosse utilizado, após a Clínica e Laboratório de Reprodução Humana e Andrologia (Androlab) ter se recusado a fazer a intervenção, justamente porque o termo assinado quando da coleta não expressava a destinação do sêmen.

A professora e o marido haviam procurado a Androlab no ano de 2008, antes mesmo de Niels receber o diagnóstico de câncer, porque ambos estavam casados havia cinco anos e desejavam um filho, mas as tentativas de engravidar não estavam sendo bem-sucedidas.

Por orientação de uma médica que operou Niels, a decisão de congelar o seu sêmen foi tomada antes do início das sessões de quimioterapia, após ele ter sido diagnosticado com um melanoma com metástase. Contrariando as pequenas probabilidades de a gestação ocorrer - eram de 20% a 30% em cada tentativa -, Kátia engravidou em setembro, já na segunda sessão, por meio da fertilização em laboratório e posterior introdução do embrião em seu útero.

Vontade inequívoca. Apesar do posicionamento contrário do CFM, o juiz preferiu levar em consideração o desejo do casal. "Não parece, porém, que essa manifestação de vontade deva ser necessariamente escrita; deve ser, sim, inequívoca e manifestada em vida, mas sendo também admissível a vontade não expressada literalmente, mas indiscutível a partir da conduta do doador - como a do marido que preserva seu sêmen antes de se submeter a tratamento de doença grave, que possa levá-lo à esterilidade e incentiva a esposa a prosseguir no tratamento", escreveu Gonçalves na sentença de maio de 2010.

A decisão do magistrado causou polêmica. O representante do CFM no Paraná, Gerson Zafalon Martins, foi um dos que discordaram da sentença. Segundo afirmou, logo após a decisão, a maior preocupação deveria ser com a "vulnerabilidade" da criança gerada após a morte do pai. "Nós não sabemos como reagirá (a criança), sabendo que o pai é morto", ponderou.

Ele também afirmou que, entre os principais países, apenas a Grã-Bretanha admite a inseminação em caso semelhante, mas não garante os direitos sucessórios. Segundo previu a advogada de Kátia, o nascimento de Luísa Roberta deve motivar novas discussões jurídicas, como a paternidade na documentação da criança e o direito de herança.

Assista reportagem exibida no Jornal Hoje (Globo, 21 de junho de 2011)



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Aborto seletivo pode explicar déficit de 8 milhões de meninas na Índia

Geeta Pandey
De Nova Déli, para a BBC


Anushka, bebê que quase foi abortado na Índia

A indiana Kulwant (aqui chamada por um nome fictício, por razões legais) tem três filhas com idades de 24, 23 e 20 anos e um filho com 16.
No período entre os nascimentos da terceira menina e do menino, Kulwant engravidou três vezes, mas foi forçada pela família a abortar os bebês após exames de ultrassom terem confirmado que eram do sexo feminino.
O caso ilustra um problema cada vez mais grave na Índia: o censo de 2011 no país revelou um forte declínio no número de meninas com menos de sete anos.
Militantes que fazem campanha para que a prática de abortar meninas seja abandonada temem que oito milhões de fetos do sexo feminino tenham sido abortados na última década. Para alguns, o que acontece hoje na Índia é infanticídio.
"Minha sogra me insultava por eu ter tido apenas meninas. Ela disse que seu filho ia se divorciar de mim se eu não tivesse um menino", disse Kulwant.
Ela contou que tem vívidas lembranças do primeiro aborto. "O bebê já tinha quase cinco meses. Ela era linda. Eu tenho saudades dela e das outras que matamos", ela contou, enquanto secava as lágrimas com as mãos.

Indesejadas
Até o nascimento do filho, todos os dias, Kulwant levava surras e ouvia xingamentos do marido, sogra e cunhado. Uma vez, segundo ela, o grupo tentou colocar fogo nela.
"Eles estavam com raiva. Não queriam meninas na família, queriam meninos para que pudessem receber bons dotes", ele explicou.
A prática de pagar dotes foi declarada ilegal na Índia em 1961, mas o problema persiste e o valor do dote sobe constantemente, afetando ricos e pobres.
O marido de Kulwant morreu três anos após o nascimento do filho. "Foi praga por causa das meninas que matamos. Por isso ele morreu tão jovem", ela disse.
A vizinha de Kulwant, Rekha (nome fictício), tem uma menina de três anos de idade.
Em setembro do ano passado, quando ficou grávida novamente, foi forçada pela sogra a abortar dois gêmeos após um exame de ultrassom revelar que eram meninas.
"Eu disse que não há diferença entre meninas e meninos, mas aqui eles pensam de outra forma. Não há felicidade quando nasce uma menina. Eles dizem que o menino vai carregar a linhagem adiante, mas meninas se casam e vão para uma outra família".
Kulwant e Rekha vivem em Sagarpur, uma região de classe média-baixa no sudeste de Nova Déli.

