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domingo, 15 de maio de 2011

Doar dentes poderá ajudar pacientes com doenças que não têm cura



Márcia Maria Cruz - Estado de Minas
Publicação: 15/05/2011 09:45Atualização:

Os pais Mário de Castro e Lídia Procópio ensiam a filha Sofia a importância da higienização dos dentes, o que ela faz pelo menos três por dia (Marcos Vieira/EM/D.A Press
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Os pais Mário de Castro e Lídia Procópio ensiam a filha Sofia a importância da higienização dos dentes, o que ela faz pelo menos três por dia
As células-tronco, que podem ser a chave para a cura de dezenas de doenças, são encontradas na polpa dos dentes de leite. As pesquisas estão em andamento, mas trata-se de uma possibilidade promissora, dada a facilidade e os baixos custos para consegui-las. “Como os resultados das novas pesquisas estão sendo muito favoráveis, pode ser que, no futuro, esse tipo de coleta nas universidades seja aberta a doadores voluntários”, comenta Dóris Rocha Ruiz, uma das autoras do livro O "troca-troca" dos dentinhos, da Santos Editora.

Na obra, as autoras mostram para as crianças a importância da doação dos dentes de leite, um gesto simples, mas que pode ser extremamente importante para o desenvolvimento da ciência e, futuramente, para a vida de pessoas que sofrem com doenças que não têm cura, como a tetraplegia. A autora ressalta que por enquanto o uso das células-tronco obtidas a partir de dentes de leite está restrito às pesquisas nas universidades e os dentes de leite são coletados no local onde a pesquisa está sendo realizada.

Embora o uso de dentes de leite em pesquisas genéticas seja bem novo, a jornalista Lídia Procópio, de 37 anos, ia conversar com a filha Sofia de Castro, de 7, para doá-los. A menina começou a trocar a dentição no ano passado e guarda os dentinhos que caíram em uma caixinha no formato de um dente. Quando o primeiro dente caiu, Sofia sem querer o cuspiu e ele passou pelo ralo da pia. Diante da importância simbólica do momento, o pai da menina, o engenheiro Mário de Castro, de 41, não poupou esforços para recuperar o dentinho. “Ele tirou o sifão da pia e conseguiu achá-lo. Era o primeiro e não podia, literalmente, ir por água abaixo”, lembra Lídia. O cuidado com os dentes ´é parte da rotina da menina, que faz a higienização pelo menos três vezes ao dia.

Os dentinhos de Sofia não podem mais ser usados na pesquisa de células-tronco, mas podem ir para o Banco de Dentes Humanos. No livro, Dóris também fala da importância da doação dos dentes de leite para esse tipo de banco. “Os dentes que amoleceram e caíram naturalmente ou que foram extraídos pelo dentista podem ser reutilizados nas faculdades de odontologia para ensino e pesquisa”, comenta.

A doutoranda em odontopediatria Karla Mayra Rezende lembra que as células-tronco encontradas na polpa dos dentes de leite podem se transformar em outras células capazes de formar dentina, substância do dente, bem como osso, cartilagem, vasos sanguíneos e até neurônios. O dente é formado por esmalte, dentina e polpa. Na Universidade de São Paulo (USP), as pesquisas estão sendo realizadas com cobaias e os resultados são bastante promissores. “Estimamos que em cinco a 10 anos as células-tronco poderão ser usadas em humanos”, avalia.

Como a célula-tronco está na polpa do dente, é necessário tomar uma série de cuidados para que a doação seja efetiva. Ao cair, o dente deve ser colocado em uma solução que permita a cultura de células. Em casa, pode ser usado o soro fisiológico. “O dente que caiu deve ser colocado na solução e levado para o laboratório”, ensina. O prazo máximo é de 24 horas. Depois desse tempo as células morrem. Mesmo assim, os dentes de leite continuam sendo importantes para a pesquisa e podem ser encaminhados para os bancos de dente humano, nas faculdades de odontologia. Quem é adulto e tem os dentes de leite guardados ainda pode doá-los para os bancos de dentes humanos.

Multiuso

O banco de células-tronco de dente de leite está sendo criado na Faculdade de Odontologia da USP. As células-tronco podem ser usadas de três maneiras – terapia celular, quando a célula-tronco é colocada no local para se transformar em outra célula; terapia genética, quando é usada para promover uma correção na sequência do DNA; e na engenharia tecidual, quando contribuem para a formação de novos tecidos e órgãos, como, por exemplo, as células-tronco usadas para formação de um outro dente.

Quando os primeiros bancos surgiram, os dentes de leite eram reaproveitados como material de restauração. Atualmente, todas as faculdades de odontologia contam com tais bancos para a pesquisa e treinamento laboratorial dos estudantes. São chamados biobancos, pois armazenam dentes de leite (descidos) e permanentes, que depois de extraídos são doados. “Às vezes, a mãe tem o dentinho guardado por um ano. É bom saber que ele pode ter outro tipo de uso”, diz José Carlos Pettrossi Imparato, coordenador do Banco de Dentes Humanos da Faculdade de Odontologia da USP.

Quando o dente fica anos guardado, ele desidrata e, por isso, costuma ter algumas fissuras. Mesmo nesse estado, José Carlos ressalta que a doação é bem-vinda. O próximo passo será a criação de um Museu de Dentes Humanos, que deve ser inaugurado em São Paulo no semestre que vem.

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CEBID - Centro de Estudos em Biodireito

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