Bebê Milagre
Longe dali, na cidadezinha de Bihvarpur, no Estado de Bihar, a bebê Anuskha - a mais jovem de quatro meninas - sobreviveu por pouco.
Quando sua mãe, Sunita Devi, ficou grávida em 2009, foi a uma clínica para fazer um exame de ultrassom.
"Perguntei ao médico se era menina ou menino", disse Sunita. "Eu disse a ela que era pobre e que tinha três meninas, e não podia tomar conta de mais uma".
A médica disse que o bebê era do sexo feminino. "Pedi um aborto. Ela disse que ia custar US$ 110".
Sunita não tinha o dinheiro e não fez o aborto. Hoje, Anushka tem nove meses de idade. A mãe diz que não sabe como vai alimentar e educar as filhas, ou pagar por seus dotes.
A história dessas mulheres se repete em milhões de lares em toda a Índia, afetando ricos e pobres. Porém, quanto maior o poder econômico da família, menores são as chances de que "milagres" como o de Anushka se repitam.

Números
Embora o número total de mulheres tenha aumentado no país - devido a fatores como um aumento na expectativa de vida - a proporção entre o número de meninas e o de meninos no país é a segunda pior do mundo. só ficando atrás da China.
Em 1961, para cada mil meninos com menos de sete anos de idade, havia na Índia 976 meninas. Hoje, o índice nacional caiu para 914 meninas.
Os números são piores em algumas localidades.
Em um distrito na região sudoeste de Nova Déli, o índice é de 836 meninas com menos de sete anos para cada mil meninos. A média em toda a capital não é muito melhor, 866 meninas para cada mil meninos.
Os dois Estados com os piores índices, Punjab e Haryana, são vizinhos da capital. Nesses locais, no entanto, houve alguma melhora em comparação com censo anterior.
O censo recente revelou pioras nos índices de 17 Estados, com as piores quedas registradas em Jammu e Kashmir.

'Vergonha Nacional'
Especialistas atribuem o problema a uma série de fatores, entre eles, infanticídio, abuso e negligência de crianças do sexo feminino.
O governo indiano foi forçado a admitir que sua estratégia para combater o problema falhou.
"Quaisquer que tenham sido as medidas adotadas nos últimos 40 anos, elas não tiveram nenhum impacto sobre os números", disse o ministro da Fazenda do país, G.K. Pillai, após a publicação do relatório do censo.
O primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, qualificou o aborto de fetos do sexo feminino e o infanticídio como uma "vergonha nacional" e pediu que haja uma cruzada para salvar bebês meninas.
O mais conhecido ativista indiano a fazer campanhas sobre o assunto, Sabu George, disse, no entanto, que até o momento o governo não se empenhou verdadeiramente em parar com a prática.
Para George e outros militantes, o declínio no número de meninas se deve, principalmente, à disponibilidade cada vez maior, na Índia, de exames pré-natais para a determinação do sexo do bebê.

Controle da Natalidade
Ele explicou que, até 30 anos atrás, os índices eram "razoáveis". Porém, em 1974, o prestigioso All India Institute of Medical Sciences publicou um estudo que dizia que testes para a determinação do sexo do bebê eram uma benção para as mulheres indianas.
Para o instituto, as mulheres não precisavam mais ter vários bebês para atingir o número certo de filhos homens. A entidade encorajou a determinação e eliminação de fetos do sexo feminino como um instrumento efetivo de controle populacional.
"No final da década de 80, todos os jornais de Nova Déli estavam anunciando ultrassons para a determinação de sexo", disse George.
"Clínicas do Punjab se gabavam de que tinham dez anos de experiência em eliminar meninas e convidavam os pais a visitá-las".
Em 1994, o o Ato Teste de Determinação Pré-Natal tornou abortos para a seleção do sexo ilegais. Em 2004, a lei recebeu uma emenda proibindo a seleção do sexo do bebê mesmo no estágio anterior à concepção.
O aborto de forma geral é permitido até as primeiras 12 semanas de gravidez. O sexo do feto só pode ser determinado por ultrassom após cerca de 14 semanas.
"O que é necessário é uma implementação mais severa da lei", disse Varsha Joshi, diretora de operações do censo em Nova Déli.
Existem hoje na Índia 40 mil clínicas de ultrassom registradas e muitas mais sem registro.
Segundo Joshi, a maioria das famílias envolvidas na prática pertence à classe média indiana, hoje em expansão, e à elite econômica do país. Segundo ela, esses grupos sabem que a tecnologia existe e tem condições de pagar pelo teste e subsequente aborto.
"Temos de adotar medidas efetivas para controlar a promoção da determinação do sexo pela comunidade médica. E abrir processos contra médicos que fazem isso", disse o ativista Sabu George.
"Caso contrário, temos medo de pensar em como será a situação em 2021".

Modelo a Ser Seguido?
Alguns Estados indianos, no entanto, vêm criando iniciativas que podem, talvez, servir de modelo para os demais.
É o caso do Estado de Bihar, onde famílias de baixa renda estão participando do Esquema de Proteção da Menina.
Como parte do programa, o Estado investe duas mil rúpias (cerca de R$ 70) em um fundo aberto no nome da criança. O dinheiro cresce ao longo da vida da menina. Quando ela completa 18 anos, segundo as autoridades, o fundo vale dez vezes mais e pode ser usado para pagar pelo casamento ou pela educação universitária da menina.
O programa está disponível apenas para os que vivem abaixo da linha da pobreza e cada família pode registrar apenas duas filhas.
A iniciativa, anunciada em novembro de 2007, é parte de um plano do governo para tornar bebês meninas desejadas e, ao mesmo tempo, tornar atraente a ideia de uma família pequena.
Infelizmente, o programa não pode ajudar Anushka, o "bebê milagre". Sua mãe é analfabeta e ela não tem certidão de nascimento, então não pode participar do esquema.

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